Os boletins divulgados até o fechamento desta edição pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de Honduras indicam um empate técnico entre Nasry “Tito” Asfura (Partido Nacional) e Salvador Nasralla (Partido Liberal), com diferença 515 votos. Diante da proximidade entre os concorrentes, já está em avaliação a possibilidade de recontagem voto a voto, segundo interlocutores do próprio órgão eleitoral.
A candidata apoiada pelo governo, Rixi Moncada (Libre), permanece em um terceiro lugar distante. As eleições hondurenhas possuem turno único.
Evolução da apuração
A primeira divulgação oficial ocorreu na noite de domingo (30), quando estavam processadas 6.559 atas de um total de 19.152, o equivalente a 34,25% do total. Nesse boletim inicial, os votos estavam distribuídos da seguinte forma: Asfura, 530.073 votos; Nasralla, 506.316; Moncada, 255.972. Os demais candidatos somavam números residuais.
Ao longo da manhã e tarde de segunda-feira (1º), o CNE realizou novas atualizações, uma delas com 53,1% das atas transmitidas, cifra que reduzira a diferença inicial entre os dois candidatos da direita para apenas 4.176 votos, com Asfura registrando 735.703 votos (40,00%) e Nasralla, 731.527 (39,78%).
Mais tarde, o órgão divulgou outra atualização, desta vez com 57% das urnas apuradas, quando a distância entre ambos atingiu seu menor ponto até então: 515 votos. A presidente do CNE, Ana Paola Hall García, pediu “paciência e prudência” enquanto o sistema concluía a transmissão de todas as atas, em meio a problemas de instabilidade no portal oficial.
Em todas as atualizações, Moncada manteve-se na faixa de 19% dos votos, consolidando-se em terceiro.
Denúncia de golpe
Enquanto os números oscilavam ao longo do dia, o Partido Liberdade e Refundação (Libre), da presidente Xiomara Castro, denunciou tentativa de golpe. A acusação foi feita antes mesmo da divulgação do primeiro boletim, quando a candidata Rixi Moncada e a presidente hondurenhas afirmaram que o Sistema de Transmissão de Resultados Preliminares (Trep) havia sido invadido.
Segundo o partido, havia uma operação destinada a bloquear a transmissão das atas provenientes de regiões onde o Libre possui base eleitoral mais expressiva. As dirigentes afirmaram que se tratava de uma “mão negra”, acusando adversários de preparar uma manipulação para permitir que outro partido declarasse vitória enquanto os votos governistas ainda não apareciam no sistema.
A acusação ganhou força com a divulgação de áudios vazados, citados publicamente pelo Procurador-Geral Johel Zelaya, que indicariam um complô para interferir na ordem de chegada dos dados. Para o Libre, isso explicaria os atrasos e instabilidades registrados pelos técnicos desde o início da noite eleitoral.
Diante do quadro, Moncada chamou a população a permanecer “em pé de luta até que 100% das atas sejam processadas”, afirmando que sua equipe não reconheceria nenhum boletim parcial. Uma coletiva foi convocada para a próxima segunda-feira (8), quando o partido deve detalhar sua posição oficial.
Segundo levantamento feito pelo Diário Causa Operária (DCO), mais de 1,4 milhão de votos ainda precisam ser apurados. Nesse sentido, a candidata do governo ainda possui possibilidade de vitória, embora improvável.
Trump declara favorito
O processo eleitoral também foi marcado pela participação direta do presidente norte-americano Donald Trump, que se envolveu na disputa de maneira pública. Durante a campanha, Trump declarou apoio explícito a Nasry Asfura, classificou Salvador Nasralla como “quase comunista” e afirmou que Rixi Moncada transformaria o país em “outra Venezuela”. Dois dias antes da votação, divulgou um vídeo pedindo que o “povo hondurenho apoiasse Asfura”.
Trump também anunciou que concederia indulto ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, condenado por narcotráfico nos Estados Unidos. O comunicado também foi no sentido de apoiar Asfura, que, assim como Hernández, é do Partido Nacional.
Dirigentes da oposição afirmaram que o pronunciamento de Trump influenciou o comportamento de parte do eleitorado. O Partido Libre classificou a atuação de Trump como uma interferência “sem precedentes”.
Situação atual
Honduras encerra o segundo dia de apuração com uma disputa indefinida entre dois candidatos da direita tradicional, enquanto a candidata governista permanece afastada das primeiras posições. A diferença mínima entre Asfura e Nasralla abriu a possibilidade de recontagem, ao mesmo tempo em que crescem as denúncias de fraude feitas pelo partido de Xiomara Castro.
Com metade das atas transmitidas, instabilidade no sistema oficial e denúncias de fraude, o processo eleitoral segue sem desfecho e pode se prolongar por várias semanas. O CNE possui até o final de dezembro para declarar o vencedor oficial.





