No final do mês de novembro vazou para a imprensa o OPLAN DEU (Plano Operacional Alemanha) um plano militar estratégico da Alemanha para defesa contra um suposto ataque russo. É um documento longo (1.200 páginas), elaborado pelo governo alemão que, segundo informações da imprensa, foi desenvolvido ao longo de dois anos e meio por oficiais de alto escalão do exército alemão. O objetivo do plano é preparar o país para um “possível” ataque da Rússia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) até 2029. O documento detalha aspectos como: Mobilização de até 800 mil tropas da OTAN (alemãs, americanas e de outros países); logística para movimentar essas tropas através do território alemão até a linha de frente; infraestrutura militar: transformação de rodovias em pistas de pouso, construção rápida de bases militares; cadeias de suprimentos e medidas de proteção.
Segundo as autoridades alemãs, a Rússia neste momento seria um “risco existencial” para a Europa. Nessa interpretação, o Kremlin estaria reestruturando seus sistemas industriais para deflagrar um conflito em larga escala contra a OTAN até o final desta década. Por isso, o objetivo estratégico principal do plano alemão seria o de defesa preventiva, funcionando como instrumento de dissuasão. Ou seja, ao se construir uma capacidade de forte resposta a Rússia, esta seria desestimulada a atacar.
O plano prevê mudanças radicais na infraestrutura alemã, como conversão de estradas em pistas de pouso para aviões de grande porte, tanques subterrâneos de combustível pré-instalados, estruturas para montagem rápida de torres de controle aéreo e outras ferramentas para situações de guerra. O documento traz também o mapeamento de portos do Mar do Norte e Báltico, mapeamento de ferrovias, rios e canais para transporte de tropas e assim por diante.
São conhecidas as limitações da Alemanha, e da Europa em geral, para enfrentar uma guerra contra a maior potência nuclear do planeta. O crescimento acumulado da economia alemã nos últimos três anos chega à 0,5%, desempenho inferior à média da Eurozona (1,5% a 2,0%). Os custos de energia, que antes da guerra na Ucrânia, era um dos fatores de sucesso da manufatura alemã, triplicaram, causando desaceleração da indústria e, mesmo, desindustrialização. A Alemanha importava 55% do gás que necessitava da Rússia em 2022, percentual que caiu para menos de 20%. O país está importando o produto principalmente da Noruega, EUA e Argélia, a preços muito superiores, o que explica, em boa parte, a produção industrial negativa da Alemanha nos últimos três anos.
O apoio à defesa do país é alto, até por conta da “russofobia” que tomou conta da Europa, em todos os planos, principalmente a partir da guerra na Ucrânia. Acontece que os jovens não estão dispostos a morrer em uma guerra que não interessa à Europa, especialmente com a Rússia, que tem hoje o exército mais eficiente do mundo. Que, aliás, já ganhou a guerra na Ucrânia, faltando apenas formalizar. A Alemanha tem exército profissional voluntário desde 1973, abolindo o alistamento obrigatório. Uma parte da população apoia as iniciativas de defesa, mas não quer se alistar para lutar ou enviar o seu filho para morrer na frente de batalha. O governo alemão vem discutindo a possibilidade de reintroduzir o recrutamento obrigatório.
O vazamento do OPLAN DEU, não é um acontecimento aleatório, mas se insere em um contexto geral. A iniciativa dos oficiais alemães, não parece ser algo casual, surgido da cabeça desses militares, sem mais nem menos. Existe grande probabilidade, inclusive, de ter sido as agências de inteligência americanas que vazaram o documento. Tudo indica que a ação da Alemanha, é uma peça de um tabuleiro mais amplo: para enfrentar a crise inédita do sistema capitalista a nível internacional, o imperialismo precisa fazer uma guerra contra os principais inimigos e estabelecer condições melhores para sua dominação mundial. Determinados estados nacionais se organizaram contra o imperialismo, com soberania e em defesa dos seus interesses, o que, em um contexto de crise persistente, coloca os interesses imperialistas em grande risco.
Os sinais de que o imperialismo resolveu dobrar a aposta são vários, e aparecem em todas as regiões. Na América Latina intensificaram a política de golpes de Estado. Quando os golpes não dão certo, eles enviam diretamente seus porta-aviões para as proximidades do país rebelde, como estamos assistindo na agressão à Venezuela (de resto, à toda a América do Sul).
Nesse momento, o que eles pretendem, no terreno internacional, é construir as condições para um confronto. Os EUA podiam fazer um acordo, por exemplo, com Rússia e China, de cooperação internacional, nas várias áreas. Ambos os países desejariam muito isso, desde que em condições de ganha-ganha, pois não querem a guerra. Mas o imperialismo não quer fazer qualquer concessão, porque isso iria fortalecer os seus inimigos, e, dadas as condições econômicas atuais, seria um perigo mortal para a existência do imperialismo.
Na Europa, o grupo de fanáticos que clama dia e noite por uma guerra vem alertando que os russos, após vencer a Ucrânia, irão atacar todos os países do continente. Comentaristas de TV, grandes jornais, generais que nunca entraram em combate, ficam repetindo o tempo todo que é uma questão de tempo, para os russos invadirem os principais países da Europa. Curiosamente, não há nenhuma movimentação da Rússia nesse sentido e as autoridades da Rússia nunca falaram qualquer coisa nesse sentido, muito pelo contrário. O problema é que há uma censura em relação ao tema, ou seja, as vozes que falam a verdade, foram “canceladas” dos grandes meios de comunicação. Ou seja, estão construindo um processo de preparação da população para a guerra.
Recentemente, o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da França, General Fabien Mandon, afirmou que “A França deve estar preparada para aceitar perder seus filhos.”. Apesar da enorme reação que essa manifestação gerou no país, o governo Macron apoiou a fala do General. Esse tipo de retórica belicista visa preparar a população para um enfrentamento. Para onde quer se olhe, parece, fora de dúvidas, que o imperialismo não irá enfrentar a sua crise econômica e de hegemonia com uma postura conciliadora, aceitando as mudanças, aceitando um mundo multipolar ou coisa que o valha.





