No ato realizado neste domingo (30), na Casa de Portugal, em São Paulo, em homenagem à dirigente Natália Braga Costa Pimenta, foi lida uma carta enviada de dentro da prisão pelo médico obstetra e colunista do Diário Causa Operária Ricardo Herbert Jones, o Ric Jones. O texto, endereçado ao presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, foi escrito da unidade prisional onde o militante cumpre prisão arbitrária desde junho.
A íntegra da carta lida no ato é a seguinte:
“Caro Rui
Tomei conhecimento do falecimento da Natália pela visita que recebi da minha filha, e fui tomado de uma tristeza muito intensa. Esse tipo de notícia sempre abala quem teve a oportunidade de passar pela aventura da paternidade nesta vida. Temos idades semelhantes, e minha filha Isabel tem a mesma idade da sua Natália. Por certo que não é possível entender por completo esta dor, mas posso entender o quanto esta passagem precoce pode trazer de sofrimento. De toda maneira, espero que toda sua família e aqueles que amaram — e continuam amando — Natália possam suportar esta perda com o otimismo e fervor revolucionário que ela sempre irradiou.
Aqui do meu “retiro” continuo acompanhando as notícias do partido e as movimentações. Espero em breve voltar ao convívio da família e o contato com os companheiros. Que você e sua esposa possam reunir a força necessária para manter a alma forte e o trabalho tão importante que fazem para o nosso país.
Um abraço fraterno
Ricardo Jones
Ric”
A carta foi recebida pelos presentes em meio às diversas homenagens à dirigente, cuja trajetória de quase três décadas no partido foi relembrada ao longo de toda a atividade.

O caso de Ric Jones
Ric Jones foi preso em 26 de junho, após decisão judicial que determinou a execução imediata de uma pena de 14 anos, mesmo sem trânsito em julgado, procedimento imposto pelo STF em contrariedade ao artigo 5.º da Constituição, que garante a presunção de inocência. O obstetra é referência nacional no parto humanizado, com mais de dois mil partos acompanhados.
O caso utilizado para justificar a condenação envolve um parto domiciliar em que o bebê faleceu 24 horas depois, já no hospital, por pneumonia congênita. Conforme registrado em prontuário pela equipe hospitalar, o recém-nascido recebeu óxido nítrico vencido havia mais de 30 dias, o que impossibilitava o monitoramento adequado. Mesmo assim, a equipe aumentou a dose do gás, conduta descrita nos autos como “extremamente temerária”. Não há qualquer elemento técnico que relacione o atendimento prestado por Jones ao desfecho.
O obstetra já havia sofrido perseguição anterior, tendo seu registro cassado em 2016.
Mensagens enviadas antes da prisão
Horas antes de se apresentar, Jones publicou mensagens ressaltando que não deixaria o país: “não vou fugir, me refugiar, sair correndo, pedir asilo ou coisas do tipo, porque ficar longe da família seria uma prisão muito mais dura de suportar. Acho que ficar preso vai ajudar na conscientização de nossas lutas”.
Em outra ocasião, afirmou: “guardem essa minha carinha aí. Não há porque se desesperar, esmorecer ou baixar a cabeça. A humanização do nascimento e a autonomia das mulheres sobre seus partos e seus corpos é a luta de uma geração”.
Jones atua há anos ao lado da esposa, a enfermeira obstétrica e militante Zeza Jones, na defesa do parto humanizado, participando de debate promovido pelo Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo, transmitido pela TV Mulheres.




