O artigo O pacto que iludiu a família e ajudou a levar Bolsonaro para a cadeia, de Moisés Mendes, publicado no Brasil 247 neste domingo (30), se perde nas superficialidades e na mania de tratar Bolsonaro e bolsonaristas como se não passassem de pessoas burras. Com isso, o essencial, aquilo que realmente interessa na análise política, fica de fora.
Abaixo, reproduziremos os dois primeiros parágrafos do texto que dizem o seguinte:
A família Bolsonaro tinha um acordo de pai e filhos, fechado antes da eleição de 2018, que foi assim resumido por Eduardo em entrevista ao Globo:
“A gente fez um pacto. A gente não vai para a cadeia. A gente não vai cair na mão do Sergio Moro nem da Lava-Jato”.
Como se viu, havia muita ingenuidade nos Bolsonaros. Essa gente olhou para Sérgio Moro e não conseguiu enxergar as forças que manipulavam os fios que moviam o juiz e a Lava-Jato. Tanto é assim, que “Eduardo [Bolsonaro] fugiu para os Estados Unidos e [Jair] Bolsonaro está preso”.
É possível que “os Bolsonaros tinham certeza de que ficariam para sempre no Planalto”, essa crença está respaldada pelo enorme capital político que adquiriram com a polarização política no Brasil. Mas a tal permanência só seria possível se estivesse nos planos do grande capital, que já demonstrou que precisa na presidência de alguém que seja fortemente neoliberal e que seja fácil de manipular. Dito de outra maneira, precisa de um candidato que não tenha uma base eleitoral pressionando.
Eduardo Bolsonaro teria pedido “desculpas por ter dito um dia que um soldado e um cabo, sem jipe, fechariam o Supremo. E que o pai iria maneirar na retórica quando tomasse posse, porque falaria ‘em tom de união’”.
O que o deputado não tinha entendido é que os fios que manipularam a Lava-Jato são os mesmos que movimentam o STF, o jipe e o soldado. Nunca foi preciso fechar essa corte. Ela foi servil em 1964, bem como em 2016.
Quem manda
Segundo Moisés Mendes, “no governo, o Bolsonaro moderado nunca existiu, e o pedido de desculpas de Eduardo pelas declarações golpistas contra o Supremo nunca valeu nada”. Sim, Bolsonaro era difícil de controlar, eis um dos motivos para que o imperialismo o quisesse fora do Planalto.
O fato de Jair Bolsonaro ter esse capital político o obrigava a ter de responder às exigências de sua base. Não foi por menos que subsidiou combustível para caminhoneiros e taxistas; deu vale-gás. Elevou o Bolsa Família para R$600 e aumentou a faixa de cobertura, incluindo milhões de famílias em uma fila de espera.
Por mais que Bolsonaro quisesse fazer, e fez, concessões à burguesia, teve que ceder para sua base, o que resulta em menos dinheiro para o andar de cima, os parasitas.
Conclusões inconclusivas
Lê-se no artigo que “estamos diante de um final ainda em elaboração para todos os personagens de 2018. Sabendo que o pacto da família quase deu certo, pela leniência do sistema de Justiça, pelo acovardamento da grande imprensa e pelos conluios deles todos com o Congresso e os militares”.
O “sistema de Justiça” agiu de acordo com as exigências do imperialismo e seus sócios no Brasil, deu o golpe em Dilma Rousseff e prendeu Lula. Agora mandou Bolsonaro para a cadeia na tentativa de conseguir um acordo: que este apoie o candidato do grande capital à presidência.
Motivos
Moisés Mendes diz que “o pai [Jair Bolsonaro] foi o primeiro engolido pelo fracasso do pacto e está preso como chefe de uma organização criminosa por culpa também da incompetência e da arrogância dos filhos. Eles se achavam inalcançáveis”. Mas o que isso não tem nada a ver com pactos ou incompetências, e sim com interesses de setores muito poderosos da burguesia.
Segundo o jornalista, “o exaltado pacto de 2018, em meio à euforia da vitória, enganou os Bolsonaros com a ilusão de que, por serem assumidamente fascistas, seriam criminosos invencíveis”. Ocorre que a burguesia nunca teve problemas em apoiar fascistas e criminosos. Quantos golpes de Estado tivemos pelo mundo desde o final da Segunda Guerra Mundial? Quantos fascistas não tiveram apoio completo das “democracias”, do “mundo civilizado”?
Finalizando, Mendes afirma que “os Bolsonaros cometeram o erro de alardear que a Justiça nunca iria alcançá-los”. O erro, na verdade, é alguém acreditar que o Judiciário tenha algo a ver com a Justiça. As leis, a Constituição, não estão valendo nada.
A esquerda pequeno-burguesa tem exaltado a Justiça, o que é o mesmo que fechar os olhos para a realidade, para tudo o que tem acontecido, especialmente de 2016 para cá.
O que essa gente se nega a ver é que o Judiciário não é amigo da esquerda. Tudo aquilo que foi feito há menos de dez anos pode muito bem se repetir. Vale salientar que o regime tem se fechado a passos firmes.
Confiar na Justiça no Brasil é pedir para ser traído. Há inúmeros setores da esquerda acreditando que a prisão de Bolsonaro é sintoma de um determinado amadurecimento da “democracia brasileira”. Mas como pode amadurecer um fruto que nunca existiu de fato?
Eduardo Bolsonaro pode ter sido um ingênuo, mas aqueles que acreditam no Judiciário, em uma instituição do Estado burguês, são ainda piores.





