O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no sábado (29) o “fechamento total” do espaço aéreo sobre e ao redor da Venezuela. A declaração foi publicada na plataforma Truth Social, orientando companhias aéreas a tratarem o espaço aéreo venezuelano como “completamente fechado” sob o argumento de combate ao narcotráfico e ao tráfico de pessoas.
A medida coincide com o reforço da presença militar norte-americana no Caribe. Em Trinidade e Tobago, o governo local autorizou a instalação de um radar militar dos EUA na ilha de Tobago, localizada a poucas milhas da costa venezuelana. O líder da oposição parlamentar trinitária, Marvin Gonzales, acusou a primeira-ministra Persad-Bissessar de ser “uma mentirosa patológica” ao negar anteriormente que Trinidade serviria de plataforma para ações militares.
Moradores da ilha relataram a presença contínua de infantes de Marina dos EUA em hotéis, enquanto registros de rastreamento confirmam aterrissagens de aeronaves militares e exercícios conjuntos com a Força de Defesa local. A Bloomberg também informou a detecção de uma “parede invisível de ruído eletromagnético” sobre o Caribe nas últimas semanas, coincidindo com o envio do porta-aviões Gerald Ford, o maior navio militar norte-americano, à região.
Segundo Caracas, as justificativas sobre narcotráfico servem como cobertura para uma política de pressão com o objetivo de forçar a derrubada do governo venezuelano e facilitar o controle sobre as reservas de petróleo, gás e ouro do país.
Confira, abaixo, a nota emitida pelo governo venezuelano na íntegra:
A Venezuela denuncia e condena a ameaça colonialista que pretende afetar a soberania de seu espaço aéreo, constituindo esta uma nova agressão extravagante, ilegal e injustificada contra o povo da Venezuela.
A República Bolivariana da Venezuela repudia com absoluta contundência a mensagem pública difundida hoje nas redes sociais pelo presidente dos Estados Unidos, na qual pretende aplicar extraterritorialmente a ilegítima jurisdição dos EUA na Venezuela ao insolentemente tentar emitir ordens e ameaçar a soberania do espaço aéreo nacional, a integridade territorial, a segurança aeronáutica e a soberania plena do Estado venezuelano.
Esse tipo de declaração constitui um ato hostil, unilateral e arbitrário, incompatível com os princípios mais elementares do Direito Internacional e que se inscreve em uma política permanente de agressão contra nosso país, com pretensões coloniais sobre nossa região da América Latina e Caribe, negando o Direito Internacional.
A Venezuela denuncia perante o mundo que tais afirmações representam uma ameaça explícita de uso da força, proibida de forma clara e inequívoca pelo Artigo 2, numeral 4, da Carta das Nações Unidas.
Da mesma forma, esta tentativa de intimidação viola o Artigo 1 da referida Carta, que estabelece como propósito fundamental a manutenção da paz e da segurança internacionais.
A Venezuela exige respeito irrestrito ao seu espaço aéreo, protegido pelas normas da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) e reafirmado no Convênio de Chicago de 1944, cujo Artigo 1 reconhece de maneira categórica que “cada Estado tem soberania exclusiva e absoluta sobre o espaço aéreo que abrange seu território”.
O Governo Bolivariano adverte que a Venezuela não aceitará ordens, ameaças nem ingerências provenientes de qualquer poder estrangeiro. Nenhuma autoridade alheia à institucionalidade venezuelana tem faculdade para interferir, bloquear ou condicionar o uso do espaço aéreo nacional.
Por meio dessa ação, o governo dos Estados Unidos suspendeu, de forma unilateral, os voos de repatriação de venezuelanos que regularmente e semanalmente vinham sendo realizados no marco do Plano Volta à Pátria. Até o momento, foram realizados 75 voos que resultaram na repatriação de 13.956 migrantes venezuelanas e venezuelanos, recebidos com amor e absoluta solidariedade.
Fazemos um chamado direto à comunidade internacional, aos governos soberanos do mundo, à ONU e aos organismos multilaterais correspondentes, para que rejeitem com firmeza este ato de agressão imoral, que equivale a uma ameaça contra a soberania e a segurança de nossa Pátria, do Caribe e do norte da América do Sul.
A Venezuela saberá responder com dignidade, com legalidade e com toda a força que outorgam o direito internacional e o espírito anti-imperialista do nosso povo.
A Venezuela seguirá exercendo plenamente sua soberania protegida pelo Direito Internacional em todo o seu espaço aéreo. Toda ameaça contra a Venezuela é uma ameaça contra a paz continental e contra nossos povos, herdeiros do Libertador Simón Bolívar, que vencerão.
Caracas, 29 de novembro de 2025
EUA anunciam preparação de ofensiva terrestre
Dois dias antes do anúncio do fechamento do espaço aéreo, Trump declarou, durante uma ligação de Ação de Graças com militares norte-americanos, que os EUA preparam “novas medidas” contra grupos supostamente vinculados ao tráfico de drogas na Venezuela.
Segundo o republicano, as operações terrestres seriam “mais simples” que as navais e devem começar “muito em breve”. Ele afirmou que cerca de 85% das tentativas de transporte marítimo teriam sido interceptadas e dirigiu-se diretamente aos grupos acusados, dizendo: “parem de enviar veneno para o nosso país”.
Trump voltou a associar o governo venezuelano ao chamado “Cartel de los Soles”, acusação reiterada pelos Estados Unidos, mas recusada por Caracas. O presidente Nicolás Maduro, em recentes aparições públicas, pediu paz e disse que a Venezuela “não será derrotada”.





