No artigo Bolsonaro aposta na vitimização para se manter vivo, o articulista Gustavo Tapioca, do Brasil 247, é uma apologia ao alinhamento da esquerda com o Estado Policial. A tentativa de traçar um contraste moral entre o “estadista” Lula e o “agitador” Bolsonaro, para justificar o escárnio dirigido a este último por protestar contra a violação de seus direitos, é o ponto central da desonestidade intelectual aqui apresentada.
O autor enaltece Lula por ter recusado a tornozeleira em 2018, classificando sua atitude como um ato de “dignidade” e “não submissão à lógica da Lava Jato”, um processo que o Supremo Tribunal Federal (STF) viria a reconhecer como viciado. Aplaudir Lula por rejeitar um processo judicial visto como político e, ao mesmo tempo, zombar de Bolsonaro por fazer o mesmo – protestar contra o que ele e seus apoiadores veem como uma perseguição política orquestrada pelo Sistema e pelo Judiciário – revela uma hipocrisia conveniente. Se Lula tinha o direito de recusar uma humilhação indireta de um processo viciado, Bolsonaro não perde o direito de ter suas garantias constitucionais respeitadas e de protestar contra uma prisão preventiva que ele considera arbitrária, mesmo que seja um adversário político. O princípio fundamental do Estado de Direito é que a legalidade e a garantia de direitos devem ser inabaláveis, independentemente de quem seja a vítima.
A defesa do Estado não é o Estado de Direito, é a ditadura contra a população.
O artigo reconhece que a estratégia da extrema direita é transformar Bolsonaro no “mito, impedido pelo Sistema”, alertando que “a vitimização de um mártir pode convulsionar o cenário político”. No entanto, ele falha em reconhecer que a munição para esse discurso está sendo fornecida pelo próprio Estado, com o apoio tácito da esquerda. A esquerda, que sempre foi a principal vítima histórica do autoritarismo e da repressão estatal, está endossando o uso de mecanismos de exceção. A defesa intransigente das garantias fundamentais não é uma gentileza ao inimigo; é a única proteção que a sociedade tem contra a tirania. Ao aplaudir o uso de medidas que ilegais contra Bolsonaro, a esquerda está legitimando o precedente que, na próxima guinada política, poderá ser usado contra qualquer um de seus próprios líderes ou movimentos.





