Revolta da Chibata

115 anos do levante que colocou a República de joelhos

"Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá"

Às 22h do dia 22 de novembro de 1910, soou, como de costume, a corneta no Minas Geraes, poderoso navio da Marinha do Brasil, estacionado na Baía de Guanabara, porém, essa não solicitava silêncio, como de praxe, mas anuncia a revolta dos marinheiros contra a chibata e as condições degradantes impostas pelo instituição militar. De fato, havia tempos que marinheiros planejavam secretamente uma revolta contra o oficialato devido aos castigos físicos e a condição degradante dos praças.

Pesados castigos

A jovem república brasileira não ouviu os apelos daqueles que sofriam nos conveses, estes tiveram de se fazer ouvir. O planejamento da revolva teve, contudo, de ser adiantada, no mesmo dia 22, um marinheiro negro, Marcelino Rodrigues Menezes, sofreu castigo monstruoso, mais de uma centena de chibatas. Na Marinha, assim como nas Forças Armadas em geral, muitos adolescentes negros suspeitos de infração ou pobres das cidades eram recrutados para servirem quase como escravos. Os oficiais dos navios eram quase todos brancos, enquanto as tripulações eram pesadamente pretas ou, em menor grau, mulatas.

Estabeleceu-se um soldo baixíssimo e punições físicas cruéis para manter a disciplina e a opressão. A lei republicana em 1889 proibiu a prática, mas foi revogada um ano depois por desobediência generalizada nos navios. Contudo, a punição física ficaria restrita a uma Companhia Correcional, criada com o propósito de “submeter a um regime de disciplina especial os praças que forem de má conduta habitual e punir faltas em casos que não exijam conselho de guerra”, A prática brutal permanecia generalizada, onde o oficial branco punia os praças pretos, mulatos e outros com chibatadas quando julgavam necessário para corrigir uma falta qualquer.

Rebelião

A situação chegou ao limite, os marinheiros tomaram o navio Minas Geraes na noite de 22 de novembro, matando parte dos oficiais que tentaram conter o movimento. O capitão do navio, João Batista das Neves, foi morto no combate, juntamente com vários tripulantes leais, os marinheiros tomaram conta do navio e sinalizaram para outros que a revolta começara. Juntaram-se ao Encouraçado Minas Gerais, Encouraçado São Paulo, Encouraçado Deodoro e Cruzador Bahia. Cerca de 2000 marinheiros se levantaram contra a chibata e a opressão.

O “almirante negro”

Nos acontecimentos mais grandiosos, surgem as pessoas a altura para liderá-los, e nesse caso não foi diferente. O marinheiro negro João Cândido Felisberto, o “almirante negro”, como ficou conhecido, liderou os revoltosos com maestria e brilhantismo, levando a uma vitória sobre todo o regime político, embora traídos posteriormente.

No mesmo dia 22, João Cândido em nome da revolta mandou uma mensagem para uma rádio do morro da Babilônia afirmando: “não queremos a volta da chibata. Isso pedimos ao Presidente e ao Ministro da Marinha. Queremos uma resposta já e já. Caso contrário, bombardearemos a cidade e os navios que não se revoltarem. Guarnições do Minas, São Paulo, Bahia”.

Prazo de 12h

Antes da meia-noite, uma carta ao presidente foi enviada, na qual afirmavam:

“Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá; e até então não nos chegou; rompemos o negro véu, que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo […] Reformar o Código Imoral e Vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar o soldo pelos últimos planos do ilustre Senador José Carlos de Carvalho, educar os marinheiros que não tem competência para vestir a orgulhosa farda, mandar pôr em vigor a tabela de serviço diário, que a acompanha. Tem V.Excia. o prazo de 12 horas, para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada…”

O recém-empossado presidente Hermes da Fonseca teve que sair de uma posição de não negociar para a ver aprovação de medidas no Congresso abolindo o castigo físico e de aumento de soldo, assim como votar uma lei de anistia para todos os marinheiros. Isso após os revoltosos bombardearem o Rio de Janeiro e o governo mostrar-se completamente incapaz de atuar contra os navios em revolta. João Cândido e seus marinheiros clocaram a República de joelhos.

A revolta terminou em 26 de novembro, com a lei da anistia e reivindicações atendidas, porém, o governo traiu os marinheiros, perseguindo-os, prendendo-os e assassinado-os após a deposição das armas. Contudo, João Cândido e os marinheiros mostraram como se luta contra a opressão.

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