Em entrevista concedida ao jornal Estado de S. Paulo nesta terça-feira (25), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) elevou o tom das críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e à situação jurídica de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O parlamentar, que se encontra nos Estados Unidos e será julgado pelo STF por coação, declarou que a prisão do ex-presidente é uma tentativa de levá-lo à morte antes das eleições de 2026, forçando um nome que não carregue o sobrenome da família na disputa presidencial.
O deputado afirmou que, no cenário atual, seu retorno ao Brasil se torna “inviável”.
“O meu desejo era estar no Brasil, mas se eu retornar vou ser preso, porque não há segurança nenhuma jurídica no País. O Moraes acabou de prender o presidente Jair Bolsonaro. Não tem nenhum nexo, nenhuma relação dele com golpe nenhum. Nesse cenário, fica inviável o meu retorno ao País, ao menos neste momento.”
Jair Bolsonaro iniciou nesta terça-feira (25) o cumprimento da pena de 27 anos e três meses de prisão por “tentativa de golpe de Estado”, permanecendo em uma cela especial da Superintendência Regional da Polícia Federal em Brasília. A prisão preventiva, que se converteu em cumprimento de pena, ocorreu no sábado (22).
Eduardo Bolsonaro atribuiu a responsabilidade pela condição do pai diretamente a Moraes, afirmando que a situação não é mais jurídica.
“Quem tem responsabilidade nisso é o Moraes. Absolutamente nenhum bandido do Brasil está com tornozeleira eletrônica 24 horas por dia, policiais ao redor da sua casa. Moraes quer humilhar, pressionar, torturar psicologicamente,” acusou.
Continuando sua crítica, Eduardo declarou:
“A intenção do Moraes é assassinar o Bolsonaro. Eles pressionaram ao máximo, ameaçaram para que o Bolsonaro indicasse um sucessor que fosse do gosto de Alexandre de Moraes. O Bolsonaro, valentemente, se recusou a fazê-lo… Então, o Moraes agora está apelando para ver se consegue matar o Bolsonaro antes da eleição de 2026.”
O deputado sugeriu que o “sucessor do gosto de Moraes” seria “qualquer um que não levasse o sobrenome Bolsonaro, que não fosse identificado com o movimento bolsonarista”. Ao ser questionado se o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se encaixaria nesse perfil, Eduardo respondeu com risos: “aí é você quem está falando”.
A prisão do ex-presidente gerou atritos internos no PL. Em reunião da legenda na segunda-feira (24), foi definido que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) seria o porta-voz do pai. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também cobrou união e pediu que os correligionários cessassem a “lavagem de roupa suja em público”.
Eduardo, contudo, divergiu da linha adotada e defendeu a necessidade de reagir publicamente a atritos públicos, como o que teve com os governadores Mauro Mendes (União Brasil-MT) e Romeu Zema (Novo-MG).
“Eu acredito que muito dessa posição de ‘deixa para lá’, ‘deixa disso’, não resolve o problema… Ficar quieto é a fórmula para chegar aonde nós estamos: uma direita onde não há uma hierarquia, onde cada um trabalha pelo seu próprio projeto de poder. E aí acaba dando margem a esses atritos. Se nós quisermos formar um movimento organizado, toda vez que houver um atrito público, ele tem que ser respondido publicamente,” argumentou.
O deputado também minimizou a nomeação de Flávio como porta-voz e a cobrança de alinhamento com o PL. “Enquanto durar a prisão do Bolsonaro, sempre vai haver essa confusão de quem fala por ele, quem fala, quem não fala”, opinou. Sobre o alinhamento com a sigla, ele foi incisivo:
“Eu devo satisfação ao meu eleitor. O que eu devo ao PL? Ou será que é o PL que deve ao Bolsonaro por ter a maior bancada da Casa? Vamos imaginar Eduardo Bolsonaro em outro partido: será que eu perderia a minha força política? É óbvio que não.”
Ele, no entanto, garantiu o alinhamento com o irmão Flávio, que tem um perfil mais articulador, descrevendo a relação como “aquela dupla de ataque entrosada”.
Apesar dos riscos jurídicos, Eduardo Bolsonaro não descartou uma futura candidatura presidencial, caso seu pai não dispute. Ele se descreveu como um quadro natural para tal:
“Numa democracia normal, uma pessoa de passado limpo igual a mim, advogado, policial federal, uma pessoa que transita bem no cenário internacional, no meio dos conservadores, eu acho que seria natural uma candidatura a presidente.”





