Um novo estudo elaborado pelo Max Planck Institute for Demographic Research e pelo Centre for Demographic Studies apresenta uma nova estimativa sobre o impacto demográfico da guerra de “Israel” contra a Faixa de Gaza. A pesquisa calcula que mais de 78 mil palestinos foram mortos entre sete de outubro de 2023 e 31 de dezembro de 2024. Com a atualização dos dados até 6 de outubro de 2025, o número de mortes diretas ultrapassa 100 mil pessoas.
A investigação se baseia em conjuntos de dados de várias instituições humanitárias — entre elas o Ministério da Saúde de Gaza, B’Tselem, Ocha, Un-Igme e o Palestinian Central Bureau of Statistics. O objetivo foi enfrentar a fragmentação das informações, resultado da destruição massiva das comunicações e da impossibilidade de registrar todos os corpos em meio aos bombardeios contínuos. Segundo os autores, trata-se de um dos colapsos demográficos mais abruptos registrados nas últimas décadas.
A coordenadora da pesquisa, Ana C. Gómez-Ugarte, explicou que as limitações dos dados não podem ser justificativa para ignorar a escala da destruição. “A tensão entre limitações de dados e a demanda por métricas significativas foi o impulso para este estudo. […] Nosso objetivo é estimar a expectativa de vida e as perdas de expectativa de vida causadas pelo conflito em Gaza de uma forma que leve em conta dados incompletos ou escassos”, afirmou.
Para isso, a equipe desenvolveu um método pseudo-bayesiano capaz de compensar duas distorções indispensáveis: a subnotificação de mortes e a inexistência de dados desagregados por idade e sexo. As duas falhas produzem estimativas artificiais para baixo e escondem o impacto real da agressão. O levantamento conclui que a expectativa de vida no território despencou 44% em 2023 e 47% em 2024 — uma perda superior a 34 anos no primeiro ano e a 36 anos no segundo. Essas reduções só encontram paralelos nos genocídios analisados pela Un-Igme.
A pesquisa registra que o padrão de mortalidade atinge todas as faixas etárias e que a redução da expectativa de vida só compreende mortes diretas. Não inclui os óbitos causados pela fome, doenças, desaparecimento de serviços de saneamento, destruição dos hospitais, falta de remédios e ausência de cirurgias e tratamentos básicos — fatores que, em conflitos prolongados, costumam produzir mais vítimas do que os ataques militares.
“Urgência não deve ser pretexto para falta de rigor”, concluiu Gómez-Ugarte, defendendo que a comunidade científica internacional incorpore a incerteza como parte do registro da mortalidade causada pela guerra.
As informações do estudo são confirmadas pelo colapso completo das estruturas civis em Gaza. Segundo o embaixador palestino em Viena, Salah Abdel Shafi, mais de 100 mil pessoas seguem feridas, sendo ao menos 17 mil em necessidade imediata de evacuação médica. Em entrevista à agência russa Ria Novosti, Shafi afirmou que, dos 36 hospitais da Faixa, apenas oito funcionam de forma parcial — todos os outros foram destruídos ou estão inutilizáveis. “há uma escassez aguda de insumos médicos e remédios na Faixa de Gaza”, disse.
O representante também relatou que aproximadamente 80% do território foi devastado e mais de um milhão de palestinos vivem hoje em barracas ou ao ar livre, sem acesso a água potável, saneamento ou alimentação adequada.
Os autores do estudo alertam que a estimativa de mais de 100 mil mortos representa apenas a base verificável da destruição. Com grande parte das áreas densamente povoadas transformadas em escombros e milhares de corpos ainda soterrados, a dimensão real do massacre permanece subestimada.





