O articulista Ruy Castro Meus, da Folha de S.Paulo, publicou, no dia 20 de novembro, uma carta a seus leitores chamada Meus leitores bolsonaristas, no qual diz que “nos últimos anos, desde 2018, dediquei-me a escrever contra Bolsonaro porque, já tendo sobrevivido a 20 presidentes, de Dutra a Lula, incluindo os ditadores, nunca vi maior ameaça ao país que a dele”. O autor, aparentemente, não viveu o governo de Michel Temer (MDB), governo no qual houve o maior risco de um golpe militar nos últimos anos. Também não se preocupa com a alta cúpula das Forças Armadas, que foram responsáveis por garantir a prisão de Lula em 2018 e mantê-lo lá. Também não se preocupa com os banqueiros, responsáveis por uma taxa de juros pornográfica que impede o desenvolvimento nacional.
O grande argumento do autor é que Bolsonaro praticaria uma “corrupção” em um nível superior aos demais governantes.
“Bolsonaro dispor de um procurador-geral cego às suas iniquidades na pandemia era a corrupção da decência e da humanidade. Seus elos imorais com comandantes militares golpistas eram a corrupção do equilíbrio entre Poderes”.
O próprio Partido dos Trabalhadores (PT), durante campanhas eleitorais passadas, acusava Fernando Henrique Cardoso (FHC, do PSDB) de ter nomeado um “arquivador-geral da República”. Isto é, um procurador-geral a serviço de seus interesses pessoais, e não dos interesses do povo brasileiro. Bolsonaro não inovou em nada.
O mesmo vale para Michel Temer. Seu governo cometeu inúmeras ilegalidades e foi acusado sucessivamente de corrupção. A influência de Temer com o aparato judiciário é tão forte que sua prisão no âmbito da Operação Lava Jato foi o ponto de inflexão para que a operação fosse desmanchada. Já Bolsonaro, ao contrário de Temer, foi condenado e se encontra preso.
O autor segue dizendo que, “na democracia, a corrupção pode ser exposta, investigada, levada a júri e à condenação e prisão dos responsáveis”. Ora, mas quando foi que no regime “democrático” brasileiro houve um esforço sério para conter a corrupção? Que investigação foi feita para apurar os processos de privatização dos governos FHC, Temer e Bolsonaro?
A combate à corrupção só apareceu nos últimos tempos com o intuito oposto. Surgiu para derrubar o governo de Dilma Rousseff e destruir a indústria nacional. E, hoje, serve para pavimentar o caminho para um governo de destruição nacional, como o governo de Javier Milei na Argentina.
A ilusão com o “combate à corrupção”é tão grande que o autor diz:
“Meus diletos leitores bolsonaristas podem sossegar. Assim que Bolsonaro estiver atrás das grades, não haverá mais motivo para poluir este espaço com seu nome.”
Assim que Bolsonaro estiver atrás das grades, o seu nome se tornará ainda mais forte para os seus apoiadores. Afinal, não há como suprimir um movimento político apenas pela repressão estatal. Especialmente um movimento como o bolsonarista, que é um movimento da burguesia, dos poderosos.
A histeria do autor contra Bolsonaro, no final das contas, não serve para combater ameaça alguma ao País. Serve, na verdade, para facilitar o caminho para a grande ameaça: a que vem do Supremo Tribunal Federal (STF), da imprensa golpista e das Forças Armadas.




