Uma aula sobre o livro Ciranda em Aruanda, que representa a mitologia dos orixás, provocou a ira de um pai de uma aluna de 4 anos na Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Antônio Bento, no Caxingui, zona oeste da cidade de São Paulo, na última semana. Na atividade escolar, as crianças desenharam um dos orixás retratados no livro, como parte de um ensino sobre questões raciais da rede municipal de ensino, para representar o Dia da Consciência Negra, celebrado na quinta-feira (20).
O pai, que é evangélico e sargento da polícia militar, não aceitou esta proposta de ensino e voltou no dia seguinte com outros policiais para coagir a escola. A diretora Aline Aparecida Floriano Nogueira relatou no boletim de ocorrência que o pai entrou na escola para buscar a filha, depois voltou sozinho e se dirigiu à professora da turma com o dedo indicador apontando no rosto e dizendo: “tem coisas que eu não gosto, vocês estão incluindo umbanda na vida da minha filha, eu não aceito”.
A diretora disse que, após a declaração, na frente de outras crianças, o pai rasgou uma parte da atividade na qual estava o desenho da filha. Naquele momento, ela disse ter se dirigido até ele e explicando que a lição fazia parte de uma proposta pedagógica, que não se tratava de ensino religioso e que ele não poderia agir daquela maneira. De acordo com um representante do conselho escolar, o pai chegou a falar para a diretora: “vou te ensinar como você vai ter de fazer o seu trabalho”. A diretora, respondeu que trabalharia conforme a legislação, apresentando a ele o caderno de educação antirracista. Disse ter pedido para ele formalizar a reclamação em uma carta, que seria apresentada um uma reunião do conselho escolar no dia seguinte.
O pai não apareceu à reunião e nem fez a carta. Ao invés disso, foram quatro policiais militares na escola no dia seguinte com armas em punho, um deles com uma metralhadora. Os agentes começaram a questionar a diretora sobre o episódio, dizendo que receberam uma denúncia de que a escola estaria forçando um ensino religioso para a criança. Ela disse ter conversado com o pai no dia anterior e explicado a situação.
Para tentar uma solução, ela pediu para uma funcionária chamar uma supervisora da Delegacia de Ensino, que falou para a escola acionar também a Guarda Civil Municipal, assumindo a discussão. Os Policiais Militares só deixaram a escola mais de uma hora depois da chegada. Na saída, conversaram com o pai da aluna, que estava do lado de fora.
Em uma nota de repúdio ao caso, o Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo, o Sinpeem, declarou que a diretora chegou a passar mal e foi acompanhada pelos funcionários e pelos pais que se encontravam na reunião do conselho escolar.



