Na edição mais recente de sua participação semanal na TV247, nesta sexta-feira (21), Rui Costa Pimenta, presidente nacional do PCO, voltou a abordar temas centrais da conjuntura, desde a chamada “Lei Antifacção” até o avanço da direita na América Latina. Pimenta destacou que a esquerda institucional tem adotado propostas e posições alinhadas à direita, afastando-se dos interesses da classe trabalhadora.
‘Segurança pública é uma ficção para o povo pobre’
Ao tratar da proposta da “Lei Antifacção”, Pimenta afirmou que a esquerda cometeu um erro grave ao embarcar em uma política repressiva que, historicamente, serve apenas à burguesia.
“Segurança pública é o seguinte: você tem um sistema policial, judicial e carcerário que serve aos ricos […] O pobre não é amparado pelo sistema de segurança pública. É uma ficção”, declarou.
Segundo ele, o projeto é uma cópia direta de políticas formuladas pelo imperialismo norte-americano, equivalentes a uma nova fase da “guerra às drogas”, responsável por devastar países inteiros e fortalecer organizações paramilitares. Pimenta observou ainda que o texto foi rapidamente apropriado pela direita no Congresso, evidenciando a falta de controle do PT sobre sua própria pauta.
Ao comentar a defesa de setores da esquerda pela Polícia Federal, Pimenta ironizou a mudança de política. Recordou que a PF participou do golpe de 2016 e reforçou que a corporação é “infiltrada por agências estrangeiras como CIA e FBI”.
Fragilidade do governo Lula
Pimenta analisou também a indicação de Jorge Messias, afirmando que ela é apenas um desdobramento natural das escolhas do governo, mas que a orientação geral do Ministério da Justiça é equivocada, voltada à repressão. Ele citou como exemplo as gestões de Flávio Dino e Ricardo Lewandowski.
Para o presidente do PCO, a insistência em enquadrar a situação política como uma disputa entre “democracia e fascismo” empurrou o governo para posições conservadoras.
“É um governo extremamente fraco […] O PT tem uma posição minoritária no Congresso. Agora está aparecendo muito claramente que o PT não controla nada no Congresso”, disse.
‘Racismo estrutural é bobagem’
O presidente do PCO voltou a criticar a política identitária. Rejeitou o conceito de “racismo estrutural”, classificando-o como uma abstração que desvia o debate das questões econômicas que atingem a população negra.
“Racismo estrutural é bobagem também. É uma teoria sem pé nem cabeça […] O problema do negro no Brasil, assim como o problema da população pobre, é o capitalismo”, afirmou.
Para ele, a política identitária oferece soluções superficiais, como a mudança de vocabulário, incapazes de resolver problemas materiais:
“É uma perfumaria você chegar num povo que está na favela […] e falar assim: ‘não, você agora vai ser tratado dignamente’. […] Porque ninguém vai tirar ele da favela, não vai dar emprego.”
América Latina e o caso Friedrich Merz
Em relação à política internacional, Pimenta comentou sobre a atual situação no Chile, com a vitória eleitoral da extrema direita de José Antônio Kast. Ele apontou que a eleição de Gabriel Boric, em 2021, foi um retrocesso: uma manobra que teria afastado o Partido Comunista do poder e entregado o país novamente à direita tradicional.
Comentou também as declarações do alemão Friedrich Merz sobre Belém do Pará, criticando o parlamentar europeu em termos duros:
“É um comentário ridículo de uma pessoa ridícula […] O cidadão vir aqui como convidado e insultar o país mostra que ele é um jeca tatu.”
Militares e o 8 de janeiro: ‘general tem que ser inocente’
Rui Pimenta analisou ainda a absolvição de um general pelo STF no âmbito dos processos do 8 de janeiro, afirmando que o julgamento dos militares é seletivo e destinado a preservar as altas patentes.
“General tem que ser inocente […] Prisão é para capitão, coronel no máximo. General, não; é uma vergonha isso aí”, ironizou.
Ele reiterou que todos os generais estiveram envolvidos no golpe de 2016 e que não existe “general democrático”:
“Quem que respaldou o golpe de 2016? Todos os generais. Todos.”
Bolsonaro na Papuda: ‘pura propaganda’
Por fim, Pimenta voltou a criticar a política de encarceramento de Bolsonaro, afirmando que medidas repressivas contra o ex-presidente tendem a recair futuramente sobre o povo pobre e a esquerda.
Ele avaliou que a prisão é uma operação negociada e cuidadosamente coordenada:
“Se você trata o Bolsonaro desse jeito, imagina como vai ser tratado o pobre coitado lá? […] O pessoal está vivendo uma grande fantasia política.”
Segundo Pimenta, o endurecimento do regime, longe de representar uma vitória contra a extrema direita, prepara terreno para um ataque muito mais severo ao conjunto da população trabalhadora.





