O artigo A problemática fala de Friedrich Merz, de André Barroso, publicado no Brasil247 nesta quarta-feira (19), incorre no mesmo erro que a maioria da esquerda tem cometido ultimamente: tudo é culpa do fascismo.
Em seu primeiro parágrafo, Barroso escreve que “o chanceler da Alemanha, Joachim-Friedrich Martin Josef Merz, discursou na sua volta à Alemanha depois da COP30, no Pará, dizendo: ‘Todos ficaram felizes por termos voltado, principalmente por sair daquele lugar’. Um mal-estar numa fala recheada de neonazismo ariano e xenófobo”.
Antes de mais nada, é preciso dizer que nunca foi diferente disso. Os países imperialistas sempre desdenharam dos países coloniais ou atrasados.
André Barroso, de passagem, alerta que se trata da Alemanha que, segundo ele, “a princípio seria o país que sempre estaria atento a um crescimento do fascismo no país”. De fato, foi na Alemanha que floresceu o nazismo, mas o fascismo nasceu na Itália, e o mundo “democrático” viu com bons olhos Mussolini e Hitler, ao ponto de serem imitados e vistos como arma eficaz para sufocar a tendência revolucionária da classe trabalhadora.
Na Alemanha, a pretexto de combater o fascismo e se redimir de seu passado, o país tem apoiado o sionismo, fundamental para o imperialismo, e combatido ferozmente quem apoia a resistência palestina. Além de espionar a esquerda e até mesmo proibir grupos de leitura de textos marxistas. Tudo em nome da democracia.
Nada de novo
Em seu texto, Barroso afirma que “o corte que tem essa fala, assim como falas esdrúxulas de representantes no Brasil, usa uma estratégia de Janela de Overton. Criado por Joseph P. Overton, o conceito mostra que políticos agem nessa janela para não serem considerados extremos pela opinião pública”. Ora, a preocupação com a opinião pública já existe pelo menos desde a Grécia Antiga com Platão e Aristóteles.
Na Renascença, Maquiavel escreveu sobre esse assunto em O Príncipe, dizia que o governante tinha que manter aprovação do povo; ou, pelo menos, evitar ser odiado. Teria, portanto, que se preocupar sua imagem e a percepção pública. Posteriormente, Jean-Jacques Rousseau também tratou da questão da “vontade geral”. Foram muitos que trataram do tema.
Barroso sustenta que o conceito criado por Joseph P. Overton, “mostra que políticos agem nessa janela para não serem considerados extremos pela opinião pública. A todo momento é testada e, dependendo dos reflexos da sociedade, é mantida ou deslocada a janela”. É difícil acreditar que Merz esteja atento a isso. O imperialismo passa por uma enorme crise e seus representantes são pessoas cada vez mais rebaixadas intelectualmente. A maioria não passa de uns trogloditas que sabem se vestir.
No mesmo parágrafo, Barroso afirma que se manipula “aqueles discursos que podem e não podem aparecer na mídia”. E que “as falas da extrema direita mundial, que despejam falas problemáticas, racistas, machistas, homofóbicas, se forem avaliadas de uma forma, podem expandir ou retrair, mas sem nenhum pudor, por canais na internet e até por grandes meios de comunicação”.
É estranho que o autor use a expressão “até por grandes meios de comunicação”, pois esses são os principais propagadores das ideias da direita. A internet é utilizada porque se trata de um meio barato e rápido de publicação. Neste ponto, é preciso denunciar o esforço do imperialismo em censurar a internet, ou impedir o acesso.
Em seguida, o articulista diz que “uma estratégia da metapolítica, criada pela alt-right [extrema direita] mundial, trabalha movendo essa janela o tempo inteiro”. Segundo dizem, a metapolítica foca na “estrutura da aceitabilidade social” e no “campo cultural” antes que qualquer mudança possa se estabelecer.
Como exemplo, Barroso exemplifica com “vide Bolsonaro, querendo colocar temas fascistas em pauta e depois desmentindo o que falou”. Coitado de Jair Bolsonaro, este nem deve saber do que se trata a tal metapolítica. Está muito mais um político de segundo escalão que foi colocado na presidência pela polarização política e social.
Barroso revela o que já era sabido por todos, a manipulação. Diz que “agora vemos um grande jornal brasileiro falando que Bolsonaro merece tratamento especial por se tratar de um ex-presidente e ter direito a prisão residencial”. E que, “porém, em 31 de janeiro de 2019, o mesmo jornal reclamava dos privilégios de Lula na prisão, falando que ele deveria ser tratado como todos os outros presos no Brasil”.
Qual é a novidade? Acabamos de publicar (leia na íntegra) que Alexandre de Moraes, o ministro do Supremo Tribunal Federal, e que a maioria da esquerda enxerga como um caçador de fascistas, acaba de absolver o general Estevam Cals Theophilo Gasar de Oliveira da “trama golpisa” utilizando os mesmos argumentos que negou aos outros condenados. Incluindo Jair Bolsonaro (com ou sem metapolítica).
Instabilidade
André Barroso afirma que “a Alemanha passa por um problema econômico de estagnação no seu crescimento, enfrenta uma transição energética, com a Guerra da Ucrânia atrapalhando as conexões”, e que há naquele país uma instabilidade política.
A Alemanha já vinha investindo em energia eólica e agora aumentou seus investimentos nessa área e em energia eólica. O país eliminou a produção de energia por meio de usinas nucleares. As tais “energias renováveis” são, como já se sabia, insuficientes. Com a guerra na Ucrânia e o boicote ao gás natural da Rússia, a Alemanha teve que recorrer à queima de carvão em usinas termelétricas.
O jornalista acha estranho “um chanceler que fala em proteção climática, investindo mais de 300 milhões na proteção da floresta amazônica para o Fundo Florestas para Sempre (TFFF), mas mostra incômodo ao pisar na própria floresta”. No entanto, Merz é muito mais o representante do imperialismo do que propriamente da Alemanha.
Indo para o final, o articulista diz Merz fez “uma fala constrangedora, triste e que reflete os caminhos que o fascismo mostra nos novos tempos, com alinhamento através das redes sociais desse discurso problemático”. As redes sociais não têm nada a ver com isso, são apenas um meio de comunicação.
No mais, esses “novos tempos” que Barroso apresenta não são novos, mas antigos. A novidade está na crise aguda do imperialismo. Merz é tão nazista quanto qualquer engravatado de Wall Street, e todos os que vêm destruindo países e participando do massacre de palestinos associados ao Estado sionista de “Israel”.





