A aprovação do texto substitutivo do Projeto de Lei Antifacção na Câmara dos Deputados, por 370 votos contra a posição do governo Lula e do PT, é um humilhante atestado de fracasso da estratégia de “frente ampla” e da aliança com a direita parlamentar, que foi apresentada como uma dos aspectos mais positivos do atual governo, pela esquerda parlamentar.
O líder petista, Lindbergh Farias (RJ), reconheceu publicamente o que chamou de profunda “crise de confiança”, revelando a fragilidade da esquerda em controlar sua própria agenda legislativa, dominada pelo comando da Câmara (Hugo Motta) e pela articulação de toda a direita.
O governo “levantou a bola” de uma política reacionária, que é o aumento da repressão contra a população pobre, ao encaminhar o projeto para ser deliberado pelo Congresso Nacional mais reacionário dos últimos tempos.
A reiterada “traição” da base supostamente aliada mostra o fracasso da política de alianças do governo: impressionantes 244 votos a favor do texto que o governo considerava prejudicial vieram de partidos que detêm ministérios (como União Brasil, PP, PSD, Republicanos, MDB e PDT). Essa rebelião impôs a pauta da direita, isolando a esquerda parlamentar que votou contra o substitutivo do secretário de Segurança Pública do governo do presidenciável Tarcísio de Freitas (Republicanos) e pré-candidato ao governo de SP, Guilherme Derrite (PP). Foram apenas 110 os votos a favor da posição oficial do governo (pouco mais de 20% da Câmara).
O pior é que a esquerda parlamentar e a direita chegaram a um acordo sobre os pontos centrais e reacionários da proposta aprovada, ou seja, no estabelecimento de uma política ditatorial na questão das penas e no cerceamento da liberdade de manifestação. O principal ponto de divergência exposto pelos líderes do PT foi o chamado risco de “descapitalização” da Polícia Federal (PF). Isso porque, embora reforce o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), a nova regra de rateio de bens confiscados em operações conjuntas com forças estaduais (dividindo os recursos entre os fundos locais e o fundo nacional pró-repressão) tende a reduzir os recursos de fundos federais vitais, como o Funad (Fundo Nacional Antidrogas), reduzindo às verbas à disposição da PF e outros órgãos.
Assim, a esquerda apoiou o aumento da repressão e apenas divergiu na defesa do fortalecimento do aparato repressivo federal, defendendo a PF, uma das principais ferramentas das operações golpistas contra a esquerda e contra todo o povo nos últimos anos.





