Na edição desta quinta-feira (20) do programa Análise Internacional, veiculado pelo Diário Causa Operária no YouTube, o presidente nacional do PCO, Rui Costa Pimenta, explicou a posição do Partido no 20 de novembro, dia de luta do povo negro. Segundo ele, a situação do movimento negro brasileiro chegou a um impasse devido à forte infiltração do imperialismo por meio das organizações dirigidas por ONGs.
Pimenta destacou que “a luta do povo negro no Brasil está num impasse”, pois o setor que se apresenta como representação política do movimento — como a Coalizão Negra por Direitos e entidades semelhantes — atua segundo diretrizes alinhadas ao imperialismo. “Esse movimento ongueiro que pretende representar a população negra é, na verdade, uma política direitista”, afirmou. Ele lembrou que essas organizações defendem medidas repressivas como prisões, processos policiais, atuação de juízes e a aplicação de multas.
“Não é uma política popular. Não é uma política do povo, dos explorados; é uma política dos opressores”, explicou. Por esse motivo, o PCO decidiu não participar das manifestações organizadas por esses setores. “Tomamos a decisão de romper com esse movimento porque não é um movimento popular”.
Pimenta destacou que o Partido pode conviver com divergências severas dentro de organizações com base real na classe trabalhadora, como a CUT ou o PT, mas que a política das ONGs não possui qualquer vínculo popular. “Esse movimento, para nós, é um inimigo da população negra”. Reconstruir o movimento negro com base na mobilização independente seria, segundo ele, uma necessidade urgente diante do avanço do imperialismo.
Reino Unido: censura como eixo da política do Partido Trabalhista
Outro tema tratado no programa foi a situação política no Reino Unido. Pimenta caracterizou o governo do Partido Trabalhista como “uma ditadura”, cuja base é a política de censura.
O dirigente comentou o caso recente da Ação Palestina, movimento de apoio à causa palestina que foi classificado pelo governo britânico como organização terrorista. “Jogaram um balde de tinta em um avião. Nenhum tipo de ‘terrorismo’ que a gente possa imaginar”, disse, destacando o caráter repressivo da medida.
Para Pimenta, o episódio confirma o alerta que o PCO faz há anos sobre as consequências da defesa da censura. “O pessoal está brincando com fogo no Brasil e vai se queimar”. Ao mesmo tempo, afirmou que o ataque do governo trabalhista provocou um racha significativo entre setores da esquerda britânica e o Partido Trabalhista, o que pode abrir espaço para um novo reagrupamento político.
Se existisse na Inglaterra um partido ligado ao PCO, afirmou Pimenta, sua política seria ingressar nesse novo agrupamento com uma posição crítica, “assim como fizemos há 40 anos no PT”, acompanhando o movimento real das massas e disputando sua orientação.
Crise e paralisia da esquerda brasileira
Pimenta também abordou a situação da esquerda no Brasil. Ele afirmou que há uma crise profunda em curso, resultado tanto da influência das ONGs quanto da paralisia organizativa dos sindicatos. A “esquerda institucional”, segundo ele, vive exclusivamente da vida parlamentar.
“A única vantagem da esquerda, do ponto de vista institucional, é Lula. E Lula sequer tem substituto”, observou. Ele lembrou que a esquerda não possui lideranças alternativas de massa e que sua bancada parlamentar é reduzida.
Na questão palestina, a crise se expressa de forma ainda mais nítida. “O movimento da Palestina recebe investimento zero”, afirmou. Além disso, há “infiltração sionista” em partidos da esquerda, exemplificada pela declaração recente do senador Jaques Wagner, líder do PT, que defendeu o extermínio do Hamas.
Segundo Pimenta, a esquerda majoritária (PT, PCdoB e PSOL) depende politicamente do PT, inclusive nos setores que criticam o partido. A discussão necessária, afirmou, é qual deve ser o relacionamento dos revolucionários com esses partidos, que se afastaram das mobilizações populares e se adaptaram ao regime.
A política diplomática do Hamas e a correlação de forças
A edição também tratou da política adotada pelo Hamas no atual cenário internacional. Para Pimenta, a organização palestina busca “colocar o governo sionista contra a parede” no plano diplomático, o que corresponde às possibilidades concretas no momento.
Ele explicou que a resistência precisa ganhar tempo. “O tempo conta a favor da resistência, não dos sionistas”. O Hamas enfrenta um inimigo extremamente poderoso, “é todo o imperialismo mundial contra a resistência palestina”, e, portanto, precisa adotar medidas táticas para sobreviver e se reorganizar.
Pimenta avaliou que o imperialismo está em uma ofensiva global, promovendo golpes e provocando tensões em várias regiões, o que cria um ambiente difícil para a resistência palestina. Ainda assim, ressaltou que essa ofensiva tende a se desgastar, tornando o fator tempo decisivo: “não dá para ter uma política camicaze”.
Sobre o acordo em vigor, ele afirmou que a resistência tem cessar-fogo do seu ponto de vista, porque precisa recompor forças. “O Hamas faz bem em protestar, mas não romper o acordo. Vai chegar uma hora que o acordo vai ser rompido, mas agora não”.





