Valtemberg Alves

Militante da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) e do Partido da Causa Operária (PCO). Integra a coordenação do Comitê de Luta Estudantil da UFPB.

Coluna

Coordenação da RUMF: por que mentir para defender a PRAPE?

Entidade precisa definir se representa os estudantes ou a política neoliberal

Chegou a meu conhecimento que a coordenação da Residência Universitária Masculina e Feminina (RUMF) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) emitiu uma resposta pública ao artigo que publiquei no sábado (15), intitulado Coordenação da RUMF: representante dos estudantes ou da PRAPE?. Contrariando minha expectativa, a coordenação não debateu o tema do artigo, preferindo, ao invés disso, apresentar um conjunto de intrigas contra mim e os companheiros que atuam junto comigo no Comitê de Luta Estudantil da UFPB e no Comando Unificado de Luta Estudantil da UFPB. Como toda intriga, ela oculta o real propósito do autor do texto.

O texto da coordenação começa afirmando que “dá até pena ver alguém de fora tentar ‘explicar’ a nossa realidade aqui dentro sem ter o cuidado mínimo de ouvir quem está no dia a dia da residência, enfrentando BO real, e não discurso pronto de internet”.

Essa deve ser a falsificação mais grosseira de toda a resposta da coordenação. Quem escreveu o artigo fui eu, Valtemberg Alves, conforme qualquer um pode verificar na assinatura do texto. Não sou alguém de fora. Sou residente há anos e, ao contrário de quem me acusa, participei dos principais momentos da luta estudantil na RUMF no último período. Participei da organização da primeira assembleia em cinco anos e participei da organização da assembleia extraordinária mais recente, processos dos quais a coordenação não fez parte.

Conforme o próprio texto deixa claro, a coordenação não parece ter como método a luta estudantil para conquistar seus objetivos, mas sim os procedimentos puramente administrativos. Por isso, me acusar de não enfrentar “BO real” é simplesmente ridículo.

No texto, a coordenação afirma que ela é eleita pelos estudantes e que, por isso, quando alguém diz que a coordenação está agindo como “representante da PRAPE”, esta pessoa “desrespeita dois grupos ao mesmo tempo: os estudantes que votaram e os estudantes que hoje estão ralando na coordenação pra segurar os problemas do dia a dia”.

É uma falácia. Se a Reitoria, que é um órgão externo, se negar a reconhecer a coordenação, trata-se de uma ilegalidade, pois a Reitoria nada tem a ver com a organização estudantil. No entanto, um residente fazer esse tipo de crítica à coordenação é absolutamente legítimo.

Do contrário, seríamos obrigados a concluir que, porque uma coordenação foi eleita, então todas as decisões que ela tomar serão, necessariamente, a expressão da vontade dos estudantes, o que é absurdo. É o mesmo que dizer que porque um presidente foi eleito, o povo não poderia sair às ruas para protestar contra uma medida que ele tomou. Pelo mesmo raciocínio, teríamos de dizer que a Reitoria, quando mantém um contrato obsceno com uma empresa privada para fornecer alimento caro e de má qualidade aos estudantes, estaria sendo uma representante da comunidade acadêmica, e não de vampiros que lucram vendendo lixo para o povo.

No fim das contas, o que a coordenação revela é uma tentativa de impugnar qualquer crítica a ela.

Não basta que uma coordenação seja eleita para que de fato ela represente os interesses estudantis. Ela precisa, ao longo de sua gestão, permitir que os estudantes expressem suas posições, coisa que não foi feita em vários momentos decisivos para os residentes.

Isso é confessado no próprio texto, quando o autor, no que considera que seria uma defesa de sua gestão, afirma:

“Outra coisa que o texto ‘esquece’ convenientemente de falar é: o que a coordenação Metamorfose já fez dentro da RUMF, com todas as limitações que a gente conhece. (…)

Pra citar alguns pontos concretos que os residentes sabem muito bem:

“Instalação de câmeras em pontos estratégicos, trazendo mais segurança pra quem entra e sai da residência; Sistema de controle por biometria na portaria, pra evitar acesso de gente estranha à residência; Redes de descanso / relaxamento e melhoria de convivência, tirando a residência da lógica de ‘depósito de estudante’ e transformando em espaço minimamente digno (…).”

Para instalar redes de descanso, a coordenação não precisaria fazer um debate com os estudantes. Afinal, isso não traz nenhum grande prejuízo. A não ser, por exemplo, que, para instalar as redes, fosse necessário impactar a vida dos residentes de alguma maneira — como, por exemplo, instituir um desconto no valor das bolsas para pagar pelas redes. Não havendo nada do tipo, bastaria a coordenação fazer.

A instalação de câmeras, no entanto, não é uma questão do mesmo tipo. Trata-se de um tema polêmico, uma vez que muitos residentes consideram que as câmeras poderão ser utilizadas para fins de perseguição política. Assim, o papel da coordenação não seria o de dizer: “fizemos” porque fomos “eleitos”. Seria o de abrir um amplo debate com toda a RUMF sobre o assunto.

No mesmo trecho, a coordenação alega que:

“Nada disso caiu do céu, nem foi conquistado com textão na internet. Foi com reunião, pressão, cobrança, insistência e, principalmente, trabalho diário dentro da RUMF.”

Isso diz muito sobre o desprezo da coordenação sobre a luta estudantil. Como falei de início, atribuir a mim a pecha de alguém que vive de “textão na internet” é ignorar completamente as últimas lutas travadas na RUMF. É um argumento de desespero.

Mas o mais revelador é que a coordenação fala em “reunião, pressão, cobrança”. Não duvido que nada disso tenha sido feito. No entanto, a coordenação, em nenhum momento, utilizou a mobilização estudantil como meio de pressão. Portanto, o que ela considera “pressão” é, na verdade, reunir-se com representantes da UFPB. Tal ato é, naturalmente, necessário para quem está coordenando, mas nunca será suficiente para decidir grandes questões para os residentes.

A coordenação não se apoia na mobilização porque não defende um programa verdadeiramente democrático para o movimento estudantil. É, de fato, impossível mobilizar amplamente a RUMF se o objetivo da coordenação é mantê-la sob vigilância constante da Reitoria. Afinal, com este tipo de programa, a coordenação nunca vai ter o apoio necessário para uma mobilização de impacto.

O seguinte trecho ajuda ainda mais a elucidar o que a coordenação defende quando o assunto é a tutela da PRAPE:

“No texto, se diz que a coordenação ‘se insurgiu contra a reivindicação democrática dos estudantes’ e que a gente ‘defendeu a tutela da PRAPE’.

Vamos lá, o que a coordenação não fez: não defendeu corte de bolsa; não defendeu perseguição a estudante; não disse que vistoria é ‘linda e maravilhosa’ ou que PRAPE é infalível.

O que a coordenação de fato fez:

lembrou que ninguém quer perder auxílio de forma irresponsável, por orientação mal dada;

apontou que qualquer enfrentamento tem que ser organizado com os próprios residentes, com discussão ampla e não imposto por grupinho externo que aparece na hora da foto e some na hora do BO;

reforçou que a luta por mais bolsa, RU gratuito e assistência digna não se faz jogando estudante na fogueira, e sim com mobilização séria, organizada e com responsabilidade.”

Aqui, a resposta da coordenação já passa a recorrer diretamente à mentira. Não acusei a coordenação de defender corte de bolsa, nem perseguição a estudante. Tampouco falei que a coordenação acha a vistoria “linda e maravilhosa”. O que falei foi que a maioria dos integrantes da coordenação votou contra a suspensão da cláusula da PRAPE que previa a suspensão de bolsas para quem não cumprisse uma medida administrativa.

Mas a coordenação não fala isso. A coordenação mente ao dizer que apenas “lembrou” tal e tal coisa. Não foi apenas um “lembrete”: a coordenação se posicionou, em votação, ao lado de um dispositivo repressivo da PRAPE.

O texto insinua que eu estaria tentando “transformar a RUMF em palanque de partido”. Eu integro um partido, sim, e defendo abertamente o programa do partido a que pertenço (que eu saiba, a PRAPE ainda não proibiu isso). Mas o que defende é defendido por pessoas que são de outros partidos, que não são de nenhum partido ou mesmo que são contrárias à existência de partidos políticos. O que defendo é defendido pelo Comitê de Luta Estudantil da UFPB, uma frente única de estudantes dos mais diversos matizes ideológicos com o objetivo comum de fazer as suas reivindicações serem conquistadas.

O que chama a atenção, por outro lado, é que, enquanto eu e meus companheiros defendemos abertamente o nosso programa, a coordenação vem defendendo um programa repressivo, subordinado aos interesses da Reitoria. No entanto, em vez de fazê-lo abertamente, procura dissimular suas posições e, diante da crítica, recorre às intrigas.

Por fim, o texto ainda alega que “quem mora aqui sabe a diferença entre (…) quem aparece em artigo chamando todo mundo de ‘neoliberal’”.

Não chamei todo mundo de “neoliberal”. Nem mesmo chamei a coordenação de “neoliberal”, mas, se a carapuça serviu, muito que bem. O que falei foi que o neoliberalismo é a política do Estado brasileiro. Que essa política é responsável pelos cortes sociais e, portanto, pelo sofrimento dos estudantes. E que defender a tutela da PRAPE sobre os estudantes apenas fortalece a política neoliberal.

Em vez de falsificar minha posição, a coordenação deveria fazer um debate honesto sobre o tema. O que ela acha sobre a política neoliberal? O que ela acha de o dinheiro do Estado ir parar nas mãos dos banqueiros, em vez de ir parar nas mãos do povo? O que ela acha sobre a Reitoria da UFPB aplicar uma política de cortes sociais para atender os ditames da política neoliberal? E, por fim: como combater a política neoliberal sem dar aos estudantes total liberdade de organização?

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a deste Diário

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