Há exatamente um mês, entrava em vigor o acordo de cessar-fogo entre o Estado nazista de “Israel” e a Resistência Palestina, dirigida pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas). O acordo, firmado após dois anos de guerra, libertou quase dois mil prisioneiros palestinos, interrompeu as agressões à Faixa de Gaza, permitiu o ingresso de ajuda humanitária e deu início às negociações para um cessar-fogo permanente.
O acordo de cessar-fogo é uma vitória espetacular do Hamas. Uma vitória parcial, mas uma vitória real.
Em qualquer confronto militar, quando uma força altamente superior precisa de uma pausa, isso não é sinal de força — é sinal de desgaste. Se “Israel”, apoiado pela máquina militar mais poderosa do planeta — EUA e todos os países imperialistas europeus — não conseguiu esmagar uma força guerrilheira, com recursos escassos, então quem está vencendo essa guerra?
As baixas do exército sionista já são estimadas em dezenas de milhares. Mesmo os próprios porta-vozes militares israelenses admitiram números que, embora camuflados sob o jargão técnico das “baixas”, indicam uma crise sem precedentes em sua máquina de guerra. Enquanto isso, a Resistência segue firme. A trégua mostrou ao mundo imagens das Brigadas Al-Qassam intactas, operando com disciplina e moral elevada, depois de meses de bombardeio incessante. Especialistas militares já afirmavam antes mesmo do cessar-fogo que o Hamas havia recomposto sua força de combate.
Durante esse mês, veio à tona também um outro elemento fundamental que expõe o fiasco do imperialismo: a libertação de centenas de prisioneiros palestinos condenados à prisão perpétua, em troca de um punhado de reféns israelenses. É impossível subestimar o impacto moral e político dessa conquista. São militantes, muitos deles presos há décadas, que voltam à cena política como símbolos vivos da luta pela libertação. A política do Hamas — de que ninguém seria deixado para trás — começa a se concretizar. Quem já esteve preso por 30 anos e vê seus companheiros lutando para tirá-lo da cadeia terá seu espírito revolucionário renovado.
É por isso que aqueles na esquerda que menosprezam a libertação desses presos mostram, na verdade, seu completo desconhecimento da luta política real. A disposição de se sacrificar, de enfrentar um inimigo infinitamente mais poderoso, de seguir em frente apesar da dor e da destruição: isso sim define um verdadeiro movimento de libertação nacional. Quem não entende isso, nunca entendeu o que é uma revolução.
A guerra em Gaza não é apenas entre palestinos e “Israel”. É uma guerra do imperialismo contra um povo que luta por sua libertação. E o Hamas é hoje o centro dessa resistência mundial ao imperialismo. O Hamas é Gaza. A separação entre o povo e sua vanguarda armada é uma invenção covarde da propaganda sionista. O Hamas não é um bando de fanáticos em túneis protegidos: são filhos, pais e irmãos do povo palestino, combatendo lado a lado com sua gente, perdendo familiares, reconstruindo forças, e continuando a luta.
Durante esse mês de cessar-fogo, também se viu um aprofundamento da crise política do sionismo. O desespero é tal que “Israel” se recusa a libertar Maruã Barguti, do Fatá, com medo de ver a Autoridade Palestina — esse aparato de repressão criado por “Israel” — desmoronar diante de uma liderança popular real. Negam até a entrega dos restos mortais de Iahia Sinuar. Isso não é sinal de força: é medo. Medo de perder o controle político da região, medo da força real que está se levantando.
Do ponto de vista internacional, o quadro se torna ainda mais complexo e perigoso para o imperialismo. O cessar-fogo marca, na verdade, o fechamento de uma etapa e o início de outra: o cerco do sionismo se estreita com o avanço de um eixo de resistência regional, que inclui o Hesbolá, o Ansar Alá, a guerrilha iraquiana e, sobretudo, o Irã. A fantasia de que o Hamas atua isoladamente já não se sustenta. Há uma coordenação entre forças que, apesar das dificuldades, permanecem de pé e dispostas a resistir por uma década, se necessário. E isso é o que mais assusta o imperialismo.
O 7 de Outubro, data que inaugurou esse capítulo da luta, não foi um “erro de cálculo”, como disse um intelectual da esquerda pequeno-burguesa. Foi o início de uma operação planejada por anos, com apoio de forças regionais. E mais: foi a demonstração de que “Israel” não é invencível. Que o povo palestino pode, sim, atacar, resistir e vencer. As falhas do inimigo, sua crise interna, o pânico de seus soldados, não são obra do acaso. São conquistas da luta revolucionária, travada sob as condições mais brutais possíveis.
Apesar da vitória da Resistência, o sionismo ainda não foi derrotado completamente. Entre as diversas violações denunciadas pelo Hamas, estão:
- 271 palestinos martirizados, incluindo 107 crianças, 39 mulheres e 9 idosos. Isso significa que 58% das vítimas são mulheres e crianças, numa continuação da política de assassinato por vingança.
- Fechamento da travessia de Rafá: Apesar do acordo para abrir a Travessia de Rafá em ambas as direções a partir de 20 de outubro de 2025, a travessia permanece fechada desde 18/03/2025. Decorreram (21) dias após a data acordada para a sua reabertura, e o governo da Ocupação continua a impedir a viagem e o regresso dos cidadãos. Isso duplicou o sofrimento de milhares de pessoas retidas, doentes e estudantes, numa violação direta dos termos do acordo.
- Incitamento de autoridades de “Israel” ao regresso da guerra: Os líderes políticos, militares e de segurança de “Israel” continuam a incitar publicamente, quase diariamente, a retomada da guerra e o não cumprimento dos termos do acordo. Isso demonstra um claro desrespeito pela comunidade internacional e um desafio aos líderes mundiais que, na Cúpula de Sharm el-Sheikh, enfatizaram a necessidade de consolidar o cessar-fogo.
- Mutilação de corpos de mártires palestinos: “Israel” entregou dezenas de corpos palestinos que foram mutilados de forma bárbara, incluindo corpos esmagados sob os trilhos dos tanques, e outros cujos donos foram sumariamente executados enquanto estavam amarrados e vendados.
Diante das violações, o Hamas, em comunicado oficial divulgado neste domingo (9), exige:
- Adesão rigorosa aos termos do acordo de cessar-fogo assinado em Sharm el-Sheikh, e a confirmação da sua continuidade e prevenção de qualquer violação.
- Cessação imediata das mortes, massacres e violações contra o nosso povo em Gaza.
- Retirada de acordo com a linha temporária acordada na primeira fase, e prevenção de qualquer avanço tático ou controle de fogo adicional.
- Compromisso em permitir a entrada das quantidades acordadas de ajuda e combustível conforme estipulado no acordo, e prevenir a sua redução ou obstrução.
- Permissão imediata para a Agência da UNRWA operar com total liberdade dentro da Faixa de Gaza, e capacitá-la para introduzir e distribuir ajuda humanitária como a entidade mais experiente e capaz para tal.
- Funcionamento da Travessia de Rafá e sua abertura em ambas as direções para a viagem e regresso dos cidadãos, e o levantamento imediato das restrições impostas.
- Abertura da Travessia de Zikim para a entrada de ajuda humanitária e socorro através do Reino Hachemita da Jordânia, sem restrições ou interrupções.
- Permissão urgente para a entrada de 300.000 tendas para abrigo imediato, a fim de permitir que os cidadãos se protejam do frio intenso do inverno.
- Entrada de equipamentos e maquinário necessários para a reabilitação da infraestrutura, e adesão ao protocolo humanitário acordado.
- Interrupção imediata da demolição e destruição de casas e instalações civis nas áreas que “Israel” ainda controla.
- Permissão para a entrada de equipamentos necessários para operar a estação de geração de eletricidade em Gaza, e a entrada das quantidades de combustível necessárias para o seu funcionamento.
- Divulgação completa e imediata do destino e dados de todos os detidos e desaparecidos palestinos da Faixa de Gaza.
- Permissão para a entrada de missões médicas, humanitárias, de mídia e equipes de defesa civil para fornecer seus serviços humanitários e de socorro com liberdade.





