Polêmica

Bolsonarismo jamais será derrotado com oportunismo eleitoral

Articulista já faz de um suposto combate ao bolsonarismo plataforma para eleições de 2026

No artigo Câncer bolsonarista, publicado pelo Brasil 247, Adilson Roberto Gonçalves se mostra surpreso porque o bolsonarismo permanece vivo, mesmo com a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. Segundo ele, “o que parecia ser possível extirpar por meio do voto, permanece vivo pela extrema direita, representada principalmente pelo Partido Liberal”.

A própria ideia de que o bolsonarismo poderia ser extirpado pelo voto é absurda. Só é possível “extirpar” por meio do voto figuras que não expressam um movimento político real. O ex-governador João Doria (PSDB) é um exemplo disso. Ele venceu as eleições para prefeito da maior cidade do País em sua primeira disputa eleitoral, elegeu-se governador dois anos depois, lançou sua pré-candidatura à presidência da República e… sumiu. Bastou o fracasso de sua pré-candidatura para que Doria se tornasse uma figura completamente esquecida da política nacional.

Doria é apenas um empresário que conseguiu o apoio da burguesia para implementar uma política agressiva e antipetista nos anos durante o golpe de 2016. Uma vez que a burguesia encontrou outras figuras para substituí-lo, ele tornou-se descartável.

O mesmo pode ser dito de centenas de outros políticos. Pode ser dito, também, de movimentos artificias. Como é possível ter havido atos de tamanho razoáveis em todo o País contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) das Prerrogativas e, logo depois, não haver mais uma única manifestação? A resposta é simples: assim como Doria, o movimento apenas teve impacto quando servia aos interesses circunstanciais da burguesia.

O caso do bolsonarismo é bastante diferente. O bolsonarismo é um movimento de massas, com milhões de pessoas em sua base. É um movimento ideologicamente bastante confuso, que reúne desde neoliberais a pessoas que se consideram “patriotas”, mas que é, fundamentalmente, um efeito da crises da direita e da esquerda no Brasil. A crise da direita reside no fato de que a política neoliberal esgotou qualquer base popular de seus partidos, como o PSDB, e está levando uma parcela da população à revolta — a famosa revolta “contra o sistema”. A crise da esquerda, por sua vez, está no fato de que a esquerda pequeno-burguesa brasileira, que dirige as principais organizações populares, não conseguiu apontar uma alternativa para a política neoliberal, empurrando milhões de pessoas para a extrema direita.

A ideia de que o bolsonarismo iria ser extirpado pelo voto é, portanto, não apenas ingênua, como profundamente oportunista. Ela ignora completamente as necessidades da população que se identifica como bolsonarista, o que, na prática, significa manter-se sob o domínio da política neoliberal.

Segundo o autor, a prova de que o bolsonarismo segue vivo seria sua atuação no parlamento. Isto é parcialmente verdadeiro. O bolsonarismo segue vivo porque, como falamos, ele é um movimento político. Prender Lula não foi suficiente para “extirpar” o PT. Pelo contrário, isto tornou o atual presidente mais popular e sua base, mais radicalizada. Da mesma forma, mesmo que o bolsonarismo diminuísse sua votação, ele permaneceria influente.

A pressão exercida pelo bolsonarismo está presente em todo o regime político: na imprensa, nas Forças Armadas, na Polícia Federal, no Judiciário. Por isso, ter as eleições como eixo central de seu combate levará a um desastre. Mas é justamente o que o autor propõe:

“Sem ilusão, devemos tratar esse câncer com a ‘voto-terapia’ mais intensa no ano que vem, única medida profilática que funciona.”

Antes de pensar em eleição, o articulista deveria pensar em um programa para disputar a eleição. Sem um programa de defesa dos interesses nacionais, de combate ao grande capital, nem adianta tentar concorrer contra a extrema direita. Menos ainda se a esquerda continuar adotando o programa repressivo da direita, em vez de defender um programa democrático.

Além disso, as eleições não são organizadas por anjos, como as recentes eleições na Bolívia demonstraram. As eleições são organizadas, fiscalizadas e controladas pelas mesmas instituições que sofrem cada vez mais pressão do bolsonarismo. Sem um combate real, político, a este movimento, a esquerda mal conseguirá participar da disputa.

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