Brasil

O que Lula fará diante do que ele mesmo chamou de ‘matança’?

Ao apoiar a política da direita para a repressão, Lula irá fortalecer os seus inimigos políticos e perderá ainda mais apoio de sua base

Em sua mais nova declaração sobre a chacina mais letal da história Rio de Janeiro, o presidente Lula qualificou a Operação Contenção como uma “desastrosa”, afirmando que ela teria provocado uma “matança”. Uma vez mais, o dirigente petista, pressionado pela polarização, procurou se equilibrar sobre posições inconciliáveis.

“A dura realidade é que, em termos de número de mortos, alguns podem considerar a operação um sucesso. Mas, do ponto de vista da ação estatal, acredito que foi desastrosa.”

“A ordem do juiz era para que fossem cumpridos mandados de prisão, não para uma matança — e, no entanto, houve uma matança.”

O discurso, naturalmente, foi criticado pela extrema direita. Para este setor da política nacional, que é contra os direitos democráticos da população, as mortes seriam justificadas porque os alvos teriam sido “bandidos”. Assim, quando Lula fala em “matança” e em “desastre”, estaria defendendo pessoas que, segundo a extrema direita, deveriam ser exterminadas.

Acontece que já caiu por terra a história de que todos os mortos eram “bandidos”. A polícia sequer conseguiu provar que todas as vítimas tinham passagem na polícia ou eram formalmente investigadas. Um adolescente de apenas 14 anos foi assassinado. Um pastor de direita, Otoni de Paula, testemunhou que quatro das vítimas eram integrantes de sua congregação e jamais “pegaram em um fuzil”. Vários relatos de moradores feitos a este Diário afirmaram que várias pessoas que não tinham nada a ver com o Comando Vermelho ou alguma atividade criminosa foram torturadas e mortas. Entre elas, pessoas que simplesmente se negaram a colaborar com a polícia.

Ainda que todos fossem “bandidos”, a operação, ainda assim, seria uma matança injustificável. No Brasil, não existe pena de morte. E, mesmo que existisse, ela seria resultado de um julgamento formal do Estado, e não da execução sumária praticada pela polícia.

Finalmente, a figura do “bandido” é um mito criada para justificar a ação criminosa do Estado. O “bandido” é a população pobre, que não tem como se defender de um sistema judiciário corrupto, de uma polícia fascista e de uma imprensa mentirosa.

Embora a fala de Lula desagrade a extrema direita, ela não expressa claramente uma política que corresponda às necessidades do povo. Lula foi incapaz de falar o óbvio: esta matança não foi um “desastre”, no sentido de que algo fugiu de controle, mas um crime planejado pelo Estado. O governador do Estado do Rio de Janeiro, os comandantes do aparato repressivo e os policiais envolvidos cometeram crimes de guerra contra a população.

Lula deveria, no mínimo, exigir uma investigação séria para identificar todos os envolvidos neste crime. Todos os que participaram da operação são criminosos e devem ser denunciados como tais.

Ao passo em que não defende uma ação efetiva contra os criminosos que assassinaram mais de 130 pessoas, Lula também vem defendendo medidas repressivas que apenas fortalecerão a máquina monstruosa que realizou a chacina no Rio de Janeiro. No dia 30 de outubro, dias após a chacina, o presidente sancionou um projeto de seu carrasco, o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR), que estabelece pena de prisão para quem planeja ataque ou ameaça autoridades que cometem o crime organizado.

Ao mesmo tempo, o presidente procura aprovar o Projeto de Lei Antifacção, que ampla os poderes de espionagem da Polícia Federal.

Este é o caminho do desastre. Ao apoiar a política da direita para a repressão, Lula irá fortalecer os seus inimigos políticos e perderá ainda mais apoio de sua base, que sofre na mão desses criminosos. Conforme o caso em tela mostra também, os acenos à direita não agradam a direita, mas apenas aumentam o apetite dos inimigos do governo para que aumentem a pressão sobre ele.

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