Polêmica

Sem CACs, povo fica ainda mais vulnerável a chacinas

Delegar segurança do povo a uma burocracia é uma ameaça, mas partes da esquerda insisten em apoiar a principal organização criminosa do País: a polícia

O marqueteiro Oliveiros Marques escreveu um artigo curioso para o portal Brasil 247, fazendo algum esforço para reagir ao que chamou de “operação genocida da última semana, nos complexos do Alemão e da Penha”, referindo-se à chacina cometida pela polícia contra a população pobre do Rio de Janeiro. Surpreendentemente, porém, Marques usa o crime para atacar não os responsáveis pelo horror, mas os CACs (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores). Diz o autor:

“Há, porém, outro braço que alimenta essas organizações [crime organizado] a partir de atividades ditas ‘legais’, devidamente estimuladas e financiadas politicamente durante o governo anterior: os chamados Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores – os CACs. As mudanças legais de Bolsonaro, flexibilizando regras para compra de armas – inclusive armamentos antes restritos às forças de segurança, como fuzis – incendiaram o comércio e, por consequência, o desvio para o crime. Cada pessoa podia comprar até 30 armas.”

Em primeiro lugar, não foram marginais nem os CACs que produziram uma chacina chocante no Rio de Janeiro, mas policiais. O fato de o esquerdista usar um crime cometido pela polícia para sair a campo contra a posse legal de armas dada a um grupo que não tem qualquer relação com o ocorrido mostra é uma idiotice enquanto método, e também um golpe.

Por meio desse expediente, Marques simplesmente joga para debaixo do tapete a responsabilidade do aparato policial, esse, sim, diretamente ligado aos acontecimentos. Expressando o que pensa a pequena burguesia de conjunto, se o principal instrumento do terror do Estado está fortemente armado e descontrolado em sua sanha assassina, tudo bem. O problema é se a população também estiver armada, mesmo com demonstrações recorrentes de que a polícia é imensuravelmente mais perigosa do que o cidadão comum.

Trata-se de uma ideia idiota, mas que revela também a posição privilegiada da classe a que pertence. Ainda que, eventualmente, a classe média tenha demonstrações do quão terrorista é a polícia, esse setor da sociedade sabe que não são eles que estão na mira do terror, mas a classe trabalhadora e os elementos mais pobres do País. Por essa razão, mantém suas ilusões quanto à real finalidade do aparato policial, totalmente insensíveis mesmo à proliferação “casos isolados” de ações criminosas cometidas pela polícia, de Norte a Sul do Brasil.

Para Marques, tudo isso é irrelevante. O grande problema da segurança pública no Brasil, não é a polícia que mobiliza 2,5 mil homens para empreender uma chacina contra pobres, mas o fato de algumas pessoas terem meios de se defender. Demonstrando ainda um profundo autoritarismo, o autor continua:

“Mesmo com a revogação dessas facilidades no governo Lula, as armas adquiridas no período anterior não precisaram ser devolvidas. Milhares continuam em circulação. Muitas, como apontam diversas investigações a partir de apreensões, estão nas mãos de milicianos e faccionados.

Por isso, uma medida central desse imaginado Plano Federal Anticrime seria um recall, conduzido pela Polícia Federal ou pelas Forças Armadas, exigindo que todos os ditos colecionadores, atiradores e caçadores apresentem fisicamente as armas adquiridas sob a legislação anterior. Uma ação assim permitiria identificar elos que hoje instrumentalizam o crime com armamento pesado.”

Porque pessoas que não tem relação nenhuma com as chacinas deveriam pagar pelo crime da polícia, Marques não explica. Ao melhor estilo burocrático que caracteriza a pequena burguesia, o marqueteiro simplesmente defende que a população seja obrigada a entregar armas adquiridas de maneira legal, simplesmente para “identificar elos que hoje instrumentalizam o crime com armamento pesado”. É uma loucura.

Se estivesse mesmo preocupado com a violência no País, a campanha de Marques seria pelo fim do aparelho de terror da ditadura que governa o Brasil, no mínimo. Não é isso, porém, o que o move, mas o medo do povo armado.

Para os que conhecem a brutalidade da repressão, porém, a política tem que ser outra, muito distinta do que é defendido pelos setores mais privilegiados. Para os trabalhadores, camponeses e estudantes, os alvos principais do terror do Estado, é preciso lutar pelo direito à autodefesa armada e também, pelo fim da polícia, em todas as suas instâncias.

Delegar a tarefa de proteger a população a uma burocracia corrupta e descompromissada com o povo é uma política que rotineiramente se mostra uma ameaça às amplas massas. Que Marques e outros expoentes da esquerda pequeno-burguesa defendam a manutenção desse sistema criminoso, é compreensível, ainda que desumano. A esquerda, porém, deve rejeitar esse modelo de segurança e democratizá-lo, ou pagar o preço de sua cumplicidade com um genocídio contra a população pobre e negra do País.

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