O Comitê Regional do PCB-RJ publicou uma nota intitulada O caos como política de segurança, sobre a megaoperação policial do dia 28 de outubro de 2025, que já contabiliza mais de 130 mortos, e ficou marcada como a chacina mais letal já registrada no estado do Rio de Janeiro.
A nota traz algumas denúncias corretas. Identifica que o Estado trata a população pobre como inimigo interno, denuncia a hipocrisia eleitoral de Cláudio Castro e aponta a cumplicidade do aparato estatal com o crime organizado, sobretudo com as milícias.
Até aí, bem. O problema — e é um problema gravíssimo — é que o texto do PCB não fala uma única vez em dissolver a Polícia Militar. Nenhuma menção à necessidade de derrubar o aparato repressivo do Estado burguês. Nenhuma proposta de autodefesa da classe trabalhadora. Nenhuma palavra de ordem de ruptura com o regime.
O PCB escreve:
“A política de segurança no estado do Rio de Janeiro segue a tradicional lógica do enfrentamento entre polícia e bandido, como ficou claro na chacina dos Complexos do Alemão e da Penha. Uma lógica que já demonstrou há décadas a sua falência […]”
Mas o problema não é a falência da política de segurança, como se fosse uma tentativa frustrada de proteger a população. O problema é que a política de segurança funciona perfeitamente bem — para os interesses da classe dominante.
O que o PCB chama de “falência” é, na verdade, a aplicação sistemática da repressão de Estado contra a população pobre e negra, que nunca teve o direito de viver com dignidade neste país. Não é uma política equivocada. É uma política de guerra consciente e planejada, executada pela Polícia Militar com aval do Judiciário, do Ministério Público e de todos os partidos da ordem.
Quem puxa o gatilho? E quem protege os assassinos?
A nota critica o governador:
“Cláudio Castro se revela parte do problema […] Fora Cláudio Castro, responsável pela maior chacina da história do Rio de Janeiro!”
Ótimo. Mas fica a pergunta: Castro matou com as próprias mãos?
Quem invadiu casas? Quem atirou nas costas de moradores? Quem atirou de dentro de caveirões e helicópteros? Quem fuzilou corpos e os largou no asfalto? Foi a Polícia Militar, o braço armado do Estado burguês — e o PCB sequer a menciona!
Na prática, o PCB faz um malabarismo retórico que termina poupando o verdadeiro executor do massacre.
A parte mais impressionante da nota do PCB é a ausência de qualquer proposta de autodefesa popular. Em vez de chamar os trabalhadores e moradores das favelas a se organizarem contra a repressão, o partido prefere um discurso morno e institucional, que mais parece um editorial da Folha de S.Paulo.
A luta por direitos passa, necessariamente, pelo enfrentamento armado contra a repressão. A defesa da vida do povo só será possível com a organização da autodefesa dos trabalhadores e da juventude, sob direção da classe operária.
O PCB diz que a operação é parte de um “jogo eleitoreiro” e uma “guerra pirotécnica”. Mas não diz que é parte da guerra de classes. Tenta se equilibrar entre a denúncia e a “responsabilidade institucional”, terminando por agir como mais um amortecedor do regime.
“Para nós comunistas, a promoção do terror em favelas e comunidades mostra que o Estado entende como inimigo interno a própria população.”
Se o Estado vê o povo como inimigo, por que o PCB não propõe que o povo também veja o Estado como inimigo e organize sua resistência? Por que não chama pela dissolução da PM, autodefesa, organização revolucionária dos trabalhadores armados contra a repressão?




