O acordo de paz proposto por Donald Trump, elaborado em parceria com o criminoso de guerra Netanyahu, é decorrência da derrota que Israel sofreu na Faixa de Gaza. Uma derrota que se desenhou após um período brutal de hostilidades, que, entre outubro de 2023 e outubro de 2025, resultou na morte de mais de 67.000 palestinos, com cerca de 30% sendo crianças, e deixou aproximadamente 170.000 feridos, conforme dados do Ministério da Saúde de Gaza. Totais estes que, provavelmente, estão subestimados, devido a corpos ainda sob os escombros e mortes relacionadas à fome e desnutrição, especialmente no norte de Gaza. Esses números, por si só, refletem a gravidade do conflito e a incapacidade de Israel de alcançar seus objetivos declarados de “eliminar o Hamas” e “garantir a segurança”, impondo-lhes a necessidade de aceitar uma mediação. Três países da região mediaram o acordo: Egito, Catar e Turquia.
Os pontos principais do acordo são:
- Cessar-fogo imediato e retirada militar: Prevê-se a retirada gradual das forças israelenses de grande parte do território de Gaza (cronograma e escopo detalhado não foram tornados públicos nas notas iniciais).
- Trocas de reféns e prisioneiros: O Hamas concordou em libertar 20 reféns israelenses vivos em 72 horas após o início do cessar-fogo. Em contrapartida, Israel se comprometeu a libertar:
- Todas as mulheres e crianças palestinas detidas;
- 250 prisioneiros de longa data;
- 1.700 outros presos capturados durante o conflito.
- Reabertura de passagem para ajuda humanitária: Reabertura de uma passagem crucial entre Egito e Gaza, para viabilizar a entrada de ajuda humanitária, alimentação e outros bens essenciais.
Esses três pontos representam a fase inicial de um plano de paz de 20 pontos muito mais abrangente, divulgado por Donald Trump e discutido com Benjamin Netanyahu entre o final de setembro e o início de outubro de 2025. Embora os detalhes completos dos 20 pontos ainda não tenham sido divulgados ao público, esta primeira fase já sinaliza a complexidade e a ambição por trás da proposta.
Não se sabe até quando o acordo vai se manter, porque Israel nunca respeitou qualquer acordo. Vale lembrar que antes da posse de Trump, neste ano, foi anunciado um cessar-fogo com previsão de início em 19 de janeiro de 2025. Em 18 de março de 2025, de forma unilateral, Israel rompeu o acordo e realizou novos ataques à Faixa de Gaza. Nesse aspecto, Israel segue a filosofia do seu financiador político e econômico: os EUA também não cumprem acordos, como demonstra a história, inclusive recente.
No acordo com as forças de resistência da Palestina, está previsto que Israel irá retirar suas tropas até uma determinada linha, que parece não ter sido precisamente definida, o que é um risco, na medida em que as forças sionistas podem voltar a atacar quando quiserem. O Hamas aposta que os fiadores do acordo na região, Catar, Egito e Turquia, irão pressionar Israel e os EUA se houver quebra do acordo. Se existe algo positivo nesse massacre criminoso do povo palestino, foi o desmascaramento dos sionistas, perante praticamente toda a população da Terra.
Mesmo que este cessar-fogo dure apenas 15 dias, é inegável que a sua celebração é uma vitória do povo palestino. O objetivo de Israel era exterminar ou expulsar todos os moradores de Gaza, portanto, os sionistas foram fragorosamente derrotados. Um outro fracasso completo se refere ao objetivo de exterminar a resistência palestina: o Hamas, a Jihad Islâmica e outros grupos saíram mais fortes tática e moralmente.
O heroísmo e a abnegação desses combatentes, lutando em túneis, com armas de fabricação própria e praticamente sem nenhuma ajuda internacional, encontram poucos paralelos na história. Essa resiliência não se explica apenas pela bravura individual, mas também pelo profundo enraizamento da resistência na sociedade palestina e por uma complexa rede tática, que inclui o uso estratégico de túneis e uma grande adaptabilidade frente a um adversário tecnologicamente superior. Quem subestima os resultados obtidos pela resistência até agora não consegue sequer imaginar o que é enfrentar uma das forças armadas mais bem equipadas do mundo, fartamente financiada pelo imperialismo, que detém mísseis, aviões e munição à vontade.
A assimetria das forças envolvidas lembra a Guerra do Vietnã: a resistência palestina enfrenta um exército tecnologicamente avançado, com supremacia aérea e inteligência militar muito superior. Um outro aspecto remete à analogia com a guerra no Sudeste Asiático, que é a batalha da informação. No Vietnã, as cenas transmitidas pela televisão denunciaram os crimes dos EUA e corroeram o apoio doméstico ao governo. Se no Vietnã a televisão foi o veículo primordial, em Gaza, a disseminação massiva de vídeos e relatos via redes sociais e plataformas digitais transformou a “batalha da informação” numa experiência global e imediata. Com o Holocausto na Faixa de Gaza, quase 80 anos de propaganda sionista foram jogados por terra, a farsa foi desmascarada. O mundo todo pôde assistir ao nível de crueldade do regime sionista, que de fato pretende expulsar ou eliminar todos os palestinos que vivem na região.
O acordo é uma vitória histórica, mas não há nada garantido. A assinatura do acordo não significa que Israel vai cumprir os acordos firmados ou parar com a limpeza étnica na Cisjordânia. Também não quer dizer que não irão atacar o Irã novamente, inclusive com o apoio dos EUA. A natureza do regime de Israel o torna incapaz de cumprir acordos com o povo palestino, como a história demonstrou várias vezes. Acordos anteriores, desde Oslo até propostas mais recentes, frequentemente enfrentaram obstáculos ou foram unilateralmente desrespeitados, evidenciando uma relutância intrínseca em reconhecer e negociar de boa-fé os direitos palestinos. Talvez o cessar-fogo dure mais um pouco porque Donald Trump está muito pressionado internamente. Isto porque, apesar da manipulação de informações no interior dos EUA, feita às custas de muito dinheiro, censura a redes sociais e expulsão de estudantes pró-palestinos das universidades, a cada dia cresce a indignação da população dos EUA.
Mais importante que tudo, neste momento, é atender à urgência humanitária na Faixa de Gaza. Relatos falam em 557 mil mulheres em insegurança alimentar, muitas priorizando alimentar os filhos antes de si mesmas. A prioridade imediata é fornecer à população água potável, alimentos e insumos médicos. É fundamental também, nesse momento, restaurar fluxos regulares de ajuda (comboios, corredores humanitários, autorizações de passagem, combustível para bombas d’água e geradores de hospitais). Isso tudo é fundamental para reduzir a mortalidade e o colapso total dos serviços de saúde. Cada dia sem a entrada de comida e outros insumos básicos faz aumentar a desnutrição aguda, surtos de doenças transmitidas pela água e a mortalidade da população.
Mesmo as forças de resistência de Gaza, não confiando na sustentação do cessar-fogo, em função do histórico do inimigo, ele possibilita, além do fundamental atendimento à urgência humanitária, a possibilidade de reconstituição da sua estrutura militar. A luta pela justiça e pela autodeterminação palestina continua, e este acordo é um capítulo, não o fim, de uma longa e árdua jornada.





