Valéria Guerra

Jornalista (UMESP), historiadora, atriz com DRT-RJ, escritora, colunista do 247, PCO, e do meu site (https://guerraluz.prosaeverso.net/); mestre em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento e na Educação; professora do Estado do RJ na cadeira de biologia, poetisa e ativista contra a desigualdade no Brasil e no mundo.

Coluna

A paz da miséria – ‘enclosures’ brasileiros

O fenômeno dos enclosures (cercamentos), na Inglaterra, abriu caminho para o liberalismo, que deu origem à miséria como alavanca das riquezas

Ler criticamente o mundo é um ato político-pedagógico; é inseparável do pedagógico-político, ou seja, da ação política que envolve a organização de grupos e de classes populares para intervir na reinvenção da sociedade. Paulo Freire

Os direitos humanos são um conjunto de direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. São direitos que garantem a dignidade humana e a possibilidade de uma vida digna, livre de opressão e discriminação. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), estabelece os direitos humanos básicos que devem ser respeitados por todos os países e indivíduos. A DUDH é um marco fundamental na história dos direitos humanos, consolidando o conceito de que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Nascer livre — para a população paupérrima — parece até uma ironia.

Quando lembramos de tantas injustiças sociais espalhadas em nossas cidades, lembramos que o hábito da leitura no Brasil é deficitário (ou inadequado), a começar pela quantidade de livrarias em nosso país. Se fizermos uma comparação, por exemplo, com a Argentina, iremos constatar que só na cidade de Buenos Aires existem 734 livrarias, dados recentes. O Rio de Janeiro tem 144 livrarias em funcionamento, de acordo com dados de dezembro de 2023. Este número é uma redução de 60 lojas em comparação com as 204 que existiam em 2017, devido ao fechamento de redes e à pandemia. Apesar da diminuição, o Rio ainda mantém um acervo significativo, especialmente no Centro, que conta com 43 livrarias, segundo informações de março de 2025.

Fica claro que a demanda cultural literária está em baixa na cidade-luz do Brasil. E se fizermos um levantamento cuidadoso, provavelmente iremos constatar déficits similares em muitas outras cidades nacionais. Fica patente que os vínculos governamentais e a malha estrutural, especialmente no quesito educação, devem mudar de descaminho para trajetória. E não serão projetos de assistencialismo ou golpes “tampões” invasivos neocoloniais que irão estancar a miséria sem paz.

O planejamento do capitalismo após os burgos se deu objetivamente para criar uma casta de mendicantes, de desvalidos, e para demonstrar em doses cavalares, a princípio, como seria o novo mundo. Um novo mundo onde a industrialização faria a diferença em relação ao lucro. Camponeses foram atirados à condição de pedintes para depois serem enforcados. O ludismo provou o quanto Karl Marx esteve certo em suas conjecturas e materialismo histórico: “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes.” Karl Marx ainda não havia nascido, e os ludistas já faziam “marxismo”, ou seja, eles exerceram seu direito de reagir, de não capitular diante do status quo. Os ludistas da Inglaterra são muitas vezes desprezados como tecnófobos excêntricos. Mas, na realidade, tratava-se de um corajoso movimento operário pré-marxista que dava prioridade às pessoas e à natureza em detrimento da propriedade privada.

O fenômeno dos enclosures (cercamentos), na Inglaterra, abriu caminho para o liberalismo, que deu origem à miséria como alavanca das riquezas. No Brasil, no sistêmico padrão organizacional político, nós estamos constatando atos de tirania, como a notícia a seguir nos lega: “Os deputados estaduais aliados do governo Cláudio Castro aprovaram, na tarde desta quarta-feira (22/10), na ALERJ, o substitutivo ao Projeto de Lei nº 6.035/2025. A proposta autoriza o governo do estado a retirar do Rioprevidência os recursos provenientes de royalties e participações especiais do petróleo para o pagamento da dívida pública do estado com a União. Atualmente, esses recursos são destinados ao Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio. Estima-se que cerca de R$ 5 bilhões possam ser retirados do Rioprevidência. A oposição conseguiu aprovar uma emenda ao substitutivo, limitando a vigência da lei até 31 de dezembro de 2026. O Sepe se posiciona contra a aprovação do projeto. Mesmo com a limitação conquistada pela oposição, o governador, na prática, terá permissão para esvaziar o cofre do Rioprevidência. O sindicato também pretende discutir com outras entidades de servidores a possibilidade de recorrer ao Judiciário contra a medida”.

E a opressão desta classe gera violência, com arrebatamento de almas em estado de miserabilidade promíscua, o que dá origem a carnificinas, como a que ocorreu ontem no Estado do Rio de Janeiro: foram mais de cento e vinte pessoas mortas, até agora. Os corpos foram enfileirados. Se há bandidos ou não bandidos, o que gerou este quadro de chacinas, verdadeiramente, foi o imperialismo com sua glorificada e profana sede de LUCRO e PODER.

A política hedionda de CERCAMENTO (enclosure) continua acontecendo, e o cerco é feito contra a população mais vulnerável e explorada: professores, alunos, aposentados, ou seja, o operariado em geral. Necessário é que a sociedade REAJA, afinal a paz da miséria é mortífera…

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a deste Diário

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