Nesta terça-feira (28), o Rio de Janeiro viveu a pior chacina policial de toda a sua história: a Operação Contenção, deflagrada pelas Polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha. A operação, promovida sob o pretexto de combater o Comando Vermelho (CV), rapidamente escalou para um confronto de proporções inéditas, deixando uma quantidade inacreditável de pessoas mortas.
O objetivo declarado da Operação Contenção, segundo o Governo do Estado, era combater a expansão territorial do Comando Vermelho e cumprir cerca de cem mandados de prisão contra lideranças que atuavam no Rio e em outros estados. Envolvendo a mobilização de aproximadamente 2.500 agentes das forças de segurança, o governo criminoso do Rio de Janeiro a celebrou como a maior operação integrada dos últimos 15 anos, fruto de mais de um ano de investigação e 60 dias de planejamento. Como resultado preliminar divulgado pelas autoridades, foram registradas 81 prisões, incluindo nomes importantes do CV como Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como Belão, e Nicolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro de um dos chefes do tráfico. Além disso, a polícia informou ter apreendido mais de 100 fuzis e uma grande quantidade de drogas.
O dado que mais chamou a atenção, no entanto, não foi a imensa quantidade de dinheiro gasto pelo falido Estado fluminense com o aparato de repressão, mas sim a extrema letalidade da operação. O balanço oficial provisório confirmou a morte de pelo menos 64 pessoas, sendo 60 “suspeitos” — isto é, moradores das comunidades atingidas — e quatro covardes policiais que invadiram a moradia da população carioca para aplicar a pena de morte a dezenas de pessoas, ainda que tal pena não exista no Código Penal brasileiro. Dos quatro agentes da repressão que morreram durante sua guerra criminosa contra o povo, dois eram policiais civis e dois eram policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope), um dos destacamentos mais fascistas de todo o Brasil.
O número maciço de vítimas fez com que a operação superasse, de longe, o recorde anterior de letalidade no Rio de Janeiro, que era da ação no Jacarezinho em 2021 (28 mortos).
O Rio de Janeiro se transformou em um verdadeiro cenário de guerra. Segundo o próprio governo, foram utilizados 32 blindados, veículos aéreos não tripulados (VANTs) e helicópteros. Cinicamente, a imprensa capitalista, cúmplice dos crimes contra o povo, fez alarde para retaliações atribuídas ao Comando Vermelho. Segundo a imprensa, os integrantes da facção teriam utilizado VANTs para lançar bombas contra as forças policiais, montaram barricadas com veículos queimados e tentaram fechar vias importantes da cidade, como a Avenida Brasil. Isto é, tomaram medidas defensivas visando frear a ação do Estado contra o povo.
O Alto Comissariado dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) se declarou “horrorizado” e alertou para a escalada de operações policiais extremamente letais no Brasil, cobrando investigações “ágeis e eficazes”. No plano interno, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) exigiram explicações do governador Cláudio Castro (PL), solicitando que o governo demonstrasse ter seguido as determinações do Supremo Tribunal Federal (STF) da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como a “ADPF das Favelas”. Essa ação impõe restrições às operações em comunidades e exige medidas como o uso de câmeras corporais por policiais e a presença de ambulâncias.
O governador Cláudio Castro (PL), por sua vez, chamou a ADPF 635 de “maldita”, alegando que a decisão judicial limitou a ação policial e criou um ambiente que favoreceria a expansão de traficantes de outros estados no Rio. Além disso, criticou publicamente a ausência de apoio do governo federal, alegando que pedidos anteriores de auxílio de blindados e Forças Armadas foram negados. O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, se prestou ao papel vergonhoso de negar ter recebido qualquer pedido de auxílio para esta operação específica e afirmar que o governo federal tem prestado apoio em outras frentes, em vez de denunciar a operação como um verdadeiro crime contra o povo do Rio de Janeiro.
O caso da Operação Contenção chama a atenção não apenas para o caráter criminoso do Estado fluminense, mas também para a participação da Polícia Civil, que já havia sido a responsável pelo massacre do Jacarezinho. O envolvimento desta polícia revela que a solução para o aparato repressivo não virá de uma “desmilitarização” da Polícia Militar, mas sim da destruição de todas as polícias.



