No dia 25 de outubro, a jornalista Nira Worcman, descrita como diretora associada da agência Art Presse, publicou uma coluna no jornal O Globo intitulada O Hamas e a herança de Goebbels.
A matéria tenta dar a entender que o Hamas controlaria a imprensa internacional e estaria agora focando seus esforços na propaganda, assim como Goebbels na Alemanha Nazista, enquanto “Israel” seria perseguido pela imprensa como um todo.
É engraçado, pois, além de matérias no Globo, Nira também tem colunas publicadas no Estadão, já trabalhou na Folha de São Paulo e, como dissemos, é diretora associada da Art Presse. Ou seja, como os defensores de “Israel” estariam sendo perseguidos, ao mesmo tempo que recebem tanto espaço da imprensa tradicional?
Logo no início da coluna, Nira fala da política de Goebbels, que bem poderia ser a própria política israelense:
“Sob comando de Goebbels, a Alemanha nazista transformou a comunicação em arma de destruição moral. Rádio, cinema e jornais deixaram de informar para servir a uma ideologia que desumanizava judeus, legitimava a guerra e naturalizava o extermínio dos que não eram da raça pura ariana.”
“Israel” faz exatamente a mesma coisa. Toda a imprensa mundial realiza um grande esforço para tentar criar a ideia de que os israelenses são a vítima e não os opressores dos palestinos. Veículos como a Globo, a Folha e o Estadão, por exemplo, praticamente não informaram o público sobre o terror causado por “Israel” em Gaza e, se não fosse a internet, a maioria esmagadora da população mundial estaria sem informação alguma real.
Todo os esforço em falar que “Israel” está apenas se defendendo, mesmo quando as imagens mostram a destruição total de Gaza e o assassinato sistemático de palestinos desarmados, a maioria crianças e mulheres, serve para desumanizar os palestinos, os tratando como seres inferiores aos israelenses, legitima a guerra e naturaliza o extermínio daqueles que não são judeus israelenses.
O texto continua:
“Menos de um século depois, as táticas criadas por Goebbels ressurgiram, adaptadas. O Hamas compreendeu que vencer no campo simbólico é tão importante quanto no militar. Sua força está na guerra das imagens, na manipulação emocional e na habilidade de explorar a imprensa mundial. Ele sabe que quem controla a narrativa controla a percepção da verdade. Até hoje, mesmo depois de provado que crianças esqueléticas de Gaza tinham doenças genéticas, veículos jornalísticos no mundo inteiro, inclusive no Brasil, continuam a usar suas imagens como símbolo da fome.”
Ou seja, segundo o que diz a grande jornalista, o problema das imagens do extermínio dos palestinos é ruim, não porque haja o extermínio dos palestinos, mas sim, porque o Hamas usaria as imagens para denunciar os crimes do sionismo. Isso se tratando de alguém que pede em seu texto para que os jornalistas informem os fatos, não pendam para algum lado ideológico.
Ela, sendo jornalista, deveria apontar para as fontes de onde tirou que as milhares de crianças com fome em um local em que a comida é impedida de entrar por militares, estariam esqueléticas por condições genéticas. No entanto, mesmo que fosse verdade, ainda assim, as crianças com esse tipo de problemas genéticos deveriam ser tratadas, mas, “Israel” impede a entrada de medicamentos, fórmulas especiais para crianças e comida em Gaza. Ou seja, mesmo que as crianças realmente tivessem problemas genéticos, a culpa da falta de tratamento seria de “Israel”.
Ela também se esqueceu de explicar se as pessoas metralhadas nas filas para receber comida também morreram de problemas genéticos, ou se a causa das mortes foram as balas.
E ela insiste na tese:
“A lógica é simples e eficaz. Cada edificação destruída por Israel — muitas vezes usada pelo próprio Hamas como base militar, sejam escolas, hospitais ou mesquitas — é exibida como prova de genocídio.”
As únicas “provas” de que os edifícios são bases militares do Hamas, são as afirmações de “Israel”. No entanto, os sionistas não permitem que pesquisadores e investigadores entrem no território da Faixa de Gaza e vejam se as afirmações são verdadeiras. Fora isso, toda a cidade de Gaza foi destruída. Seria a cidade inteira uma grande base militar?
Na continuação, a bravata de que poucos defensores de “Israel” têm espaço na imprensa burguesa, sendo que ela mesma está fazendo isso em um dos jornais mais lidos do Brasil, continua:
“Pouco espaço é dado a vozes que contestam essa narrativa, como John Spencer, chefe de Estudos de Guerra Urbana de West Point. Segundo ele, genocídio pressupõe intenção de extermínio, o que não ocorre nas operações israelenses, conduzidas sob o Direito Internacional. Israel ataca o Hamas, não o povo palestino. Em combates urbanos, diz Spencer, a média histórica é de nove civis mortos por militante; em Gaza, cerca de 1,5 — índice raro em meio ao caos da guerra. Ainda assim, cada civil morto — muitas vezes usado como escudo pelo grupo terrorista — foi transformado em mártir. A imprensa, ao reproduzir versões sem contexto, tomou o lado do terror.”
Em primeiro lugar, há sim a intenção de extermínio. Jogar bombas em uma cidade só pode significar que o exército responsável tem a intenção de exterminar a população que ali reside. Basta olhar para a operação lançada pela Rússia na Ucrânia e comparar a situação das cidades ucranianas com Gaza.
Fora isso, inúmeras declarações de membros do governo israelenses já deixaram clara a intenção de eliminar a presença de palestinos em Gaza. Há tempos, inclusive, os sionistas advogam pela expulsão dos palestinos e pelo loteamento de Gaza.
As estatísticas apontadas pela jornalista também são muito falsas. Isso porque “Israel” focou seus bombardeios contra civis, matando menos militantes do que alegam e é evidente que a média de mortos de nove civis para um militante só podem ser normais se tratando de um genocídio, o que desmascara o argumento de que não se trata de um extermínio.
Seguindo com o texto:
“Há, claro, diferenças fundamentais entre o regime nazista e o Hamas. Goebbels operava dentro de um Estado totalitário, com controle absoluto sobre os meios de comunicação. O Hamas, apesar de Gaza não ser um Estado, controla as informações que de lá saem — e explora a liberdade da imprensa internacional e a lógica emocional das redes sociais. Não domina a mídia global — a manipula.”
A principal diferença é que Goebbels era pertencente ao nazismo, um tipo específico de fascismo, assim como o sionismo, ideologia dos que apoiam “Israel” e sua política de extermínio dos povos da região.
É engraçado que a suposta manipulação da informação do Hamas, apontada pela autora, nada mais é do que o compartilhamento de coisas que “Israel” de fato faz, como mencionamos acima. A autora usou como exemplo as casas que “Israel” destrói, ou seja, de fato, as casas foram destruídas por “Israel”, não há manipulação em compartilhar as imagens.
Mas ela segue com a tese, se fundamentando apenas no que “Israel” diz:
“De acordo com revelações do Meir Amit Intelligence and Terrorism Information Center, o Hamas dirige e supervisiona a cobertura da Al Jazeera — emissora estatal do Catar — em Gaza, determinando pautas e o que pode ser transmitido. As investigações revelam jornalistas da Al Jazeera em Gaza vinculados à estrutura militar do Hamas. Trata-se de um caso em que o jornalismo deixa de informar para servir a uma causa, não apenas editorialmente. O impacto é profundo: uma rede de alcance global, apresentada como independente, converte-se em braço da máquina de propaganda e molda a percepção internacional.”
“Israel” quer esconder o fato de que assassinou a maioria esmagadora dos jornalistas em Gaza. Para isso, quer dar a entender que eles também eram “terroristas do Hamas”. A ideia também serve para justificar o ataque israelense contra o Catar.
No entanto, as informações não são verdadeiras, já que quem as diz é o Meir Amit Intelligence and Terrorism Information Center, órgão que a autora não diz, mas é israelense.
“A consequência é que parte significativa da opinião pública mundial se tornou porta-voz do Hamas. A tragédia humanitária em Gaza é real, mas o enquadramento — quem é vítima e quem é agressor — tem sido distorcido pela propaganda enganosa. O resultado é uma inversão moral: o grupo que pratica terrorismo ganhou a simpatia das ruas, enquanto Israel, ao se defender, é acusado de crimes contra a humanidade. Ambos, Hamas e Goebbels, compreenderam a importância da narrativa no campo de batalha, transformando a mentira em arma.”
Ou seja, depois de justificar que as crianças e mulheres mortas estariam dentro da da média normal de nove assassinatos de civis para cada um dos militantes, depois de dizer que as pessoas e a estrutura de Gaza seriam escudos humanos do Hamas (e por que isso justificaria que pudessem ser mortas?), depois de justificar o assassinato de jornalistas como sendo militantes do Hamas, a autora diz que “parte significativa da opinião pública mundial se tornou porta-voz do Hamas”. Estaria a jornalista querendo dizer que “Israel”, portanto, teria o direito de explodir o planeta todo?
De qualquer forma, o texto demonstra como “Israel” não consegue mais enganar ninguém. A população mundial está ao lado dos palestinos e, para piorar a situação dos israelenses e do imperialismo, está ao lado da resistência armada da palestina e, principalmente, do Hamas. Isso coloca em xeque a cartada do imperialismo contra o “terrorismo”, que justificou a invasão do Afeganistão, do Iraque, da Síria e todas as ações genocidas de “Israel” ao longo dos anos.




