Em sua coluna na Folha de S.Paulo intitulada O colunismo anti-Supremo, o advogado e professor Georges Abboud se apresenta como defensor da “democracia”, mas o que entrega é um panfleto em defesa do aparato mais antidemocrático do regime brasileiro: o Supremo Tribunal Federal (STF).
Seu texto é uma resposta à jornalista Lygia Maria, que chamou a atenção para o óbvio: o STF virou piada.
Mas Abboud não está rindo. Está indignado, como todo bom capacho. Para ele, questionar ministros que censuram, perseguem, decidem à revelia da Constituição e atuam como partido político do regime golpista é “alimentar o ódio extremista”.
Segundo Abboud, colunistas que criticam o STF “alimentam o ressentimento” e são responsáveis por espalhar desinformação — como se os próprios ministros não se encarregassem disso diariamente, ao legislar por conta própria, prender sem processo, cassar mandatos e perseguir adversários políticos sob o pretexto de combater “fake news”.
Seu raciocínio é simples (e profundamente autoritária): quem critica o STF, ataca a “democracia”. Uma inversão cínica, já que o STF atua como instrumento central do golpe de Estado de 2016, da prisão fraudulenta de Lula, da perseguição ao movimento operário, da censura e da blindagem dos maiores criminosos do País.
Abboud, claro, não menciona nada disso. Para ele, o STF é sagrado. Intocável. Inquestionável. Seus ministros são “vítimas” que “sofrem sanções internacionais por defender a democracia”. É difícil decidir se o colunista acredita mesmo nisso ou se escreve apenas por conveniência de classe — mas, de toda forma, o resultado é o mesmo: um discurso de justificação ideológica do regime bonapartista em vigor.
O alvo direto da coluna de Abboud é a jornalista Lygia Maria, que escreveu um artigo intitulado O STF virou piada. Abboud a acusa de “desinformação”, “falta de leitura” e “irresponsabilidade”, por ter questionado a denúncia contra Sérgio Moro — que, em tom de piada, acusou Gilmar Mendes de vender habeas corpus.
Independentemente da posição sobre Moro — um agente do imperialismo e executor da Lava Jato — o fato é que a crítica de Lygia Maria mira no essencial: o STF atua como polícia política, tornando crime qualquer palavra que desagrade sua majestade togada.
Abboud não discute isso. Sua indignação não é com a violação das liberdades democráticas, mas com o fato de alguém ter ousado rir dos ministros do Supremo. O “crime” de lesa-toga, para ele, é imperdoável.
Abboud afirma que acusar um magistrado de vender decisões “é a mais grave ofensa possível” e que deveria causar comoção semelhante à acusação de que a Folha vende editoriais. Aqui, o colunista expõe o coração do seu argumento: em sua cabeça, ministros do STF estão acima da crítica pública — são como oráculos, não como agentes políticos.
Mas a realidade mostra o contrário: o STF não apenas pode ser criticado, como deve. A “democracia” de Abboud é a democracia dos ricos, onde juízes decidem o que pode ser dito, onde jornalistas devem obedecer ao “tom adequado”, e onde qualquer denúncia contra os donos do poder é “extremismo”.




