O sociólogo Emir Sader publicou, no Brasil 247, um artigo intitulado Os ventos sopram a favor da esquerda, em que afirma que o cenário político atual seria de ascensão e consolidação da esquerda na América Latina — especialmente no Brasil, sob o governo Lula. Segundo Sader, “a direita está derrotada”, “Lula é favorito absoluto em 2026” e o país viveria um “futuro de aprofundamento do caminho que a esquerda está construindo”.
Este é o retrato perfeito do otimismo pequeno-burguês oportunista que se recusa a enxergar a realidade concreta da luta de classes.
A verdade é justamente o oposto: os ventos sopram com força a favor da direita e do imperialismo, e o continente latino-americano atravessa uma das fases mais perigosas desde o ciclo golpista iniciado em 2016.
Enquanto Emir Sader fala em “vitória da esquerda”, a Bolívia acaba de ver a cassação arbitrária da candidatura de Evo Morales, abrindo caminho para a direita abertamente entreguista voltar ao poder. No Peru, o fujimorismo consolidou o golpe dentro do golpe, reprimindo o povo a bala. No Equador, o regime fruto do golpe contra Rafael Correa aprofunda a perseguição judicial e política. Na Argentina, Javier Milei aplica um experimento neoliberal de destruição social, apoiado pelos Estados Unidos e pelos banqueiros.
E mesmo os governos considerados de esquerda — como os de Petro na Colômbia ou Boric no Chile — sofrem forte pressão imperialista e recuam a cada passo, enquanto o imperialismo impõe sanções, bloqueios e chantagens.
A realidade mostra uma ofensiva coordenada do imperialismo norte-americano sobre toda a região. A perseguição a Petro, as novas ameaças contra a Venezuela, as provocações no Caribe e o bloqueio criminoso a Cuba são exemplos diários de que os ventos não mudaram: são os ventos do imperialismo que continuam soprando — e cada vez mais fortes.
Emir Sader, como tantos intelectuais ligados ao PT, confunde estabilidade eleitoral com avanço político. A existência de um governo chefiado por um presidente de esquerda dentro dos marcos do neoliberalismo não significa vitória, mas adaptação ao sistema que oprime o povo.
O problema não é que Sader esteja “enganado”, mas que sua política serve para desarmar a classe trabalhadora, iludindo-a com a ideia de que o inimigo já foi derrotado, quando na verdade está com a iniciativa e prepara planos perigosos para o Brasil.
Esse otimismo reformista é o mesmo que preparou o terreno para o golpe de 2016. Enquanto a ofensiva imperialista se desenvolvia, Sader e companhia celebravam “a consolidação da democracia”.
Sader fala em “favoritismo eleitoral de Lula”, mas o imperialismo não governa com votos: governa com golpes, sanções e repressão. Foi assim no Brasil em 2016, na Bolívia em 2019, no Peru em 2022.
A América Latina vive uma nova etapa da ofensiva imperialista, e apenas a organização independente da classe trabalhadora pode deter o avanço da direita. Isso não se faz com “otimismo eleitoral”, mas com mobilização, enfrentamento e luta, a começar pela solidariedade aos vizinhos que estão sob ataque direto, como Cuba e Venezuela.




