Apesar do que dizem os arautos da conciliação universal, o conflito é algo inevitável. Desde os conflitos internos mais íntimos até brigas familiares, a vida muitas vezes é essencialmente um campo de batalha. Não há como ser diferente no plano social, pois a sociedade é construída sobre conflitos, expressos principalmente na luta de classes.
Na sociedade que vivemos, a luta de classes não é uma escolha, é algo incontornável, e os desarmados da empatia serão os primeiros a serem atropelados pelos tanques da realidade. Quando trabalhadores fazem greves reivindicando aumentos salariais ou quando pessoas são despejadas em favor de empreendimentos imobiliários, está aí a luta de classes se impondo com todas as letras. É preciso vencer essa luta, e para isso é imperativo trocar o discurso da empatia pacifista pelo ódio de classes. Tal ódio não é apenas legítimo, é necessário e desejável para tomar o poder.
Ao entendermos o que causa a desigualdade, o ódio vem, não como um erro moral, mas como uma resposta inevitável. Não se trata de um ódio cego, individualista ou gratuito, mas de um afeto político, coletivo, que identifica quem lucra com a miséria e quem sofre com ela. É esse ódio que impulsionou os franceses a tomarem a Bastilha e os russos a derrubarem a monarquia czarista. Nenhuma transformação radical da sociedade jamais foi movida apenas por esperança ou amor. O motor das guerras de libertação, das revoluções e das rupturas sempre foi um acúmulo de raiva diante da injustiça. O discurso da paz sem conflito interessa apenas aos que já vivem em conforto, enquanto para os de baixo, o ódio organizado é muitas vezes a única chance de romper com séculos de opressão.
Mas eis que surgem os idealistas do “afeto revolucionário”. Falam de “revolução de afetos” com a mesma ingenuidade com que crianças acham que podem domar um tigre com um abraço. Segundo eles, a empatia vai salvar o mundo, dissolver as guerras e trazer um final feliz para a história humana. Bonito no Instagram, patético na vida real. Enquanto esses iluminados da paz falam de desarmar corações, os senhores da guerra e do capital enchem seus arsenais. E estão à espreita para nos massacrar.




