O artigo O rei Trump está nu!, assinado por André Barroso e publicado pelo portal Brasil 247, é um exemplo típico de como a esquerda pequeno-burguesa vê o governo do presidente norte-americano Donald Trump. Segundo ele, Trump, ainda que tenha sido eleito por 77 milhões de norte-americanos, seria uma espécie de alienígena, uma pessoa que seria completamente diferente de tudo o que existe na política mundial.
“Trump, que já postou sua própria imagem como Papa, se considerava ganhador do prêmio Nobel da paz e recentemente como rei do mundo, não tem ninguém ao seu redor que fale que foi longe demais”, diz o autor.
Como assim, “longe demais”? O que de tão excepcional teria feito Trump, exatamente?
O bombardeio do Iêmen, o apoio militar ao Estado de “Israel”, o envio de tropas para o Mar do Caribe — tudo isso são, sem dúvida, crimes. E Trump, enquanto chefe do governo, tem responsabilidade sobre eles. Mas e as bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasáqui, foi Trump quem jogou? E a própria guerra na Faixa de Gaza, foi Trump quem começou? E as incontáveis guerras genocidas na África? E os golpes militares na América Latina? Esses eventos tenebrosos não apenas não foram obra de Trump, como foram, em sua maioria, obra do seu partido rival, o Partido Democrata.
Diante de uma lista infindável de crimes cometidos pelo imperialismo, é sério mesmo que a grande preocupação do articulista é com Trump gerar uma imagem de si próprio como papa?
Tudo fica ainda mais ridículo quando Barroso começa a invocar seus salvadores:
“Kristi Noem, Tom Homan, Marco Rubio, Michael Waltz, Scott Bessent, a cozinheira da casa branca e até o cachorro estão estarrecidos, mas ninguém se opõe ou tenta falar a verdade para o presidente americano.”
Ora, mas se Trump teria ido “longe demais”, o que o autor espera que fará Marco Rubio? Este é um dos principais “falcões” infiltrados no governo Trump, um representante da face mais agressiva e belicista do governo norte-americano.
Os próprios oprimidos reconhecem isso. O presidente venezuelano Nicolás Maduro, em mais de uma oportunidade, afirmou que a decisão de aumentar a pressão sobre o seu país vinha de Rubio, e não do próprio Trump.
Rubio não é trumpista. Ele, inclusive, concorreu com Trump nas eleições. Ele foi colocado no governo porque foi uma pressão tanto dos democratas como de setores do Partido Republicano para que o imperialismo tivesse uma pessoa de confiança no governo. Afinal, esta posição, da política externa, é uma posição vital para o imperialismo.
Este caso retrata bem a desorientação da esquerda pequeno-burguesa. Trump não apenas não é alguém particularmente mais agressivo, como sequer representa o setor mais agressivo de seu governo. Ao fim e ao cabo, o que faz de Trump diferente de burocratas como Barack Obama e Marco Rubio são justamente as questões completamente inúteis que chocaram o autor: as jogadas publicitárias exóticas do presidente.
Na prática, ao apresentar o discurso de Trump como maior preocupação para a esquerda, Barroso se revela como um apoiador daqueles que, sem o exotismo de Trump, representam uma política ainda mais criminosa. Barroso e toda a esquerda pequeno-burguesa que seguem a mesma política são papagaios da política oficial do imperialismo.




