O novo texto de Emir Sader sobre a Bolívia é mais um capítulo de sua campanha contra a esquerda latino-americana. O colunista do Brasil 247 repete o mesmo discurso da imprensa burguesa que tenta reescrever a história recente da Bolívia como se o país tivesse sido vítima apenas de uma “divisão interna”, e não de um golpe de Estado orquestrado pelo imperialismo em 2019.
Sader afirma que “pela primeira vez o MAS foi excluído do segundo turno” porque Evo Morales e Luis Arce teriam travado uma disputa pessoal. É uma mentira descarada. O que levou ao fracasso da esquerda boliviana nas eleições foi a política de conciliação de Arce com os golpistas, a repressão aos camponeses cocaleros e a perseguição judicial a lideranças nacionalistas. A desarticulação da economia e a crise que assolam o país não nasceram de “brigas entre líderes”, mas da capitulação do governo Arce diante da pressão neoliberal do grande capital.
Ao fingir que o problema da Bolívia é o “personalismo” de Morales, Emir Sader inverte completamente a realidade: foi Morales quem, após o golpe, garantiu a vitória de Arce.
Não há “luta fratricida” — há uma luta de classes. De um lado, Evo Morales e o movimento camponês, dos índios e dos operários; de outro, a oligarquia boliviana a serviço do imperialismo, que corrompeu Luis Arce para que este traísse a sua base.
Sader fala em “crise econômica”, mas não menciona uma única vez o nome dos responsáveis: os Estados Unidos, o FMI e as multinacionais que saquearam o país. Não diz que o governo Arce entregou o controle do lítio às potências estrangeiras, tampouco que a repressão brutal ao movimento cocalero abriu caminho para a volta da direita. Ao reduzir tudo a um “legado desarticulado”, faz apologia da direita e exonera o imperialismo de sua responsabilidade.
Mais uma vez, Sader escreve como funcionário ideológico da frente ampla latino-americana. Isto é, da submissão do movimento popular aos golpistas que querem submeter a região à dominação total do imperialismo.




