“O amadurecimento da esquerda exige superar as nostalgias autoritárias e assumir a democracia como campo estratégico irrenunciável.”
Assim começa o sermão de Rodrigo Ghiringhelli, professor da PUC-RS, em seu texto O dilema venezuelano, publicado pelo portal A Terra é Redonda. A ladainha é a de sempre: a de quem fala em “democracia” para justificar a submissão completa da América Latina ao imperialismo norte-americano.
Ghiringhelli diz que o “pressuposto para qualquer análise séria da situação venezuelana é admitir que o processo que reconduziu Nicolás Maduro ao poder careceu de legitimidade democrática”. Ou seja, a “análise séria” é aquela que parte da propaganda imperialista. O que vale é o veredito do Carter Center, financiado pelo próprio governo norte-americano, e da imprensa burguesa.
O autor escreve: “O Conselho Nacional Eleitoral recusou-se a divulgar resultados desagregados por mesa; a observação internacional apontou violações dos padrões mínimos”. Eis a fórmula: qualquer detalhe técnico vira prova de “fraude”, qualquer limitação — fruto do próprio bloqueio imperialista — é transformada em “fechamento do regime”. Mas o que ele chama de “observação internacional” nada mais é do que o velho mecanismo de tutela dos Estados Unidos.
Curiosamente, Ghiringhelli chega ao cúmulo de citar Gabriel Boric, o presidente chileno que reprime estudantes e apoia o genocídio em Gaza, como modelo de “nova esquerda com compromisso democrático”. Segundo ele, Boric teria mostrado “clareza” ao afirmar que “a defesa da autodeterminação dos povos não pode servir como escudo para governos que violam direitos civis”.
A frase resume bem sua política servil: o imperialismo bombardeia países e bloqueia economias inteiras, mas quem “viola direitos civis” é o governo que resiste.
No final, Ghiringhelli exalta o Prêmio Nobel da Paz concedido à opositora María Corina Machado, “não como celebração liberal, mas como reconhecimento a uma resistência cívica contra a deriva autoritária”. A “resistência cívica” de que fala é a oposição fascista que pediu abertamente intervenção militar dos Estados Unidos, que queimou militantes chavistas em praça pública e que organizou sabotagens e atentados em território venezuelano. Essa é a “democracia” que o autor defende.
Só o povo venezuelano tem o direito de decidir sobre seu governo e sobre o seu processo eleitoral. Nenhum “observador internacional”, nenhuma ONG financiada pelo imperialismo e nenhum governo submisso à Casa Branca pode impor regras à Venezuela. O governo Maduro é apoiado pelas massas trabalhadoras, como se viu durante todo o processo eleitoral e após ele, quando o povo tomou as ruas para derrotar os protestos reacionários da oposição.
A “democracia” de Ghiringhelli é a ditadura do imperialismo: aquela em que o povo só pode votar quando vota “certo”, e perde o direito à soberania quando elege quem desafia os seus interesses. É a “democracia” das sanções, das bombas e das missões humanitárias que vêm com fuzis.




