Fabricantes de armas israelenses estão celebrando o recente cessar-fogo em Gaza não pelo alívio humanitário que ele proporciona, mas pela chance de reaquecer negócios com clientes europeus. Segundo a reportagem exclusiva do portal The Cradle, publicada em outubro de 2025, com dados corroborados pelo portal econômico israelense Calcalist, executivos de empresas como Elbit Systems e Rafael Advanced Defense Systems, expressam otimismo de que a pausa nas hostilidades permitirá retomar exportações que despencaram nos últimos meses, devido ao escrutínio internacional sobre o uso de suas tecnologias no conflito.
A matéria detalha que o declínio nas vendas para a Europa – um mercado crucial para Israel, representando uma fatia significativa das exportações armamentistas – foi estimado em até 40% em alguns setores, conforme reportado pelo Calcalist. Esse impacto é atribuído diretamente à intensificação do conflito em Gaza, que gerou críticas globais e levou governos europeus a suspenderem ou revisarem contratos. Fontes anônimas da indústria, citadas no texto, revelam que o “estigma” associado às operações militares israelenses afastou compradores tradicionais, afetando produtos como sistemas de vigilância, veículos aéreos não tripulados (VANTs) e mísseis guiados.
Um executivo sênior da Elbit Systems, maior exportadora de armas de Israel, declarou: “Finalmente, uma pausa que nos permite reconectar com nossos parceiros europeus sem o peso da cobertura negativa”. A empresa, que reportou receitas bilionárias em anos anteriores, viu pelo menos 15 contratos significativos serem pausados desde o escalonamento das tensões em outubro de 2023, conforme dados do Calcalist. Da mesma forma, a Rafael, conhecida por tecnologias como o sistema de defesa antiaérea “Domo de Ferro”, enfrenta perdas na casa de dezenas de milhões de dólares, com seus líderes admitindo, em discussões internas, que o conflito em Gaza criou um obstáculo comercial inesperado.
A reportagem destaca o planejamento estratégico pós-cessar-fogo: o Ministério da Defesa israelense, por meio de sua agência de exportação SIBAT, já agenda participações em feiras armamentistas na Europa, como em Paris e Londres, com demonstrações de produtos que evitam qualquer menção direta ao uso em Gaza. Essa abordagem busca “limpar” a imagem das tecnologias, promovendo-as como soluções inovadoras para segurança de fronteiras e defesa, desvinculadas do contexto controverso do conflito.
As exportações israelenses de armas para a Europa caíram drasticamente, com países como Alemanha, França e Reino Unido – antes compradores ávidos – impondo restrições informais. A análise do The Cradle, corroborada pelo Calcalist, aponta para um padrão histórico, no qual inovações testadas em cenários reais de conflito, como nos territórios palestinos, são posteriormente comercializadas globalmente. Contudo, o atual backlash europeu representa um revés raro para a indústria.
“Temos as melhores tecnologias do mundo, que se comprovaram nos últimos dois anos. A Europa sabe disso e, quando a guerra em Gaza sair da agenda global, será possível renovar os processos de promoção de acordos. Estou definitivamente otimista”, disse outro gerente de marketing de uma grande empresa de defesa.





