Se observamos os principais meios de comunicação brasileiros, fica evidente que o debate econômico promovido por todos eles é exclusivamente liberal. Sintonizando a GloboNews, encontramos discussões liberais. Lendo a Folha de S. Paulo, o mesmo predomínio se repete. No Estadão e na Zero Hora, a situação é idêntica. No Valor Econômico, nem é preciso comentar. Apesar de, por vezes, adotarem posturas mais ortodoxas ou menos ortodoxas, o fato é que nada se afasta da cartilha liberal, e isso tem contribuído para a imbecilização do debate econômico no país.
O consenso liberal foi construído em torno da aceitação acrítica da “necessidade de o Estado cortar gastos”, principalmente por meio da redução do orçamento público. O problema é que os liberais não estudam o Brasil de forma concreta e ignoram que cerca de metade do orçamento nacional é consumida anualmente pela dívida pública, que é de longe o maior gasto do governo federal. Por que não propõem o cancelamento da dívida, como fez a Rússia? A hegemonia do pensamento liberal é tamanha que nem mesmo medidas moderadas são consideradas, como a estatização do sistema financeiro adotada pela China, pois isso também contraria a cartilha liberal. Na prática, é impossível redirecionar a dívida para os setores produtivos da economia enquanto os bancos privados permanecem como estão.
Outro dogma absurdo do liberalismo é a redução do número de funcionários públicos. Ignora-se que o Brasil possui menos servidores do que a média da OCDE e que a maioria desses trabalhadores ocupa cargos de baixo escalão, com salários de até cinco mil reais.
Entretanto, a medida mais prejudicial do receituário liberal é, sem dúvida, a venda de empresas estatais para acionistas estrangeiros. Nenhum país relevante no mundo permitiria isso. Os EUA venderiam a NASA a um grupo de investidores aleatório, colocando em risco seu pioneirismo em tecnologia espacial? Algum país europeu aceitaria que seu sistema elétrico fosse dominado por empresas estrangeiras, como ocorre em parte dos estados brasileiros? A China abriria mão de seu complexo industrial nacional para voltar a ser controlada por estrangeiros? Claro que não. Apenas países colonizados, como o Brasil, consideram seriamente propostas como a privatização da Petrobras, arriscando transferir para fora do país quase toda a receita proveniente da exploração de petróleo.
O problema central da dominação liberal no debate econômico é que até mesmo reivindicações urgentes, como a redução da carga tributária sobre os mais pobres, acabam sendo questionadas. Para o liberalismo, a solução fiscal gira em torno de uma vaga ideia de “redução da carga tributária”, sem distinguir quem deve ser beneficiado. Em vez de propor menos impostos para os pobres e aumentos significativos para o 1% mais rico, persistem-se receituários fracassados que aprofundam desigualdades.
Na realidade, o caminho que precisamos seguir é aquele adotado por países que, partindo da pobreza, conseguiram se desenvolver: aumentar o investimento público e direcioná-lo para o setor produtivo, especialmente a indústria, e, ao mesmo tempo, elevar a produtividade do trabalho. Essa combinação permite expandir o PIB nacional, gerar empregos de qualidade e tornar a economia novamente competitiva no cenário internacional. Nada disso será possível se continuarmos seguindo o receituário liberal, que prioriza cortes de gastos, privatizações e receitas que não estimulam a produção ou o crescimento real do país.




