Polêmica

Quem critica ‘violência’ do oprimido está do lado do opressor

Jornalista equipara a violência do oprimido com a do opressor. Em outras palavras, nega o direito dos palestinos a se levantarem em armas contra o genocídio

Hamas

O artigo Israel e Palestina, um acordo sem esperança, assinado por Marcelo Coelho e publicado no sítio Poder360 nesta segunda-feira (13), tira a “brilhante” conclusão de que “Israel” sempre roubou e matou palestinos, vai continuar fazendo isso, e que aqueles que reagem, no caso o Hamas, são terroristas e os palestinos devem se livrar deles.

Na cabeça do jornalista, existe um fato consumado, os sionistas cometem seus crimes e a vida é assim mesmo, os incomodados que se conformem. Para ele, que assiste a tudo atrás do vidro, está tudo certo, mas os palestinos, que sofrem, reagem, lutam; pois, como eles mesmos já disseram, existem apenas duas possibilidades: viver dignamente, ou morrer com dignidade.

A legenda, sob uma fotografia de prédios destruídos em Gaza, diz que “Resolvido o problema dos reféns, só uma longa e demorada conscientização sobre o que de fato aconteceu com os inocentes de Gaza poderá modificar o quadro”. Longa e demorada quanto? Há cem anos, pelo menos, os palestinos são massacrados e nada de ‘modificação do quadro’.

Um pequeno-burguês pode esperar indefinidamente; já os palestinos, oprimidos, que estão conscientes do problema de lidar com o sionismo/imperialismo, agem. Uma consciência que não se transforma em prática, em ação, não serve para nada.

Há ainda algo a dizer: o jornalista fala dos prisioneiros israelenses, mas não diz uma única palavra sobre os milhares de palestinos sequestrados, presos e torturados nas prisões sionistas. E isso demonstra o quanto ele está preocupado com o povo palestino.

Nada mudou?

Coelho, de início, diz que “melhor do que estava, certamente vai ficar. Mas a troca de reféns e o cessar-fogo na guerra de Gaza estão longe de representar (…) um progresso real para a região”. A resistência palestina se tornou o evento mais importante deste século, fez com que o mundo todo voltasse sua atenção, solidariedade com sua luta e repulsa contra o Estado genocida de “Israel”. Se fosse apenas isso, já seria um grande progresso.

O jornalista afirma que “as forças israelenses saíram totalmente vitoriosas do conflito. O compromisso, no momento, é que se retirem de uma parte de Gaza; continuarão ocupando 53% do território”. E isso é absolutamente falso.

Primeiramente, a história não atua em linha reta, não se pode esperar que os palestinos, desde 7 de outubro de 2023, quando se iniciou a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, retomassem os territórios ocupados e criassem o Estado da Palestina. No entanto, deram um passo decisivo, formou-se um ponto de inflexão, pois a resistência mostrou a fragilidade de “Israel” e desmascarou o “mundo civilizado”, que atuou conjuntamente com os genocidas. Hoje, o mundo já não é mais o mesmo.

Toda a operação de propaganda, que tomou impulso nos anos 1980, desde a guerra no Líbano, que contou com bilhões em investimento na compra de jornalistas, meios de comunicação, cinema etc., foi tudo por água abaixo. Os sionistas mostraram sua verdadeira face, e esta não pode mais ser escondida.

Números do governo sionista apontam que existem 20 mil soldados feridos, o turismo chegou basicamente a zero, a convocação de reservistas provocou um enorme problema no mercado de trabalho, o porto de Eilat faliu, a dívida pública aumentou e o governo Netaniahu enfrenta uma crise terrível, com abalos na base governista e a pressão nas ruas.

Isso não se parece nada com uma vitória, é exatamente o contrário, uma tremenda derrota. O imperialismo impôs um cessar-fogo, pois sabe que “Israel” estava à beira de uma derrota fragorosa, por isso resolveu agir.

Existe ainda outra questão, nos países imperialistas o aumento de manifestações, mesmo sob grande repressão, estava desestabilizando os governos. A Itália por exemplo, enfrentou duas greves gerais. Nos Estados Unidos, mesmo a direita está se dividindo em seu apoio aos sionistas, pois para proteger os genocidas é preciso controlar meios de acesso às redes, como no caso do TikTok, e isso tem gerado revolta na população, que começa a entender de quem é a responsabilidade.

O apoio a “Israel” custou a reeleição de Biden/Harris. Pesquisa recente mostra que 61% dos judeus americanos acreditam que os sionistas estão cometendo crimes de guerra, e 40% acham que está sendo praticado genocídio. No entanto, entre a comunidade jovem judaica americana, de 40 o índice sobe para 50%.

Impunidade x resistência

Para Marcelo Coelho, é muito difícil acreditar que, algum dia, essa ‘faixa dentro da faixa’ possa ser devolvida aos palestinos. Por que haveria de ser?”. Em seguida, fala que “700 mil colonos já estabelecidos ilegalmente na região”. Esse jornalista não crê porque se rendeu, não denuncia a conivência da ONU, ou a cumplicidade do “Ocidente”.

Segundo escreve, “o projeto radical, claramente, é tomar conta de tudo. (…) Quem acredita que, no futuro, alguma pressão da ‘comunidade internacional’ poderá barrar um expansionismo que, mesmo em situações anteriores, onde havia maior equilíbrio de forças, prosseguiu tranquilamente?”.

Quanto a isso, os sionistas disseram que tomariam Gaza, não o fizeram, e esse é mais um sinal da derrota. E se ninguém faz nada, ou se mesmo pressão internacional não resolve, por que o jornalista condena quem luta?

A culpa é da vítima

Absurdamente, Coelho escreve que o plano que custou a vida de dezenas de milhares de palestinos e a destruição praticamente total de Gaza. O Hamas, tanto quanto Israel, é responsável por essa tragédia”. Sim, as lutas de libertação, historicamente, custam muitas vidas. Por outro lado, é um crime dizer que o Hamas também é responsável por essa tragédia, pois os palestinos não são uns covardes que vão aceitar serem massacrados sem reagir.

A reação do povo palestino é legítima e é amparada pelo direito internacional.

Outro absurdo foi dizer que “houve de pura crueldade e selvageria na matança terrorista promovida pelo Hamas em 2023”. O senho Marcelo Coelho é jornalista da grande imprensa, sabe muito bem como funcionam as mentiras e distorções da realidade que esses meios promovem.

Felizmente, graças à internet, que o imperialismo quer censurar, depoimentos de colonos e soldados israelenses comprovam que as mortes de civis foram obra do Protocolo Aníbal executado por “Israel”, que ordenou que tanques e helicópteros abrissem fogo.

Ingenuidade?

No último parágrafo, Marcelo Coelho alega que “por enquanto, a violência de uns venceu a violência de outros, sem justiça para os mortos, e sem justiça para os vivos”.

Começando pelo final, justiça para o Hamas é dizer que a resistência é composta de heróis. Para os sionistas, Netaniahu e seus colaboradores, cadeia seria o mínimo.

Na questão da violência, o pacifismo torto de Coelho, a crítica à violência é uma verdadeira aberração. Não se pode comparar a violência do oprimido com a do opressor.

Condenar a violência abstratamente, quando não é ingenuidade, e parece que não é mesmo esse o caso, é estar do lado de quem oprime. Não pode haver dúvida quanto a isso. Alguém condenaria um escravo por se levantar em armas contra os senhores? Pois o mesmo deve ser dito do povo palestino. Tudo o que eles fizerem em nome de sua libertação contra os colonizadores está previamente justificado.

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