O Esquerda Online publicou recentemente um texto entusiasmado sobre os atos do dia 21 de setembro, afirmando que “a juventude e o povo brasileiro voltaram a ocupar as ruas” e que o episódio teria marcado “um reencontro da esquerda com sua força social”. Para o portal e para os agrupamentos que o compõem — RUA, Afronte! e Juventude Sem Medo —, as manifestações teriam derrotado “a extrema direita e a PEC da Bandidagem”, reacendendo o “espírito da luta popular”.
Trata-se, evidentemente, de uma leitura idealista, superficial e, sobretudo, falsa do ponto de vista de classe. O que o Esquerda Online chama de “reencontro da esquerda com o povo” nada mais é do que a capitulação completa da esquerda pequeno-burguesa ao imperialismo e à rede Globo, que convocaram e dirigiram os atos.
O Esquerda Online afirma que o 21 de setembro foi “um reencontro da esquerda com sua força social”. Mas qual esquerda? E qual povo?
As fotos, os vídeos e as próprias declarações dos organizadores não deixam dúvida: não foi o povo trabalhador que ocupou as avenidas. Foram os setores médios da classe média urbana, o mesmo público que frequentou as manifestações da Lava Jato, de 2015 e 2016. As mesmas bandeiras verde-amarelas, os mesmos artistas globais, o mesmo moralismo cívico que a burguesia sempre utilizou para canalizar a insatisfação popular em favor de golpes e manobras institucionais.
O Esquerda Online fala em “explosão de cores, cantos e bandeiras”, mas não menciona a cor vermelha, símbolo da luta operária, que desapareceu das ruas — substituída pela estética “democrática” e higienizada da Globo.
Como chamar isso de ato popular?
O texto diz que o povo foi às ruas “contra a blindagem de corruptos”. Aqui está o núcleo da questão.
Essa palavra de ordem — “contra a corrupção” — é o instrumento predileto do imperialismo para desmoralizar instituições políticas nacionais e submeter países inteiros ao controle dos tribunais e da mídia.
Foi assim na Operação Lava Jato, foi assim em 2016, e é assim agora.
A PEC das Prerrogativas — demonizada como “PEC da Bandidagem” — não era uma invenção de corruptos, mas a restauração de um princípio democrático elementar: que parlamentares só possam ser processados com autorização da casa legislativa. Isso é o que existe em qualquer país que pretenda ter separação de poderes. Mas, para o Esquerda Online, defender isso é “blindagem”. Ou seja: a esquerda está reproduzindo o discurso da Globo e do STF, os mesmos instrumentos do golpe contra Dilma e da prisão de Lula.
O Esquerda Online comemora que a pressão das ruas levou o Senado a arquivar a PEC. Ora, quem realmente venceu? Não foi o povo. Foi o STF.
A corte mais reacionária e antipopular do país saiu fortalecida. Enquanto trabalhadores seguem sem direitos, e o Judiciário segue proibindo greves e manifestações, a esquerda pequeno-burguesa grita “vitória”, porque ajudou a Globo a preservar o poder absoluto dos juízes. Chamar isso de “ato de soberania” é uma inversão grotesca da realidade.
O texto tenta, sem sucesso, se apropriar do discurso anti-imperialista. Diz que “a luta contra o genocídio na Palestina é parte da luta contra o imperialismo”, e que “Lula se apoiou na maré popular para denunciar os EUA na ONU”.
Mas se o 21 de setembro foi dirigido pela rede Globo, financiado por ONGs ligadas a George Soros e acompanhado de aplausos do STF — como pode ser anti-imperialista? O imperialismo não é derrotado com shows de Caetano Veloso e hashtags patrocinadas. Ele é derrotado com a mobilização independente da classe trabalhadora, com greves, ocupações e com a denúncia aberta dos seus agentes no Brasil — inclusive do Judiciário e da imprensa.
O Esquerda Online mistura a bandeira da Palestina com a bandeira verde-amarela da Globo, transformando o anti-imperialismo em peça de marketing. É o mesmo desvio que leva certos grupos a aplaudirem o STF por prender “bolsonaristas” — sem perceber que o próximo preso será o militante de esquerda que ousar desafiar o regime.
O texto se orgulha da “unidade” entre Boulos, Érika Hilton, Mídia Ninja, 342 Artes, rede Globo e Frente Brasil Popular.
Essa “unidade” é a mesma que em 2013 levou milhões às ruas contra “a corrupção” e abriu caminho para o golpe de 2016. É a mesma “unidade democrática” que desarmou a classe trabalhadora e entregou o governo ao STF e às Forças Armadas.
O 21 de setembro foi uma miniatura das revoluções coloridas organizadas pelo imperialismo. Uma tentativa de recolocar a esquerda sob a batuta do imperialismo, com estética de protesto e conteúdo de golpe.




