O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) anunciou na noite desta quarta-feira (8), horário de Brasília, que chegou a um novo acordo de cessar-fogo com o regime sionista, mediado por Catar, Egito e Turquia e com concordância dos Estados Unidos. O entendimento prevê o fim imediato da guerra contra a Faixa de Gaza, a retirada completa das forças de ocupação, a entrada de ajuda humanitária e a troca de prisioneiros palestinos e cativos israelenses.
Leia o comunicado oficial do Hamas na íntegra:
“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
Após negociações responsáveis e sérias conduzidas pelo Movimento e pelas facções da resistência palestina a respeito da proposta do presidente Donald Trump em Xarm el-Xeikh, com o objetivo de alcançar o fim da guerra de extermínio contra o nosso povo palestino e a retirada da ocupação da Faixa de Gaza; o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) anuncia ter chegado a um acordo que estipula o fim da guerra em Gaza, a retirada das forças de ocupação, a entrada de ajuda humanitária e a troca de prisioneiros.
Apreciamos profundamente os esforços dos irmãos mediadores no Catar, no Egito e na Turquia, e também valorizamos os esforços do presidente norte-americano Donald Trump voltados a pôr fim definitivamente à guerra e garantir a retirada completa da ocupação da Faixa de Gaza.
Conclamamos o presidente Trump, os Estados garantes do acordo e as diversas partes árabes, islâmicas e internacionais a obrigarem o governo de ocupação a cumprir integralmente as exigências do acordo, sem permitir que ele se esquive ou procrastine na aplicação do que foi pactuado.
Saudamos nosso grande povo na Faixa de Gaza, em Al-Quds, na Cisjordânia e dentro e fora da pátria, que registrou posições incomparáveis de glória, heroísmo e honra, enfrentando os projetos fascistas de ocupação que os visavam e atacavam seus direitos nacionais; esses grandes sacrifícios e posturas frustraram os planos da ocupação “israelense” de submissão e deslocamento.
Afirmamos que os sacrifícios do nosso povo não serão em vão e que permaneceremos fiéis ao pacto, não abandonando os direitos nacionais até que sejam alcançadas a liberdade, a independência e a autodeterminação.
Movimento de Resistência Islâmica – Hamas
Quinta-feira, 17 de Rabi‘ Al-Akhir de 1447 / 9 de outubro de 2025”
Primeira fase do acordo
Segundo o presidente norte-americano Donald Trump, tanto o Hamas quanto o regime sionista “assinaram a primeira fase” do chamado plano de paz. Em sua rede Truth Social, Trump escreveu: “estou muito orgulhoso de anunciar que Israel e Hamas aprovaram a primeira fase do nosso plano de paz. Todos os reféns serão libertados muito em breve, e Israel retirará suas tropas até uma linha acordada”.
O Catar, que atuou como um dos principais mediadores, informou que o acordo inclui o fim das operações militares, a libertação dos prisioneiros israelenses e dos reféns palestinos, e a entrada de ajuda humanitária. De acordo com fontes egípcias ouvidas pelo jornal Al-Araby, o pacto prevê inicialmente a entrada de 400 caminhões de ajuda por dia durante cinco dias, após o que o fornecimento deixará de ter limite diário, sob coordenação de instituições internacionais.
Ainda conforme as mesmas fontes, o exército sionista deverá cessar completamente as operações militares no momento em que o acordo entrar em vigor, e os prisioneiros começarão a ser libertados 72 horas depois. O entendimento completo será implementado em três fases.
Negociações e composição das delegações
As conversações ocorreram no balneário egípcio de Xarm el-Xeikh, reunindo delegações do Hamas, do regime sionista e dos países mediadores. Participaram, do lado palestino, os dirigentes Khalil al-Hayya e Zaher Jabarin, sobreviventes de uma tentativa de assassinato sionista em Doha, no mês passado. Também integram o processo representantes da Jiade Islâmica Palestina, que mantém sob sua custódia parte dos prisioneiros israelenses.
Do lado norte-americano, estiveram presentes o genro de Trump, Jared Kushner, o enviado especial Steve Witkoff e o ministro de Assuntos Estratégicos do governo Netaniahu, Ron Dermer. O primeiro-ministro do Catar, xeque Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, e o chefe da inteligência turca também participaram das tratativas.
O chanceler turco Hakan Fidan afirmou que as negociações “avançaram significativamente” e que, alcançado o resultado final, “o cessar-fogo será declarado”.
Declaração sobre os prisioneiros palestinos
Em comunicado próprio, o chefe do Escritório dos Mártires e Prisioneiros do Hamas, Zaher Jabarin, confirmou o andamento da etapa relacionada à libertação dos palestinos detidos:
“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
No contexto do acordo em andamento para o cessar-fogo e a cessação da agressão contra o nosso povo em Gaza, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) confirma que apresentou as listas de prisioneiros palestinos segundo os critérios acordados no âmbito do pacto.
Aguardamos a aprovação final dos nomes, como preparação para anunciá-los ao nosso povo por meio do Escritório de Informação dos Prisioneiros, imediatamente após a conclusão dos procedimentos e entendimentos pertinentes.
O Hamas renova seu compromisso com os nossos valentes prisioneiros e suas famílias, assegurando que eles permanecerão no centro das suas prioridades, e que o Movimento não descansará até que o último prisioneiro goze de liberdade.
Zaher Jabarin
Chefe do Escritório dos Mártires e Prisioneiros do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas)
Quinta-feira, 17 de Rabi‘ Al-Akhir de 1447 / 9 de outubro de 2025”
O povo comemora
Em Gaza, deslocados e feridos receberam a notícia com lágrimas e gritos de alegria, ainda sob o som de bombardeios noturnos no bairro de Sabra, ao sul da Cidade de Gaza. Drones israelenses continuavam a sobrevoar a região de Mawasi enquanto explosões ecoavam. Apesar da violência ainda em curso, o anúncio foi saudado como uma vitória da resistência palestina após um ano de massacres e destruição sem precedentes.
Abaixo, moradores de Gaza celebram no Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, no centro da Faixa de Gaza, diante do anúncio do novo acordo de cessar-fogo:
Pouco tempo depois do anúncio, Izzat Al-Rishq, membro do birô político do Hamas, emitiu um comunicado comemorando o acordo e ressaltando como representa uma vitória para a luta do povo palestino:
“O cessar-fogo é fruto dos grandes sacrifícios, da lendária paciência do nosso povo e da força e firmeza da resistência.
Este acordo nasce de nossa responsabilidade histórica com nosso grande povo, de nosso compromisso com nossos direitos legítimos, e representa a culminação das conquistas alcançadas por nossa resistência no dia 7 de outubro.
O acordo de cessação da agressão é uma conquista nacional por excelência, que encarna a unidade do nosso povo e sua firme adesão à opção da resistência como meio de enfrentar a ocupação sionista.
Em todas as etapas das negociações, nossos olhos e corações estiveram com nosso povo em Gaza; aquele sangue puro e aqueles grandes sacrifícios têm um pacto de redenção e lealdade.
O que a ocupação não conseguiu alcançar por meio do genocídio e da fome ao longo de dois anos inteiros, tampouco conseguiu obter por meio da negociação.”





