Os recentes ataques contra o Hamas e a resistência palestina feitos por setores da esquerda apenas comprovam a sua adesão ao imperialismo, ainda que travestida de uma suposta crítica progressista. O caso mais recente, publicado no site Opinião Socialista sob o título Revolução Permanente e Guerra na Palestina, é exemplo claro disso. Eduardo Almeida, autor do texto, abre afirmando que o Hamas “se opõe a Israel” e que o partido “ganhou as eleições no território palestino em 2006”, fatos incontestáveis. No entanto, o que se segue é uma série de ataques contra o Hamas que, na realidade, são um ataque à resistência palestina. O autor critica o programa do partido por não ser “revolucionário socialista”, o que revela uma confusão deliberada entre os objetivos de luta de um povo oprimido e as fantasias programáticas de uma esquerda pequeno-burguesa que se recusa a enfrentar o inimigo real.
Ao longo do texto, Almeida condena o Hamas por manter “alianças com as burguesias regionais” e critica o chamado “Eixo de Resistência” – composto por países como Irã, Síria e Líbano – por não romperem com o imperialismo. Aqui reside o cerne da capitulação de grupos como o PSTU, representado por Almeida, ao identitarismo e, por conseguinte, ao imperialismo. Sua análise do Hamas não parte da defesa incondicional da luta palestina, mas sim de uma lógica identitária que coloca a questão de “mulheres e LGBTQ” acima da luta anti-imperialista.
Tal postura revela a completa capitulação diante da política imperialista, que usa o identitarismo como arma contra movimentos de libertação nacional. Como se fosse mais importante para a Palestina ter uma “Palestina laica, democrática e não racista”, como prega o autor, do que acabar com a brutal ocupação sionista.
Soraya Misleh, também do Opinião Socialista, publicou recentemente Palestina Resiste em Meio à Nova Fase da Nakba, um texto longo sobre a resistência palestina que não menciona sequer uma vez o Hamas. Trata-se de um caso clássico de esquerdismo abstrato, que finge apoiar a causa palestina enquanto se recusa a mencionar a principal força de resistência em campo. Se um autor escreve quase 9 mil caracteres sobre a luta do povo palestino sem sequer citar o partido que organiza essa resistência, ele está simplesmente prestando um desserviço à causa.
É um esquerdismo de fachada, incapaz de apoiar o que realmente importa na luta palestina. Ao se calarem sobre o Hamas, esses setores da esquerda alinham-se, consciente ou inconscientemente, ao imperialismo que busca minar a resistência palestina.
No artigo Como o 7 de Outubro nos Mudou a Todos – e o Que Significa para Nossa Luta, publicado no Esquerda, vemos um exemplo ainda mais explícito do alinhamento ao imperialismo. O texto descreve os ataques do Hamas em 7 de outubro como “massacres” e fala sobre uma suposta “carnificina brutal”. Não há qualquer menção ao massacre permanente que a ditadura sionista perpetra contra os palestinos há décadas, uma omissão que revela o caráter sionista, ainda que disfarçado, desse tipo de análise.
Ao equiparar a luta dos oprimidos aos métodos brutais dos opressores, esse artigo não faz mais do que justificar a ocupação e o genocídio israelense. Mais ainda, ao falar sobre o “colapso do sentimento de segurança” de “Israel”, o artigo naturaliza a existência do enclave imperialista, omitindo o fato de que o próprio Estado sionista é, em si, uma estrutura de opressão e violência.
Esse tipo de crítica ao Hamas, que finge objetividade ao atacar o que chamam de “alianças equivocadas” ou “massacres”, é a mesma crítica que a imprensa burguesa faz. É o que vemos no artigo do Esquerda Online, O Que é o Hamas?, onde as alianças políticas do Hamas com o Irã, Catar e Turquia são criticadas. Mas essa crítica, na verdade, não tem nada a ver com a luta da resistência palestina. Trata-se de uma postura que coloca a ideologia acima da luta concreta, como se o Hamas devesse fazer alianças com entidades “puramente revolucionárias”, que não existem no mundo real.
Essa visão idealista é uma reprodução do esquerdismo pequeno-burguês que prefere a pureza teórica à realidade da luta de classes. O Hamas faz alianças com quem está disposto a apoiar a luta contra o enclave sionista, e isso deveria ser suficiente para qualquer um que realmente apoia a Palestina.
A realidade é que esses setores da esquerda – representados pelo PSTU e pelo PSOL – não apoiam a resistência palestina. Suas críticas ao Hamas, sejam baseadas em questões identitárias, sejam na análise abstrata de alianças internacionais, são, na prática, uma negação do direito dos palestinos de resistirem.
Não à toa, o PSTU foi rápido em retirar o microfone de um militante do Partido da Causa Operária (PCO) que, num ato recente, levantou a palavra de ordem “Viva o Hamas”. Ao fazer isso, o PSTU não está apenas se opondo ao PCO, está se opondo à resistência palestina. Não há como apoiar a Palestina e, ao mesmo tempo, atacar o Hamas, que hoje é a principal força de resistência no território.
Ainda, em contraste com essas organizações pequeno-burguesas, o PCO sempre deixou claro seu apoio irrestrito à luta palestina, sem concessões, declarando já no dia da Operação Dilúvio de al-Aqsa sua posição “1.000% com o Hamas”. Enquanto setores da esquerda capitulam ao identitarismo e ao discurso imperialista, o Partido segue na defesa incondicional de todos os que lutam contra o imperialismo, sendo ainda hoje o único a apoiar de maneira integral e entusiasmada a luta revolucionária do povo palestino. Essa é a única posição possível para quem realmente quer ver o fim da ditadura sionista e a libertação da Palestina.





