A coluna assinada por Maria Luiza Falcão Silva e publicada no Brasil 247 em 5 de outubro com o título Lula e os bons momentos das pautas sociais revela o tipo de ilusão que permeia a esquerda pequeno-burguesa. O texto transforma medidas paliativas em supostos “avanços sociais” e tenta converter em epopeia histórica aquilo que, na prática, já não existe: programas de assistência esvaziados em um país submetido ao grande capital, com salários achatados e milhões sobrevivendo na informalidade.
Um dos pontos centrais levantados pela autora é a ideia de que “a permanência de Lula é vital para que o país não volte a flertar com golpes de Estado”. A frase, porém, mostra a completa inversão da realidade. O golpe não é uma possibilidade futura, mas um processo em andamento desde 2016. Foi o Judiciário — que Maria Luiza descreve como fiador da “democracia” — o agente da derrubada de Dilma Rousseff, da prisão ilegal de Lula e da operação Lava Jato que entregou setores inteiros da economia ao imperialismo. O que se vive não é um risco de golpe, mas um regime já moldado pelos interesses dos bancos e sustentado pelo aparato golpista.
Outro aspecto é o chamado “pacto democrático”, enaltecido pela colunista como condição para a estabilidade. Esse pacto, entretanto, nada mais é do que a blindagem dos banqueiros, que continuam abocanhando quase metade do orçamento nacional. Em vez de ruptura, temos a continuidade da política do teto de gastos, das reformas trabalhista e previdenciária, da “independência” do Banco Central e de toda a engrenagem que mantém o país paralisado sob a tutela financeira.
Ao falar em “bons momentos que ainda ressoam na memória coletiva”, Maria Luiza recorre a um passado em que o crescimento das commodities e algumas políticas de alívio imediato deram respiro aos mais pobres. Mas esse ciclo se encerrou há quase uma década. A realidade atual é outra: miséria crescente, endividamento da classe média, multiplicação dos trabalhadores informais e ameaça de novas medidas contra o funcionalismo público com a reforma administrativa. Nada disso pode ser resolvido com lembranças ou discursos.
Quando a colunista defende “enterrar de vez as forças do ódio”, escamoteia o fato de que o bolsonarismo, longe de extinto, é produto do golpe que reorganizou a direita. O regime não prepara o retorno de um lulismo forte, mas sim a consolidação de uma alternativa de direita, mais agressiva e afinada com a ofensiva imperialista, que pode ser alguém como Tarcísio de Freitas.




