No artigo intitulado A Primavera da esperança pelas vozes do povo e da maior liderança política do Sul Global, publicado pelo Brasil 247, Elisabeth Lopes afirma que, “no dia 21 de setembro, a indignação do povo brasileiro foi escoada pelas ruas e avenidas do país durante as gigantes manifestações progressistas”. A formulação serve para apresentar atos convocados e impulsionados pela rede Globo e por ONGs imperialistas como se fossem mobilizações populares espontâneas. Não há aqui qualquer análise crítica: manifestações contra a PEC das Prerrogativas foram financiadas e articuladas pelo aparato do imperialismo. Chamá-las de “gigantes manifestações progressistas” é, no mínimo, falsear a realidade para colocar a esquerda sob a direção política da burguesia.
A autora descreve o parlamento como uma “anatomia desastrosa, com maioria de parlamentares absolutamente incapazes” e um “centrão sem escrúpulos”. Ao reduzir o problema a uma questão moral e de competência, evita discutir o essencial: o regime político brasileiro é controlado pelo imperialismo, que derruba ou aprova leis de acordo com seus interesses. A suposta “incapacidade” dos parlamentares é apenas um detalhe frente à ingerência que o Brasil sofre.
Lopes chega a afirmar que “o governo Lula conseguiu recolocar o Brasil no rumo do crescimento econômico, com inflação controlada, geração de empregos e recuperação do poder de compra do povo”. Nada poderia estar mais distante dos fatos: o desemprego continua, os salários estão achatados e o próprio Banco Central revela a maior fuga de dólares da história. A “recuperação” é uma ficção criada para justificar uma política de submissão às exigências fiscais do imperialismo.
O artigo chega ao cúmulo de dizer que Lula foi reconhecido “como o maior estadista do mundo dos últimos tempos”, durante seus elogios a seu discurso na ONU. O discurso do presidente na Assembleia Geral, longe de afirmar a soberania nacional, serviu para atacar a resistência palestina — ao afirmar que os “atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis” — e para apoiar a política do imperialismo no Oriente Médio. Em nenhum momento Lula exigiu a retirada dos navios de guerra norte-americanos da Venezuela, tampouco o fim do bloqueio a Cuba.
Outro trecho afirma que “pela primeira vez em mais de cinco séculos de história, um ex-mandatário do país foi responsabilizado por atentar contra a democracia; ressaltou que todo o processo foi conduzido com rigor… assegurando ao réu todas as garantias de defesa”. É uma falsificação grosseira: o processo contra Bolsonaro foi conduzido por Alexandre de Moraes, simultaneamente acusador e vítima, em clara violação às garantias jurídicas. Aplaudir esse julgamento arbitrário é aplaudir o mesmo STF que organizou a Lava Jato e que cassou inúmeros mandatos populares sem consulta ao povo.
Ao mesmo tempo em que descreve Trump como “patético e prepotente” e seu discurso como “57 minutos de inverdades”, a autora apresenta Lula como o “experiente negociador” capaz de resistir às investidas dos EUA. Mas silencia sobre o fato central: as sanções impostas ao Brasil não serão revertidas por discursos, e sim por uma política de enfrentamento aberto ao imperialismo — algo que o governo Lula não está disposto a fazer.





