Ontem, dia 22 de setembro, foi publicada uma coluna de autoria de Paulo Moreira Leite no sítio Brasil 247, com o título de “Um dia que ninguém tem o direito de esquecer”. O título se refere às manifestações que aconteceram no domingo contra a chamada “PEC da Blindagem”, que garante aos parlamentares a imunidade em relação ao Judiciário, e contra a anistia a Bolsonaro e políticos aliados ao ex-presidente, além dos presos após os atos bolsonaristas do dia 8 de janeiro de 2023.
Segundo Paulo Moreira Leite, os atos que ocorreram pelo Brasil no último domingo são de extrema importância e permanecerão no imaginário popular pelas próximas gerações. O autor também argumenta que as manifestações são contra a ingerência do imperialismo sobre o Brasil:
“Passei boa parte da manhã de ontem em companhia de homens, mulheres e jovens concentrados na Paulista. Uma massa apertada em função do alto número de presentes por metro quadrado, olhar atento e gestos firmes de quem tem consciência das ameaças que o imperialismo e seus lacaios tentam impor ao país e já compreendeu a necessidade de resistir.”
Ocorre que não é possível argumentar que as manifestações, que contaram com uma grande parte da esquerda brasileira, são contra o imperialismo. Isso porque elas foram chamadas em conjunto com os principais aliados do imperialismo no Brasil neste momento, a Rede Globo e o Supremo Tribunal Federal.
Por parte da Globo, inúmeros artistas que trabalham para a emissora se fizeram presentes nas manifestações, incluindo muitas pessoas que tiveram um papel importante durante a Lava Jato e o golpe contra Dilma em 2016. O próprio tema dos atos, a luta contra a imunidade parlamentar, era algo recorrente nas manifestações lavajatistas da década passada.
Para se ter uma ideia, uma das figuras principais das convocações foi Caetano Veloso, lavajatista ligado à Globo e que tenta se passar para a esquerda como uma figura popular.
Na sequência do texto, Paulo Moreira Leite elogia o caráter das manifestações:
“Através de um gigantesco protesto político, ocorrido em capitais e grandes cidades ocupadas por cortejos e outras demonstrações de força, reapareceu a indispensável energia soberana que só as legítimas manifestações populares podem produzir.”
Os atos, no entanto, não tiveram nada de populares. É possível ver na maioria das fotos as mesmas características das manifestações lavajatistas, como a maioria das pessoas vestidas com as cores verde e amarela, no lugar do vermelho, palavras de ordem vazias de um conteúdo político e preocupações tipicamente direitistas, como as supostas lutas contra a corrupção, contra o crime organizado e outras tantas utilizadas por bolsonaristas e lavajatistas em outros momentos.
Também é importante destacar que os setores da esquerda que se dispuseram a participar dessas manifestações, se negam a lutar contra o genocídio na Palestina e têm um largo histórico de capitulações nos últimos anos, como a recusa de lutar pela liberdade de Lula e pelo “Fora Bolsonaro”, quando este ainda estava no governo. Ou seja, aparecem agora, mas somente com a participação da Globo.
Por fim, Paulo Moreira Leite deixa o seguinte:
“Registrando imagens que guardam expressões indispensáveis de coragem e responsabilidade coletiva pelos destinos do país, a manifestação da Paulista não apenas deixou lições importantes para o país inteiro.
Também abriu caminhos indispensáveis para o amanhã, pois a luta contra o imperialismo e seus aliados locais não terminou.”
É interessante notar que, para o autor, os atos são apenas o início. No entanto, o que é esperado para a sequência? A esquerda passará a lutar contra a agressão imperialista à Venezuela? Passará a exigir que Lula rompa relações com “Israel”? A esquerda fará manifestações nesse sentido?
Caso a resposta seja negativa, fica evidente que não se trata de uma mobilização contra o imperialismo e sua ingerência sobre o Brasil, mas sim, apenas uma aliança com a Rede Globo para que o STF continue tendo o controle sobre o Congresso.




