O jornalista Alex Solnik publicou no portal Brasil 247 um artigo intitulado O PL deveria ser cassado, defendendo – como indica o título – que um partido político legalmente constituído seja extinto, não por ser ultrapassado pela conjuntura e nem por força da mobilização popular, mas pela força da burocracia. Para o jornalista, que conheceu os horrores da Ditadura Militar (1964-1985), a legenda direitista deveria ser cassada porque “não está – e nunca esteve – a serviço da democracia, está a serviço do golpe”, escreve Solnik que só faltou dizer “o PL é um partido do mal”. Embora não tenha se rebaixado a tanto, o articulista esclarece a questão:
“O PL, por meio de seu presidente nacional, Valdemar Costa Neto, teve uma participação ativa na tentativa de golpe de estado liderada por seu candidato à presidência, Jair Bolsonaro, ecoando o discurso de descredibilização das urnas e jogando a opinião pública contra o TSE.”
Em primeiro lugar, fica evidente que o problema de Solnik é oposição política. Não que o Valdemar Costa Neto ou o PL tenham cometido um crime real.
Os crimes, como o jornalista mesmo descreve no único momento em que consegue ser mais concreto, são “ecoar discurso” e “jogar a opinião pública”, o que, em grande medida, significa “mobilizar suas bases”. Basicamente, é o crime de fazer política, indo além de pedir votos a cada dois anos.
Pior ainda, na fantasia de Solnik, existiria um “crime de jogar a opinião pública contra o TSE”. Feliz foi Luis Carlos Prestes, que não viveu o bastante para ver tanto Solnik quanto a esquerda pequeno-burguesa demonstrando tamanha disposição em atacar quem denuncia o papel da justiça eleitoral no País. Em entrevista ao igualmente falecido Jô Soares, no ano de 1988, o Cavaleiro da Esperança respondeu dessa forma ao entrevistador, quando questionado se ainda existiam fraudes eleitorais:
“Ah, existe [fraude nas eleições brasileiras]. Na última eleição de [19]86, para governador e parlamentares, a fraude foi campeã aqui na Guanabara. O pior é que quem fraudou foi a própria Justiça Eleitoral. Nós, com nossos advogados, reclamávamos de certos casos concretos de fraude, e o juiz despachava de forma indeferida, sabendo que era um comunista. Ele simplesmente indeferia e não tomava nenhuma providência. Eram casos concretos de fraude, mas nenhuma de nossas reclamações foi atendida ou deferida.”
Abaixo, o vídeo com o momento em que o bolsonarista Prestes comete crime de jogar a opinião pública contra o sacro TSE:
Fica agora a questão: teria Prestes cometido um crime em sua denúncia? Se sim, a única conclusão possível é que certos estavam os militares que defendiam punição para quem cometia crimes de incitar a opinião pública contra as instituições.
Consequentemente, a democracia que Solnik “está a serviço” não é outra, mas que foi vitoriosa no golpe de 1964, segundo a opinião dos principais monopólios de comunicação da época, que não sem surpresa, apresentam as mesmas posições do jornalista dito esquerdista, embora sem defender suas conclusões. Ainda. Para a esquerda, o problema reside justamente no momento em que essa etapa vier e o imperialismo passar a apregoar abertamente o ataque às organizações consideradas “anti-democráticas”.
Por mais que os esquerdistas repitam que não, para os donos do Estado, anti-democrático não é o PL, mas o MST, a FNL, organizações que inclusive já foram alvo de uma CPMI no Congresso. Outra organização na mira da burocracia judicial é o PCO, cujo trabalho em defesa dos palestinos no País foi reconhecido pelo Hamas, que recebeu a direção do partido operário e por meio dela, dedicou ao povo brasileiro uma das últimas declarações públicas do mártir Ismail Hanié enquanto ainda estava vivo.
Além do Hamas, os sionistas também reconheceram o trabalho do PCO, porém, de sua forma particular. Entre os inúmeros processos que o partido passou a receber, um pede exatamente o que Solnik defende que seja feito a opositores políticos: a cassação do registro partidário.
Eis o problema com colocações como a do colunista do Brasil 247. Ainda que o objetivo seja anular a extrema direita, fortalecer os meios do imperialismo para obter esse resultado é uma péssima política.
A esquerda pode até ter a direita em mente, porém uma vez que uma determinada forma de repressão estatal foi estabelecida, invariavelmente, ela se voltará com sua máxima ferocidade contra a esquerda. O fato de a Ditadura Militar ter cassado mandatos e direitos políticos de golpistas como Carlos Lacerda de Juscelino Kubitschek não melhorou o regime, mas piorou.
É justamente o horror daquele período que a esquerda deve ter em mente quando se deparar com posições com as de Solnik. A democracia defendida pelo jornalista, não é outra coisa, mas a defesa da ditadura imperialista contra o País, que tem no Judiciário uma de suas principais trincheiras.
Defender a “democracia” contra opiniões e críticas às instituições estatais, e o poder cassar partidos por suas posições políticas é um filme que o povo brasileiro já viu, ao longo dos 21 anos mais tenebrosos da história recente do País. E é exatamente o que a esquerda terá se defender posições malucas como as que apregoa o colunista.




