Bastou o Legislativo se opor ao Supremo Tribunal Federal (STF), principal agente golpista do imperialismo operando no Brasil, para se iniciar uma verdadeira enxurrada de matérias e artigos de setores da esquerda defendendo essa instituição profundamente antidemocrática.
Este é o caso do artigo Simbolismo da PEC da Blindagem, de André Barroso, publicado no Brasil 247 nesta quarta-feira (17). O texto faz coro com a imprensa burguesa em sua campanha em defesa da ditadura do Judiciário contra o Congresso. Não é à toa que usa o nome “PEC da Blindagem”, inventado pelos grandes jornais para destratar a medida.
Para André Barroso, o “simbolismo” dessa PEC é “a crise da democracia”. Resta provar que o Brasil é uma democracia, pois o STF faz o que bem entende com a Constituição. Uma corte que, por meio de aberrações jurídicas, como a possibilidade de um juiz de investigar, relatar e julgar um caso no qual ele mesmo figura como vítima, está acabando com os direitos democráticos no País.
Finalmente, pode-se chamar de democracia um país onde o Judiciário passa por cima das prerrogativas do Legislativo e passa a legislar, ou será mais apropriado dizer que se trata da ditadura da toga?
Barroso inicia seu texto dizendo que “em todo mundo, a extrema direita cresce afetando a sociedade, significando crescente ameaça com pautas anti-aborto, anti-imigração, anti-LGBTQIAPN+ e outras de caráter conservador, mostrando não só ameaça aos direitos humanos, mas ameaça ao direito democrático”.
É preciso lembrar que em política não existe vazio. O avanço da direita corresponde ao recuo da esquerda. A crise do imperialismo tem polarizado a sociedade, e setores inteiros da classe trabalhadora foram fisgados pela demagogia da extrema direita, pois a esquerda abandonou a defesa do socialismo, dos interesses da população, para defender a “democracia”. Dito de outra forma, o trabalhador prefere a extrema direita, que se pinta de antissistema; ao passo que a esquerda virou uma defensora das instituições do Estado burguês, como o STF.
Para exemplificar seu ponto de vista, Barroso diz que “recentemente, houve uma manifestação em Londres com mais de 100 mil pessoas, que atendendo ao chamado de Tommy Robinson, condenado por incitar ódio, estavam marcadas por islamofobia, anti-imigração e ultranacionalismo”.
Recentemente, também no Reino Unido, mais de 500 pessoas foram presas por protestarem contra o genocídio em Gaza. Quem fez isso, a extrema direita? Não, foi o Partido Trabalhista, os “democratas” da vez. No Reino Unido, 30 pessoas, em média, são presas diariamente por publicações nas redes sociais. No Brasil, quem está trabalhando pela censura nas redes sociais? A grande imprensa, o STF, e setores da esquerda.
Polarização
No segundo parágrafo, falando sobre o assassinato de Charlie Kirk, Barroso diz que já existe nos Estados Unidos uma “extrema direita da extrema direita”, e isso é fácil de explicar. Uma vez que o imperialismo empareda Donald Trump e o obriga a levar adiante uma política oposta à sua plataforma eleitoral, os setores da extrema direita, decepcionados, se radicalizam ainda mais, aumentando a polarização social.
Voltando ao Brasil, o articulista diz que “por aqui, todo caos promovido pela extrema direita brasileira até o 8 de janeiro, pretende manter seu índice de crescimento entre a população menos alfabetizada, conseguindo mais adeptos nas casas legisladoras e conquistando através de Leis, ações a seu favor”. E é preciso perguntar: a ingerência do STF no Legislativo favorece a quem?
Antes de dizer que a extrema direita cresce “entre a população menos alfabetizada”, o senhor Barroso deveria explicar que foram os “letrados”, os “esclarecidos”, o “togados” que pariram a extrema direita:
Durante o Mensalão, foi feita uma campanha nacional para desmoralizar e enfraquecer a esquerda, especialmente o PT. A Polícia Federal avisava a Rede Globo para ir a determinados endereços para filmar políticos petistas sendo algemados, cercados por dezenas de policiais armados de fuzis, enquanto helicópteros sobrevoavam. As grandes emissoras transmitiram julgamentos ao vivo. A Revista Veja trazia, toda semana, alguma manchete sensacionalista contra Lula, Dilma, ou algum petista. Juízes foram tratados como heróis, davam entrevistas e até foram homenageados no Carnaval.
Houve uma gigantesca campanha contra a esquerda orquestrada justamente pelos que agora se posam de “mocinhos”. Fica fácil, agora, querer colocar a culpa do crescimento da extrema direita nas costas do cidadão comum.
Falsificação
Segundo Barroso, “a PEC da Blindagem, junto com a ideia da Anistia, são ferramentas para legalizar ações conservadoras. Hugo Motta além de blindar a impunidade, transformando qualquer parlamentar em intocável, tornou Eduardo Bolsonaro líder da minoria, salvando o mandato, recebendo alto salário no exterior para conspirar nos Estados Unidos contra o Brasil e conseguir algum indulto para tirar seu pai da cadeia”.
Não é verdade que os parlamentares ficarão intocáveis, basta ler a proposta. Intocáveis são os ministros do STF, que podem até prender sem provas, sem falar dos altíssimos salários, verbas indenizatórias, auxílio-moradia, abono permanência, segurança, assistência médica, motorista, carro oficial… e, melhor ainda, um cargo vitalício.
De fato, o salário dos deputados são pornográficos. Mas, o que dizer dos ministros, que ultrapassam o teto constitucional? Eles não são chamados de “guardiães da Constituição”? Por que esses setores da esquerda se calam diante disso?
Barroso está preocupado de que a PEC criará uma “casta social”. Ora, se 513 deputados e 81 senadores formam uma casta, o que dizer de 11 ministros com cargo vitalício? É praticamente um papado.
Antifascismo de fachada
A esquerda está em uma cruzada contra o fascismo, mas essa cruzada é capitaneada pelas “democracias liberais”, as mesmas que acusam e prendem por terrorismo quem protesta contra o genocídio em Gaza.
É uma ilusão acreditar que se pode lutar contra o fascismo quando está a reboque de quem o pariu. Ao defender as instituições do Estado burguês, ao fazer frente com a Globo, Folha, Estadão etc., a esquerda pequeno-burguesa apenas coloca mais água no moinho da extrema direita.
O cidadão médio, aquele “menos alfabetizado” que Barroso aponta, pode estar confuso, mas não é bobo: sabe quem o oprime, quem são seus inimigos, e se afasta daqueles que defendem o sistema.




