Condenação de Bolsonaro

Vitória de quem?

Dirigente esquerdista manipula descaradamente episódio histórico pedagógico para os trabalhadores para os interesses do imperialismo

O dirigente petista Tarso Genro publicou no portal Brasil 247 o artigo A vitória contra o satanismo político com considerações que explicam o deslocamento acentuado da esquerda pequeno-burguesa ao imperialismo. Logo no começo, Genro diz:

“Resta a força militar dos Estados-nação mais fortes, o terror de estado e o terrorismo, as políticas genocidas e os crimes de guerra – com novas e velhas tecnologias – bem como as chantagens econômicas e financeiras globalizadas. É a regra do satanismo político acompanhando a crise da democracia liberal, substituindo o velho direito internacional, que cede à força normativa dos fatos.”

A princípio parece a posição de alguém que está finalmente superando a ilusão com o que ele chama de “velho direito internacional”. O problema é atribuir isso a um confuso conceito de “satanismo político”, muito mal explicado, mas que mostra aqui uma emulação deprimente da direita, o campo natural dos que usam a religião para abordar fenômenos políticos que, se fossem tratados abertamente, não arregimentariam ninguém. Para não deixar dúvidas ao leitor de que esse disfarce de Malafaia esquerdista e o confuso conceito de satanismo político expressam, na realidade, uma posição muito reacionária, Tarso Genro continua com o seguinte parágrafo:

“Jean-Paul Sartre respondeu a uma situação análoga, no século passado, com o existencialismo militante; Walter Benjamin, com o suicídio; Vladimir Lênin, negociando com um banqueiro suíço o financiamento do trem da Estação Finlândia, para comandar a Revolução Russa; o Partido Socialista e o Partido Comunista Francês, promovendo a Frente Popular, pela qual François Mitterrand (depois do General De Gaulle) organizou os confusos trilhos da Revolução Francesa, que estavam com seus dormentes “em falso” no próprio país da revolução.”

Chama a atenção o fato de Genro ter destacado que Lênin negociou com um banqueiro suíço, para voltar à Rússia. O dirigente petista não usa esse episódio para explicar o que realmente importa nele, que é funcionamento da política de compromissos, que podem e devem ser feitos em determinadas ocasiões pelo partido revolucionário.

No caso de Lênin, estava absolutamente acertado fazer esse acordo com o imperialismo alemão. Ele precisava voltar à Rússia e isso seria impossível sem ajuda do Kaiser Guilherme II. Para os alemães era interessante ter um agitador político conhecido, contrário à guerra atuando na Rússia, com quem a Alemanha guerreava. Por isso, os dois chegaram num acordo, o russo atravessou o país e o resto é história.

Existem outros compromissos como o acordo que cedeu partes do território russo para a Alemanha, esse aqui mais difícil, mas necessário para preservar a revolução. A política de compromisso sempre pode ser feita, o problema é qual o propósito serve.

Na sequência, Genro destaca como o Partido Socialista e o Partido Comunista francês firmaram compromissos com o imperialismo para formar a Frente Popular. Se no episódio envolvendo Lênin, o resultado foi a primeira revolução proletária da história, no caso francês, o compromisso serviu para impedir que a crise do pós-guerra resultasse em uma revolução operária na França. Diante da crise do regime político e da ameaça de uma ditadura imperialista ainda mais repressiva identificada por Genro, a única solução efetiva é a revolução operária. A diferença entre o que fez Lenin e todos os outros não é o acordo em si, mas o sentido dele. Qual o propósito? A que objetivo político ele serve?

No caso específico da esquerda francesa, a frente popular serviu para impedir que os trabalhadores usassem a crise para tomar o poder e pusessem um fim ao regime imperialista no seu país. No caso de Lenin foi o oposto. Será isso o que Tarso de Genro defende? Vejamos:

“Uma nação artificial e uma democracia pequena não fazem o que nós conseguimos até agora: uma afirmação democrática que nenhum país assediado pela violência fascista conseguiu, seja na Europa, seja na Ásia: não estamos entre Walter Benjamin e Vladímir Lênin, mas entre Xandão-Lula e Bolsonaro-Tarcísio, não difícil saber para onde devemos ir e onde estaremos no futuro se fizermos as opções corretas.”

Aqui é o imperialismo que dirige os acontecimentos, é o seu programa que está sendo seguido e é o seu interesse que está em jogo. Lula não tem papel algum nesse acordo com Alexandre de Moraes. Pelo contrário: essa manobra tem servido para desmoralizar o presidente, o governo e a própria esquerda. O único que colheu frutos até agora foi o imperialismo, que conseguiu afastar Bolsonaro — hoje, uma pedra no sapato para a unificação da direita — utilizando para isso o seu agente direto, Moraes, que continua sendo o que sempre foi, desde que servia aos governos tucanos de São Paulo: atuar como ponta de lança para impor a política dos monopólios internacionais no Brasil.

Não são os trabalhadores que estão às vésperas de realizar uma revolução com esse acordo entre Lula e Moraes, mas sim o imperialismo que está em vias de aplicar o plano de Tarcísio, importando para cá a fórmula devastadora de um neoliberalismo radical como o que vem sendo aplicado na Argentina. Para isso, precisa de alguém disposto a ceder às chantagens externas e sem base social para reagir de outra forma que não seja atender, passivamente, às imposições do imperialismo.

Isso é o que o Tarso Genro está defendendo. Manipulando descaradamente um episódio histórico pedagógico para os trabalhadores, os interesses do imperialismo é que estão sendo defendidos pelo dirigente petista. Trata-se do único setor interessado que se beneficiou da política de frente popular na França e também o único que realmente ganha tirando Bolsonaro de cena enquanto empurra os trabalhadores a uma armadilha, um caminho que dada a conjuntura de acentuação da luta de classes – como a que está posta com a crise atual -, se seguido, implicará em uma derrota catastrófica para os trabalhadores.

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