A esquerda tem se empenhado em dar milhões de explicações e justificativas para as arbitrariedades cometidas no julgamento-farsa de Jair Bolsonaro e a suposta tentativa de golpe, como é o caso do artigo Métodos dos anos de chumbo ameaçaram ressurgir em 8 de janeiro de 2023, de Gustavo Tapioca, publicado no Brasil247 nesta terça-feira(16).
Como estratégia, Gustavo Tapioca escolheu falar da ditadura militar, apoiada por Bolsonaro. Seu primeiro parágrafo traz que “no dia 19 de agosto de 2025, o deputado Pastor Henrique Vieira apresentou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 4089/25, propondo a inscrição de Frei Tito de Alencar Lima no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”.
De fato, como disse o autor, o golpe que os militares apelidam de revolução “sequestrou, prendeu em masmorras medievais, torturou e matou centenas de brasileiros, a maioria na casa dos 20 anos” e merece todo repúdio.
O golpe de 1964, porém, tem muita coisa em comum com o de 2016: foi orquestrado pelos Estados Unidos, apoiado pela burguesia, e teve participação das instituições e da grande imprensa. Como ficou esclarecido no áudio vazado de Romero Jucá, havia acertos com os militares e a coisa estava caminhando “com Supremo, com tudo”.
Deveria chamar a atenção da esquerda o fato de tanto a grande imprensa quanto o Supremo figurarem como defensores da democracia e inimigos de golpes.
Tortura
Na primeira metade de seu texto, Gustavo Tapioca conta a história de Frei Tito, massacrado por torturas pela ditadura militar. Os traumas produzidos, que ele não conseguia esquecer, o levaram ao suicídio, única forma que encontrou para aliviar seu sofrimento.
Em seguida, Tapioca tenta estabelecer um nexo entre um fato ocorrido com outro que supostamente aconteceria. Escreve que “o resgate da memória de Frei Tito se conecta diretamente com as revelações recentes da Operação Punhal Verde-Amarelo. Ontem como hoje, o autoritarismo recorreu aos mesmos métodos de eliminação física de opositores e podemos antever o que aconteceria se o golpe continuado da extrema-direita de triunfasse 2023”. – grifo nosso.
Como se viu no destaque acima, Tapioca diz que se recorreu a métodos de eliminação física, mas não diz quem foi eliminado, e nem poderia, pois isso não aconteceu. Também não se pode tirar conclusões sobre o que aconteceria se houvesse um novo golpe militar no Brasil. Tudo fica no campo das suposições. O próprio autor é obrigado a dizer que o tal punhal “seria cravado no coração da democracia”. E ainda fica a questão: vivemos em uma democracia? Não. Estamos sob uma ditadura judiciária e no meio de um golpe de Estado inacabado.
Suposições
Para Tapioca, “o fio de continuidade é nítido” entre aquilo que fez a ditadura militar de 64 com aquilo que Bolsonaro e outros acusados fariam. Segundo escreve “Os mesmos setores das Forças Armadas que sustentaram a repressão de 1964 reaparecem, em pleno século XXI, retomando a lógica hedionda de extermínio”.
O autor precisa escrever seu texto no condicional. Diz que “se a Operação Punhal Verde-Amarelo — minuciosamente elaborada pela organização criminosa liderada por Bolsonaro — tivesse sido executada, o Brasil estaria hoje mergulhado novamente nos horrores de um regime autoritário e sangrento”.
Trata-se de um raciocínio perigoso que, inclusive, já está sendo aplicado neste Brasil “democrático”. Lucas Passos está preso porque supostamente cometeria atentados contra judeus a mando do Hesbolá. Seu crime foi ter viajado para o Líbano e pesquisado sinagogas na internet. O Hesbolá nunca cometeu atentados em nenhum país. Mas, por algum motivo misterioso, os praticaria no Brasil.
No Rio Grande do Sul, outro “terrorista” foi indiciado por planejamento e promoção de terrorismo. Como prova, a polícia apresentou a fotografia de uma coleção de facas, e o sujeito fazia publicações nas redes sociais sobre a Al-Qaeda e ao Estado Islâmico. Além, é claro, de ter feito pesquisas, supostamente, sobre a prática de atentados e fabricação de explosivos.
O texto de Tapioca fica girando em torno de suposições, alega que “o presidente Lula e o vice Alckmin seriam envenenados, enquanto Alexandre de Moraes seria seguido, monitorado e provavelmente sequestrado, torturado e morto”.
Ameaça negligenciada
Segundo o articulista “a operação não foi apenas uma tentativa de golpe. Foi uma ameaça concreta de reinstaurar o autoritarismo armado”. No entanto, não houve nada de concreto, isso a defesa de Bolsonaro tratou de desmontar.
Uma ameaça concreta de golpe aconteceu em 2018, quando Villas-Bôas Corrêa, o comandante do Exército Brasileiro, utilizando a Rede Globo e seu Jornal Nacional, ameaçou botar os tanques na rua se o Supremos Tribunal Federal, esse “intrépido defensor da democracia”, não votasse contra o habeas corpus de Lula e o colocasse na cadeia.
Aquela foi uma ameça de fato e o STF não parou por aí. Além de prenderem Lula, o impediram de concorrer à presidência, apesar de que poderia; o impediram de dar entrevistas, e até mesmo de figurar ou ser mencionado na propaganda eleitoral de Fernando Haddad.
O resultado, como se sabe, foi a eleição de Jair Bolsonaro, que já havia deixado claro que apoiava a tortura, fazia propaganda do torturador Brilhante Ustra, nada disso era novidade. Quem colocou Bolsonaro no poder, sabia muito bem do que se tratava.
Golpe continuado
Bolsonaro pode ser uma pessoa execrável, mas está sendo condenado por crimes que não cometeu. E sua condenação é parte do golpe orquestrado pelas mesmas forças que planejaram o golpe de 1964 e contra Dilma Rousseff.
Fica claro que existem forças muito mais poderosas e nefastas operando no Brasil, sua intenção é eleger um candidato mais manobrável que Bolsonaro, e que aprofunde o saque das riquezas do País para minimizar a crise que vem passando o imperialismo.
Infelizmente, setores de esquerda se uniram à grande imprensa, ao STF, golpistas de fato, e tentam legitimar um processo que, no final das contas, dará mais força para o bolsonarismo.




