José Guimarães, em artigo publicado no Brasil 247 escreve que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um “espetáculo da democracia” e que “o Brasil se tornou referência mundial no enfrentamento do golpismo”. A escolha de palavras não é casual: espetáculo é justamente o que substitui a substância por encenação. Enquanto o deputado festeja o cenário montado em torno das condenações, não menciona em nenhum momento os métodos autoritários adotados: prisões sem devido processo, julgamentos coletivos e um tribunal que age como acusador e juiz ao mesmo tempo.
O que ele vende como “coragem institucional” é, na realidade, uma política de exceção que só fortalece o arbítrio.
O texto de Guimarães chega ao grotesco quando tenta dimensionar os acontecimentos. Ele afirma que, ao contrário dos Estados Unidos, que “perdoaram os invasores do Capitólio”, o Brasil teria dado uma “lição de soberania”. Mentira deslavada: centenas de norte-americanos foram condenados, muitos a penas duras. A diferença é que, no caso brasileiro, uma pessoa que não participou da “invasão” foi condenada — e a quase 30 anos de cadeia.
Ainda mais ridícula é a comparação com a Argentina de 1985, quando generais da ditadura foram julgados por crimes de tortura e assassinato. Para Guimarães, depredadores de prédio público equivalem a ditadores sanguinários que sumiram com dezenas de milhares de pessoas. Sua analogia insulta as vítimas da repressão argentina e desmoraliza qualquer análise séria. Para dar grandeza ao regime atual, é preciso inflar artificialmente a importância do episódio, colocando o STF na mesma prateleira de Nuremberg.
A omissão é outro recurso. O deputado fala muito em “defesa da democracia”, mas não toca em temas incômodos. Não há uma linha sobre o autoritarismo do STF, sobre os abusos cometidos em nome do combate ao “golpismo”, nem sobre a incriminação de manifestações políticas. Para Guimarães, “democracia” é assim: quem apoia o governo é “democrático”, quem critica, é “golpista”.




