No ato em defesa da Venezuela realizado neste sábado (13), uma das intervenções de maior destaque foi a do jornalista Breno Altman, editor-chefe do Opera Mundi e militante do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele iniciou sua fala destacando a importância política da iniciativa convocada pelo Partido da Causa Operária (PCO), afirmando que, independentemente das divergências existentes entre as organizações de esquerda, era digno de reconhecimento o fato de o partido ter tomado a dianteira em organizar um ato de solidariedade à Venezuela, em um momento de grave ofensiva imperialista.
O jornalista fez comentário parecido em suas redes sociais. Em sua conta oficial no X, publicou:
“O Partido da Causa Operária convocou manifestação de solidariedade à Venezuela. Não importam divergências com essa organização, sua iniciativa serve de exemplo aos demais partidos de esquerda, ainda calados e passivos diante da agressão imperialista ao país irmão.”

Altman afirmou que a realização de atividades desse tipo deve servir de exemplo aos demais partidos e organizações da esquerda brasileira, que permanecem em silêncio diante da agressão norte-americana contra um país vizinho e irmão. Para ele, trata-se de uma obrigação moral e política da esquerda, de seus partidos, sindicatos e movimentos, erguer-se em solidariedade à Venezuela e a todos os povos que resistem à dominação imperialista.
Na sequência, o jornalista analisou o papel central da Venezuela no cenário sul-americano, destacando a soberania conquistada pelo Estado venezuelano ao romper com “a hegemonia da Casa Branca e das grandes corporações norte-americanas”. Para Altman, essa conquista transformou a Venezuela em alvo prioritário dos Estados Unidos, que não podem admitir que países da região escolham um caminho independente.
Leia o discurso de Breno Altman na íntegra
Bom dia a todos e a todas.
É com prazer e honra que estou aqui neste ato convocado pelo PCO, e minhas primeiras palavras serão exatamente sobre isso. Independente das divergências que se possa ter com o Partido da Causa Operária, é digno de aplausos que esta organização tenha tomado a iniciativa de convocar um ato de solidariedade à Venezuela.
Oxalá, isso sirva de exemplo aos demais partidos da esquerda brasileira que seguem calados e passivos diante desta agressão imperialista a um país irmão. Sirva de exemplo porque é uma obrigação moral e política da esquerda brasileira, dos seus partidos, dos seus sindicatos, dos seus movimentos, cerrar fileiras em solidariedade à Venezuela e a todos os demais Estados agredidos pelo sistema imperialista sob a liderança dos Estados Unidos.
Nós temos que compreender e conversar sobre o papel da Venezuela na América do Sul e na América Latina. Por que contra a Venezuela se volta com tanta fúria o aparato do imperialismo norte-americano? Porque a Venezuela, já faz muitos anos, é a grande vanguarda na América do Sul da luta anti-imperialista. O que está em discussão não são os erros, os acertos, os problemas ou as soluções que a revolução bolivariana vai encontrando sob dificílimas condições dentro do seu país. O que está em questão é que a Venezuela irrita o imperialismo norte-americano porque libertou o Estado venezuelano da hegemonia da Casa Branca, da hegemonia dos interesses das grandes corporações norte-americanas e criou um caminho soberano.
Esta soberania é insuportável para o imperialismo norte-americano, não apenas porque afeta seus interesses econômicos, já que a Revolução Bolivariana tirou das garras do imperialismo norte-americano a maior reserva de petróleo do mundo. Porque a Venezuela, na sua insurgência anti-imperialista, é um exemplo que precisa ser esmagado sob a lógica do imperialismo norte-americano para que outros povos não sigam pelo mesmo caminho. Também foi e continua sendo este o objetivo do imperialismo norte-americano em relação a Cuba.
Ninguém em sã consciência, ninguém que não estivesse em uma situação em que devesse ser levado a um hospício, pode imaginar que Cuba significasse em algum momento uma ameaça à segurança nacional norte-americana. Isto é uma piada. E é também uma piada quando Donald Trump e seus sicários afirmam que a Venezuela pode ser uma ameaça à segurança nacional norte-americana.
Do que se trata é que o imperialismo não pode admitir que os povos da América Latina escolham o seu próprio caminho. Todos os povos latino-americanos que escolham seu próprio caminho, sob a lógica do imperialismo, devem ser esmagados, devem ser derrotados. E é por isso mesmo que a nossa solidariedade à Venezuela deve ser incondicional e irrestrita.
Como também incondicional e irrestrita, deve continuar sendo nossa solidariedade a Cuba socialista e a todos os Estados que se levantam contra a dominação imperialista, a todos os Estados e povos do mundo.
Neste momento em que a Venezuela sofre tamanha agressão do imperialismo norte-americano, é fundamental que o nosso subcontinente, em especial a América Latina, se una contra essa agressão, se una como um só bloco, porque a ameaça à Venezuela não se restringe à Venezuela. A ameaça à Venezuela é uma tentativa, um plano, uma operação do imperialismo norte-americano para voltar a ter controle absoluto sobre a América do Sul. A Venezuela é o destacamento mais avançado na luta anti-imperialista e por isso precisa ser derrotada. Porque, derrotada a Venezuela, ficará facilitado o caminho do imperialismo norte-americano de estabelecer seu controle sobre toda a região.
É fundamental, portanto, que os povos e estados sul-americanos se unam. E é evidente que o Brasil tem um papel fundamental nesse processo. O Brasil corresponde à metade da população latino-americana, a mais de 40% do seu PIB. É o Estado que tem a economia mais poderosa de todo o subcontinente e é um Estado governado por um presidente de esquerda, o presidente Luís Inácio Lula da Silva.
É fundamental que o governo brasileiro deixe de lado suas picuinhas com a Venezuela e erga sua voz para unir a América Latina, para unir a América Latina em defesa da Venezuela, que é também unir a América Latina em defesa do Brasil, em defesa de Cuba, em defesa do México, em defesa de todos os processos soberanos da nossa região. É papel da esquerda brasileira, dos seus partidos, dos seus sindicatos, na solidariedade à Venezuela, pressionar o governo brasileiro por iniciativas concretas de união da nossa região contra o imperialismo norte-americano.
Nós estamos vivendo um momento de extremos desafios. Não nos é dado o direito de tremer as mãos. Não nos é dado o direito de elucubrações fantasiosas sobre o que ocorre no nosso continente. Não nos é dado o direito de vacilarmos nesta hora histórica. Por isso que atos como o de hoje são importantes, vitais, indispensáveis.
Nós estamos enfrentando uma outra etapa da luta contra o imperialismo, a etapa marcada por sua crise, por seu enfraquecimento. Mas isso não faz do imperialismo um inimigo mais fácil de ser enfrentado, porque é exatamente por conta da crise do imperialismo que, tal qual um animal ferido, o imperialismo se torna mais feroz e mais agressivo. Isso exige de nós mais unidade, maior mobilização, mais clareza de objetivos, mais firmeza no enfrentamento deste grande inimigo dos povos.
Muito obrigado.





