Polêmica

E o golpe de 2016?

Em nome de tentar provar que as manifestações bolsonaristas que culminaram no 8 de janeiro de 2023 foram parte de um golpe de Estado, esquerda tenta esquecer golpe real

Ontem, dia oito de setembro, a colunista do Brasil 247, Carol Proner, publicou um texto intitulado “08 de Janeiro de 2023. Golpe Derrotado, Democracia Preservada”, no qual faz uma breve introdução das ideias contidas no livro de mesmo nome que será lançado, como aparece no primeiro parágrafo da coluna:

É com imensa alegria que apresentamos a coletânea intitulada “08 de Janeiro de 2023, Golpe Derrotado. Democracia Preservada” (Editora Publius). No momento em que este livro é publicado – lançamento nesta terça, dia 09/09, em Brasília –, o sistema de justiça brasileiro atua para responsabilizar os atos golpistas e criminosos que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 08 de janeiro de 2023.

Na organização do livro se encontram a própria Carol Proner, que se apresenta como “Doutora em Direito Internacional pela Universidade Pablo de Olavide-ES. Professora de Direito Internacional da UFRJ. Integrante da ABJD.”, e Gisele Cittadino, “Doutora em Ciência Política pelo IUPERJ. Professora Associada da PUC-Rio. Integrante da ABJD.”. Além delas, o livro conta com textos de pessoas que fazem parte do governo Lula, como Gleisi Hoffmann, Paulo Teixeira e Anielle Franco, e personalidades próximas como o advogado Kakay.

No entanto, apesar do número de pessoas e do esforço em tentar provar que as manifestações bolsonaristas eram parte de uma tentativa de golpe de Estado, uma coisa chama a atenção: a aparente necessidade de colocar o suposto golpe como a principal “ameaça à democracia” desde o golpe militar de 1964. Chama a atenção pois o Brasil passou de fato por pelo menos dois golpes de Estado orquestrados pelo imperialismo contra a população brasileira e os trabalhadores, sendo o primeiro deles o golpe em Dilma Rousseff em 2016 e, dois anos depois, o golpe da prisão de Lula que o impediu de concorrer às eleições presidenciais de 2018. Como exemplo, observemos o parágrafo a seguir, que parece um resumo do que foi dito aqui:

Seguindo a tradição de anos anteriores, quando reunimos centenas de intelectuais para registrar ilegalidades e desestabilizações nos governos da ex-presidenta Dilma Rousseff e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, neste livro escolhemos reunir a opinião de especialistas para eternizar o mais grave atentado contra a democracia desde o golpe civil-militar de 1964.

Ou seja, uma manifestação que teve sua entrada facilitada pelas forças de repressão nos prédios da Praça dos Três poderes, contendo nas fileiras dos manifestantes donas de casa, idosas, costureiras e até moradores de rua, é “o mais grave atentado contra a democracia desde o golpe civil-militar de 1964.”. Mesmo sem ter tido maiores consequências, mesmo com a manifestação não resultando em nada prático além da vandalização dos prédios, a manifestação, um direito de todos os cidadãos em uma verdadeira democracia, é tratada como pior do que um golpe de Estado real e a proibição da candidatura do político mais popular do país.

Se não bastasse tratar a manifestação como algo pior do que um golpe de Estado real, a matéria sequer chama o que aconteceu com Dilma Rousseff de golpe de Estado:

Os artigos desta coletânea reúnem opiniões de pessoas que, de modo fundamental, contribuíram para a defesa da democracia na última década, seja denunciando o impeachment sem lastro legal, seja esclarecendo a utilização do direito como arma de desestabilização política e econômica, ou desvendando o uso das fake news no avanço da extrema direita em eleições.

“Impeachment sem lastro legal” é a forma como o golpe em Dilma é chamado no texto.

A realidade é que, depois do golpe de Estado de 2016, uma boa parte da esquerda que sequer lutou para garantir a presidência do PT, buscou se adaptar ao regime político e esquecer do golpe. Isso vale para a prisão de Lula em 2018, já que o PT se negou a admitir que as eleições de 2018 eram uma fraude por não permitir a participação de Lula e optou por lançar Fernando Haddad como candidato, se adaptando à situação. Durante o governo Bolsonaro, esse setor da esquerda também se negou a chamar o “Fora Bolsonaro” e a pedir pela liberdade de Lula na tentativa de se adaptar à direita e continuar controlando uma parte, mesmo que pequena, do Estado brasileiro.

Agora esse setor busca convencer os demais, e convencer a si mesmos, de que estão lutando pela democracia, ao mesmo tempo que apoiam o fim da Constituição de 1988 nas mãos de Alexandre de Moraes, tirem o segundo candidato mais popular do Brasil das eleições e apoiam a censura generalizada contra a população brasileira na Internet.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.