No artigo Bolsonaro no banco dos réus, publicado pela revista Movimento, do Movimento Esquerda Socialista (MES), Israel Dutra apresenta a visão do grupo sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Diz ele:
“Iniciou-se enfim o julgamento de Jair Bolsonaro e da cúpula militar e civil organizada ao seu redor na tentativa frustrada de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. Trata-se de um acontecimento inédito na história brasileira: um ex-presidente, generais de quatro estrelas, almirante de esquadra e tenente-coronel no banco dos réus de um tribunal civil julgados por tentativa de golpe de Estado.”
O texto já inicia de maneira desastrosa, reconhecendo uma mera manifestação com ocupação de prédios como “tentativa de golpe de Estado”. Ao adotar essa versão, que é a mesma da grande imprensa, o MES desmoraliza qualquer ideia de uma análise séria sobre a situação política no Brasil. Seríamos obrigados a acreditar que, se houve um tentativa “frustrada”, é porque o País teria sido salvo por alguém: o Supremo Tribunal Federal (STF).
O que o artigo não explica, no entanto, é como o STF teria conseguido tal feito contra homens que teriam armas à sua disposição — afinal, os comandantes seriam pessoas das forças armadas. É ridículo. Tal tese serve somente para preparar ideologicamente a esquerda a adotar uma política de submissão ao STF — e, portanto, ao imperialismo.
“Esta vitória democrática soa como um alívio para os milhões de brasileiros que resistiram confiando nas próprias forças aos mais duros anos de governo Bolsonaro. Não faltou, portanto, comemoração com o começo do julgamento, cujo desfecho deve terminar com a prisão de Bolsonaro e dos artífices da tentativa de golpe.”
A “vitória democrática” seria porque, inexplicavelmente, o STF, a rede Globo e tudo o que há de mais reacionário no País decidiram julgar Bolsonaro, lançando mão de métodos mais antidemocráticos que os da Operação Lava Jato. Que há de vitória nisso?
Quanto a falar em comemoração, isso só mostra o quanto o autor está desconectado da realidade. Dois dias depois que ele escreveu o artigo, houve atos da esquerda e da extrema direita bolsonarista em função do Dia da Independência. O da extrema direita foi várias vezes maior, mostrando que há mais pessoas revoltadas do que “comemorando” o julgamento do ex-presidente.
O que Israel Dutra transparece em seu artigo é que o MES é parte da esquerda pequeno-burguesa brasileira que, de tanto se acovardar diante da direita, resolveu se abraçar ao imperialismo na esperança de que este combate o bolsonarismo. Nunca na história, contudo, essa política deu certo. O que o MES está fazendo é fortalecer o Estado capitalista, um instrumento brutal de repressão aos trabalhadores. Este mesmo Estado irá aplicar os mesmos métodos de perseguição com muito mais dureza contra a esquerda.




