O texto de Mariana Luz no jornal Poder360 intitulado As telas que ameaçam as primeiras infâncias apresenta a tese calhorda de que os problemas da educação e do desenvolvimento infantil são uma questão de “mau hábito”. Essa é a velha tática da burguesia: culpar os indivíduos para desviar o foco da falência do sistema capitalista.
A autora, uma executiva, usa dados para dar uma falsa aparência de seriedade. Ela cita que “78% das crianças [de 0 a 2 anos] passam, em média, duas horas por dia conectadas” e que “94% das crianças de 4 a 6 anos ficam, em média, 3 horas por dia”. Mas, em vez de analisar as causas disso, ela opta por um caminho simplista e moralista, ignorando as condições de vida da maioria da população.
A autora, em sua bolha, sugere que a solução é “priorizar a conexão humana, as interações reais, profundas”. Será que ela é tão preocupada assim com o ser humano quando o assunto é a Palestina?
O texto soa como se os pais fossem preguiçosos ou irresponsáveis, preferindo dar o celular aos filhos a brincar com “blocos, bonecos e carrinhos”. Mas a realidade é outra. A esmagadora maioria das crianças brasileiras enfrenta problemas muito mais graves do que o tempo de tela: a fome, a falta de saneamento básico, a ausência de acompanhamento médico e a educação pública de péssima qualidade. O que a autora e o Poder360 não admitem é que o problema não é a tecnologia, mas a sociedade que força os pais a trabalharem em jornadas exaustivas, em subempregos, sem tempo nem dinheiro para oferecer aos filhos o mínimo de dignidade.
É a falta de creches, a destruição das escolas e a ausência de espaços de lazer que empurram as crianças para o celular, e não a preguiça dos pais. A autora, que confessa “enfrentar o desafio de dosar o meu próprio uso do celular” e “policiar” o seu tempo, esquece que a maioria dos pais não tem a mesma liberdade que ela.
Mas essa cruzada contra a tecnologia não é apenas sobre a infância, mas sobre o controle da juventude. O celular e a Internet não são o problema, mas as ferramentas que a juventude tem para se politizar e se organizar. É por isso que a burguesia tenta desmoralizar o uso das telas, para justificar uma campanha de controle da juventude.
Os jovens são o setor mais dinâmico e rebelde da sociedade, e se radicalizam rapidamente. O exemplo maior disso é a crescente defesa da causa palestina, onde a juventude, através das redes sociais, tem acesso a informações que a grande mídia esconde e se indigna com a barbárie promovida pelo imperialismo.
A cruzada da burguesia contra o uso de celular na infância e na juventude não é por preocupação com a saúde mental, mas por medo da politização. É a tentativa de domesticar a juventude para que ela não se organize contra o imperialismo.




