O envio de navios de guerra para a costa da Venezuela, bem como as declarações agressivas feitas contra o governo de Nicolás Maduro, representa uma grave ameaça do imperialismo norte-americano à América do Sul. Ainda que não esteja claro o objetivo final do governo dos Estados Unidos, a escalada de tensões pode acabar levando a uma intervenção militar direta no subcontinente.
O que é espantoso é que, diante disso, o governo brasileiro praticamente não se manifestou. Embora Celso Amorim, assessor especial do presidente da República, tenha criticado a decisão dos Estados Unidos, não há um protesto real. O Ministério das Relações Exteriores sequer emitiu nota sobre o caso. O presidente Lula, com todas as limitações que hoje o seu governo tem, poderia ter convocado uma reunião com outros governantes da América do Sul ou ter denunciado o caso na Organização das Nações Unidas (ONU). Mas nem isso foi feito.
A apatia descascara a propaganda que o governo Lula está fazendo de que estaria defendendo a soberania nacional no caso do “tarifaço” promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As tarifas, em si, não são um ataque à soberania, porque cada país impõe a tarifa que achar melhor, mas a tentativa de interferir na política brasileira é obviamente uma ingerência indevida dos Estados Unidos sobre o Brasil e deve ser denunciada. No entanto, em comparação com o que ocorre na Venezuela, o ataque à soberania brasileira é muito pouca coisa.
A questão é que não é possível defender a soberania do Brasil sem defender a soberania de um país vizinho diante de uma ameaça tão grave. Afinal, trata-se do mesmo inimigo em comum.
Se o imperialismo foi minimamente vitorioso em sua pressão sobre a Venezuela, a pressão sobre o Brasil aumentará exponencialmente. A eventual derrubada do governo Maduro, por exemplo, isolaria o governo Lula em qualquer medida nacionalista. Da mesma forma, a presença de tropas norte-americanas em um país vizinho facilitaria uma rápida infiltração no território brasileiro.





